O sucesso de Crash nos tempos de PlayStation 1 tinha chegado a um ponto de formar uma tradição: Todo final de ano tínhamos um título da franquia para comprar e, curiosamente, nunca nos decepcionava, fugindo totalmente da imagem de “série caça-níquel” que alguns games de sucesso acabam recebendo.

Os desenvolvedores da Naughty Dog, neste terceiro e (até aquele momento) último título do Bandicoot que deveriam fazer para a Universal, resolveram inovar com inúmeras mecânicas inéditas, sem medo de fugir da lógica dos “plataformas” e fazendo, assim, o mais divertido jogo da trilogia clássica (na opinião deste que está escrevendo).

Capa do jogo destacando a presença da inédita mecânica da moto.

Crash Bandicoot 3: Warped é um jogo do gênero plataforma, desenvolvido pela Naughty Dog e publicado pela Sony Computer Entertainment. Lançado, inicialmente, para PlayStation 1 no dia 31 de outubro de 1998. No ano de 2017, esteve presente na coletânea (remake), Crash Bandicoot: N’ Sane Trilogy, para as plataformas Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One e PC. Abaixo segue seu trailer.

Curiosidade 1: Como já imaginado, visto o sucesso de seus antecessores, com Crash 3 não foi diferente. Com cerca de 7.13 milhões de unidades vendidas, ficou com o posto de 7º título mais vendido do PlayStation. Valendo, aqui, destacar que este jogo recebeu o prêmio platina, dado àqueles que ultrapassam a marca de 1 milhão de unidades vendidas em solo japonês.

Quanto a crítica, não faltaram elogios, como sites IGN e Gamespot dando notas 9.1/10 e 8.9/10, respectivamente. No site Metacritic, que reúne diversas avaliações, temos 9.1/10, como média dos críticos, e 9/10 entre seus jogadores.

Obs: Recomendamos que sejam lidos os artigos de Crash Bandicoot 1 e 2 já publicados, anteriormente, aqui na Gamer Point. Assim haverá uma melhor compreensão dos detalhes e inovações deste título.

Bastidores

Jason Rubin e Andy Gavin.

Após o lançamento de Crash Bandicoot 2 seus desenvolvedores, Andy Gavin e Jason Rubin, saíram em “turnê” pelo mundo anunciando o novo jogo do mascote enquanto sua equipe tirava umas merecidas férias. Porém, inevitavelmente, a sequência da série deveria ter um começo já que a previsão era que deveria estar no mercado antes do fim daquele mesmo ano, 1998.  Assim, em janeiro, todos já estavam comprometidos a levar o projeto adiante.

A preocupação aumentava pois ambos desenvolvedores estavam extremamente satisfeitos com o sucesso da segunda aventura e não sabiam o que poderia ser feito para que a série continuasse a inovar. O pior é que na melhor das hipóteses teriam 10 meses para terminar o jogo. A conclusão foi bastante ousada e Andy Gavin, junto de outros dois programadores (Greg Omi e Stephen White) resolveram criar três “engines” completamente inéditas com objetivo de apresentar novas mecânicas que iriam fazer parte deste novo mundo que faria parte da franquia. Estes esforços acabaram formando as inéditas fases do Jet-ski, moto e avião.

A nova mecânica do avião foi a que mais impressionou.

O incrível dentro do desenvolvimento de Crash 3 está no fato de que, além das novas “engines” possuírem mecânicas inéditas acrescentadas à formula clássica, há acréscimos na já existente, como as fases subaquáticas, poder montar em um filhote de tiranossauro rex (fazendo clara referência ao Yoshi de Super Mario World) e uma vasta quantidade de animações para o protagonista, principalmente quando morre durante a aventura.

O que demonstra que organização e foco é capaz de gerar grandes frutos, mesmo quando o prazo é pequeno e há um aparente bloqueio criativo. O resultado foi mais um título de sucesso que chegou ao mercado em outubro daquele ano, conforme dito anteriormente.

Olhem o sapo durante a animação de nossa morte. Está entre as mais interessantes.

Após lançado, em entrevista, Rubin descreve o motivo de, apesar das novidades, ainda dois terços do jogo serem semelhantes aos dois primeiros títulos da série. “Voltamos com dois terços do jogo no estilo dos estágios clássicos porque Crash 2 e 1 são o segundo e terceiro melhores jogos de plataforma da geração” (referindo ao Super Mario 64 como o melhor). Uma afirmação um pouco desumilde mas que demonstra mais consideração com o clássico da Nintendo, conforme vimos no artigo de Crash 1.

As fases aquáticas, com ares de Donkey Kong Country, ficaram incríveis.

Curiosidade 2: Nos bastidores da história dos videogames existem boatos que a Naughty Dog, antes de procurar a Sony para ter exclusividade sobre a franquia Crash, chegou a entrar em contato com a Sega da América em busca de incentivo na produção do primeiro título em troca do domínio do jogo para Sega Saturn (vale lembrar que o Mega Drive recebeu o jogo Ring of Power do estúdio).

