Ultros é um jogo peculiar com elementos roguelite em estilo Metroidvania repleto de cores e loops. O título desenvolvido por Hadoque, possui uma série de clichês acompanhado de um sistema de apoio com base na natureza, envolto em estilo artístico psicodélico. Implementado em um conjunto de ideias engenhosas e um sistema de progressão que pode assustar ou encher de alegria jogadores, vale a pena se aventurar por essa jornada?

Um cenário original

Esqueça tudo que você viu antes no mundo dos jogos. Agora, você será apresentado ao Sacórfago, uma paisagem colorida alienígena original e deslumbrante, lar de um demônio chamado Ultros. O misto de elementos bizarros transformam o jogo em uma obra de arte com vida e interatividade, repleta de representações estranhas de criaturas, sejam elas aliadas ou inimigas, em um mix de ciclo vicioso. Ultros constantemente desafia jogadores em um sistema progressivo singular, onde sentimos nosso progresso e ao mesmo tempo, distante dele, sem saber exatamente quanto tempo temos para terminar, após encontrar novos caminhos.

Enfrente um chefe, retorne ao início e um novo loop começa. Continue adiante e outro chefe surgirá, contendo novos níveis e ramificações posteriores. Exploramos os locais ou retornamos ao ponto desejado? Tudo depende única e exclusivamente do desejo de exploração do jogador. Projetar esse mundo, contendo tantas ramificações não foi fácil. Assemelha-se a um labirinto de enorme proporção, repartido em várias seções, muitas delas sem acesso inicialmente, até que novas habilidades estejam desbloqueadas. Nossa jornada começa com Ouji, um samurai que surge dentro do Sacórfago. Ouji pula, corta, desliza, utiliza habilidades adicionais, movimentos conhecidos do público gamer, sem grandes ambições ou características diferenciadas.

Caminhos tortuosos

O mapa realmente é útil, não está ali como mero enfeite e marca alguns dos locais que ainda precisam ser explorados, no entanto, frequentemente me perguntava se estava seguindo pelo caminho certo. No início, nada faz sentido. Nada! No entanto, com o passar do tempo, o sentido ajusta-se e o Sacórfago libera seus segredos. Desbloqueando nossas habilidades no Cortex e conseguimos acesso as áreas antes inacessíveis, várias possibilidades surgem e finalmente encontramos o sentido exato que devemos seguir.

Ao longo de nosso caminho, batalhamos com seres (ou organismos) agressivos e coletamos suas partes que possuem quatro categorias diferentes, representadas por cores, consumidas por nosso personagem, que vão desde tentáculos, passando por vísceras, que fornecem saúde ou itens associados as habilidades. Efetuar ataques no inimigo de forma desproporcional, resulta em um item de consumo com menos “poder” nutritivo, eliminando através de combinações mais específicas, um item de consumo mais nutritivo surgirá. Acessamos o Cortex através de uma espécie de pod, que serve como ponto de salvamento. Comer mais partes, resulta em acesso a mais habilidades, sendo desbloqueadas no processo.

Os confrontos contras os chefes são emocionantes e equilibrados, proporcionando um belo desafio sem a dificuldade de um jogo com pretensões Souls. Um design horrível e ao mesmo tempo deslumbrante brilha nesse momento, até mesmo no auge de um confronto e uma explosão de vísceras pulando na tela. Continua confuso? Ainda tem mais…

Desafios em diferentes camadas

Nem tudo é perfeito em Ultros. O combate é um deles, com chutes aéreos e alguns combos não tão precisos. Tente acertar determinadas criaturas voadoras com um golpe mais próximo e deve passar por alguns momentos irritantes. A ação em combate, embora divertida, atinge um limite eventualmente, e pode desapontar aqueles que buscam por um combate mais generoso e exigente, ficando reduzido ao patamar de um combate facilitador. Os níveis estão cheios de segredos e eventuais surpresas, como jardins para o plantio de sementes, se transformando em lindas árvores e plantas ou o plantio entrega um item especial. Preste sempre bastante atenção para encontrar esses locais com jardim, pois ajudam bastante nos próximos níveis.

As distâncias entre as flores, observadas no cenário do Sarcófago de Ultros , devem ser medidas e planejadas com antecipação e é aqui que o uso do mapa torna-se fundamental. Ele é necessário para o rastreio de possíveis criações, crescimento de plantas, áreas conectadas e outros elementos, com cada planta cultivada visível em detalhes finos. Você passará boa parte de seu tempo observando o mapa, percorrendo ambientes de frente para trás, de trás para frente, traçando seus níveis.

Paleta de cores vibrantes

O choque visual é algo constante em Ultros, contendo uma paleta de cores vibrantes, com vários detalhes em cada canto da tela, em um mundo convidativo e perturbador. O mundo criado, é de responsabilidade de El Huervo (Hotline Miami) e possui marcos memoráveis, além de beleza sobrenatural maravilhosa. Apesar de toda beleza, o mundo tão rico pode confundir sobre o que pode ser destruído ou é apenas parte do cenário, soando confuso, entre inimigos estáticos e algumas plantas objetos de interação, contra o cenário também repleto de elementos que soam como inimigos, algo que pode afetar a jogabilidade em alguns momentos.

Associado ao visual, temos uma trilha sonora cativante, composta por Oscar Ratvader Rydelius, que eleva a atmosfera do jogo, repleta de sons da natureza, elementos de instrumentos clássicos e sons oriundos do Peru e a história da Amazônia. Além deles, possui inspirações do arquipélago sueco de Bohuslan, em uma jornada meditativa que embala personagem e criaturas.

Personagens singulares

Ultros e seu mundo engloba vários NPCs. Alguns amigáveis, outros pronto para o confronto. O destaque, em minha humilde opinião, é Gardner, um horticultor, primeiro rosto observado no início de cada ciclo, sempre disposto a educar pacientemente sobre o potencial mágico do cultivo da vida vegetal no Sarcófago. Além disso, Ouji aprende a semear, desenterrar sementes, replantar, nutrir com composto e até mesmo a união de diferentes espécies, criando plataformas de maior alcance e conectando grandes áreas, desbloqueando barreiras com a energia conectiva das plantas. Nesse ponto observamos o real objetivo de Ultros, o seu ecossistema em constante transformação.

Da mesma forma, infelizmente, Ultros possui uma variedade pequena de inimigos, reduzindo significativamente a quantidade de desafios