Na ocasião, aparentemente, a Sega recusou o acordo, provavelmente pelas semelhanças de personalidade e enredo, quando comparado com seu mascote. Caso isto for verdade, é mais uma daquelas decisões altamente questionáveis por parte da empresa do Sonic em meados dos anos 90.

Outros detalhes da origem do personagem, que ainda não foram tratadas nos artigos anteriores, são a origem do seu nome ligada ao fato de quebrar as caixas (“crash” pode ser traduzido como espatifar/colidir) e sua cor ser laranja ter sido escolhido por, além do fato de significar alegria, não haver outros personagens significantes na indústria com esta coloração.

Já imaginaram?

Enredo

Abaixo veremos o enredo de Crash, porém, nada que estrague a experiência de jogo, já que essas informações se referem apenas ao seu prólogo.

O Dr. Nitrus Brio acaba por explodir a estação espacial de Dr. Neo Cortex e pedaços da nave acabam atingindo, acidentalmente, a montanha em que a máscara maligna Uka Uka estava repousando. Uka Uka, que anteriormente havia sido aprisionada por Aku Aku, fica altamente enfurecido com Cortex por ter perdido todos cristais mágicos nas aventuras anteriores e, devido a isto, convoca Dr. N. Tropy como reforço.

O início de mais uma grande aventura.

O Dr. N Tropy é um gênio da física e consegue construir uma máquina do tempo capaz de ir até os locais em que os cristais estavam originalmente. Cabe aos nossos heróis chegarem aos cristais antes dos vilões e impedi-los de dominarem seus poderes. Graças a este enredo, novamente não muito original, os protagonistas vão passar por locais como pirâmides do Egito, época dos dinossauros, o futuro, entre outros.

Pode ser clichê, mas viagens no tempo permitiram os mais variados cenários nesta terceira aventura.

Curiosidade 3: Crash já tinha virado tradição no fim de ano para os consumidores de PlayStation, assim como seus comerciais. Abaixo veremos alguns deles, incluindo um com detalhes dos bastidores.

Neste primeiro vemos a relação com as fases aquáticas:

No seguinte sua ligação com as fases envolvendo aviões:

No próximo temos referências a fases de moto:

Abaixo um vídeo com bastidores dos comerciais:

Personagens

Como de costume, os personagens de Crash seguem o estilo carismático da série. Entre as principais novidades está a possibilidade de, finalmente, podermos controlar a irmã do protagonista, Coco Bandicoot. Entre os antagonistas, temos o retorno de Dr. Neo Cortex, Dr.N Gin e Tiny Tiger, enquanto dois inéditos são apresentados: Dingodile e Dr. N Tropy. Aqui iremos abordar sobre três destes vilões para, assim, não exagerarmos nos sploilers.

Tiny Tiger: O ainda não extinto tigre da tasmânia volta como primeiro chefe. Naturalmente era um subordinado de Nitrus Brio, porém, com o desaparecimento de seu mestre acaba unindo-se ao Cortex. Aqui sua batalha ocorre em uma arena de gladiadores da Roma Antiga. Com o auxílio de leões e um tridente, sua batalha necessita apenas um pouco de atenção para ser vencida. Como de costume, cuidado com seus grandes pulos.

Tiny Tiger.

Dingodile: Considerado, por muitos, como o chefe mais popular de Crash 3. Dingodile é uma fusão entre um Dingo (um tipo de canino selvagem australiano) com um Crocodilo. Infelizmente as fontes não são precisas quanto ao fato dele ter sido criado por Nitrus Brio ou Neo Cortex. Aparenta ser um personagem realmente maligno já que Crash impede que ele queime um pinguim, aparentemente, sem razões.

Sua batalha é bastante interessante, atacando com um lança-chamas enquanto se defende com ajuda de uma barreira de cristais. Como de costume na franquia, basta um pouco de paciência e atenção que não será difícil derrotá-lo.

Dingodile.

Dr. Nefarious Tropy: Este cientista é o criador da máquina do tempo (Time Twister Machine) e um amigo de longa data da máscara maligna Uka Uka, sendo convocado por esta para ajudar na coleta dos cristais. Sua batalha é bastante interessante, com ondas de energia que devemos evitar e plataformas que utilizamos sabiamente. É do tipo que não tem muito fôlego e esperamos o momento em que fica cansado.

Dr. N Tropy.

Curiosidade 4: Como vocês lembram nos artigos anteriores da franquia Crash, o acordo que a Naughty Dog tinha feito, inicialmente, com a Universal Interactive Studios envolvia uma trilogia. Acontece que, como poderíamos imaginar, o sucesso da série fez os cofres encherem e um quarto título foi requerido.

Assim nasceu Crash Team Racing no PlayStation 1 (que também recebeu seu respectivo remake recentemente), marcando a despedida do estúdio junto ao carismático personagem. Este título, de grande qualidade, teve sua fonte de inspiração em Mario Kart 64 e Diddy Kong Racing, grandes sucessos do gênero corrida presentes no console concorrente. Quem sabe um dia ainda receba um artigo para ele aqui na Gamer Point. O jogo merece.

Análise Técnica

Em seu gameplay temos, além da fórmula clássica já abordada nos artigos referentes aos jogos anteriores, algumas totalmente inéditas: como as fases de moto, em que devemos vencer corridas no asfalto; as de jet-ski, nas quais, controlando Coco, temos cenários amplos em que há uma liberdade de locomoção ainda não vista na série; e as de avião, que representam as maiores surpresas, controlando um biplano em combates aéreos.

Aqui também vemos a montaria de dinossauro, as fases subaquáticas e as de corrida automática, que agora envolvem o filhote de tigre Pura.

A versão japonesa de Crash 3 possui suporte ao acessório PocketStation, possibilitando jogar alguns minigames. Nada indispensável.

A jogabilidade continua com a qualidade dos títulos anteriores, sendo que a maior novidade está no fato de novas habilidades serem adquiridas a cada chefe derrotado. Como uma super barrigada, pulo duplo, uma corrida, um spin de longa duração e, principalmente, a bazuca de frutas, totalmente inesperada em um jogo de plataforma. Fora isto, somamos as habilidades dos jogos anteriores.

Os gráficos estão entre os melhores vistos no PlayStation 1, conseguindo aumentar o número de detalhes dos cenários e animações do protagonista, assim como trazer etapas amplas ainda não vistas, como nas fases de jet-ski e avião.

A Bazuca de frutas chamou atenção.

A dificuldade é a menor da trilogia clássica, sendo facilmente vencido por aqueles veteranos na série e em jogos de plataforma. Claro que se o jogador quiser atingir os 100% a conversa será diferente e o desafio consideravelmente maior.

O Tempo de duração de Crash 3 é breve, envolvendo umas 8 horas quando jogado pela primeira vez, podendo ser estendido caso o jogador busque pelos 100%. O fator replay é ligado àquele que queira completá-lo totalmente, o que provavelmente pode acontecer, visto que as fases dos mundos secretos são habilitadas com as relíquias que coletamos durante a campanha.

Comparação gráfica entre a versão original e seu recente remake.

A diversão é enorme devido à variedade de diferentes formas de jogo presentes durante a aventura. Todas fases nos fazem ter a sensação de conhecer algo novo e imaginar como serão as próximas. Características marcantes que nos fazem lembrar do clássico Battletoads. Infelizmente isto pode não agradar os mais puristas com relação aos jogos anteriores.

A trilha sonora mantém a qualidade dos antecessores e é assinada pelo estúdio Mutato Muzica e pelo compositor Josh Mancell, combinando bastante com os climas variados que este jogo nos apresenta. Quanto aos efeitos sonoros, igualmente merecem os elogios. Abaixo temos a trilha completa de Crash 3.

Curiosidade 5: Crash ainda teve aventuras no PlayStation 1 e além, mas realmente, a sequência verdadeira de Warped está para chegar no dia 02 de outubro de 2020. Aparentemente a raiz da franquia está presente, além de mecânicas inéditas; referências aos anos 90 e a possibilidade de jogarmos, até mesmo, com o vilão Dr. Neo Cortex.

Vídeos de seu gameplay foram divulgadas e a qualidade do título parece que vai impressionar. Abaixo segue o trailer de Crash Bandicoot 4: It’s About Time (“já era hora”, realmente), só esperarmos mais um pouco.

Conclusão

Crash Bandicoot 3 marcou o fim da Naughty Dog à frente da franquia principal do personagem. Este resultado de sucesso não apenas gerou o excelente spin-off Crash Team Racing, exclusivamente para o console, como fez a Sony se interessar no estúdio a ponto de comprá-lo no ano de 2001.

Por sua vez, no ano de 2004 os fundadores do estúdio, Andy Gavin e Jason Rubin, deixaram a empresa, e assim novos nomes de destaque na indústria surgiram, como Bruce Straley e Neil Druckman, responsáveis por sucessos dos níveis de Uncharted e The Last of Us.

Vida longa ao estúdio Naught Dog e que este seja um bom retorno para a franquia Crash. Ah, e que suas aventuras sejam mais frequentes a partir de agora.

Nota
Geral
9.0
crash-bandicoot-3-warped-inovacao-no-fim-da-trilogia-classicaCrash Bandicoot 3: Warped é o último capítulo da trilogia clássica desta franquia de sucesso. Sua principal marca está na presença de inovações em sua jogabilidade, como a presença do avião e da moto.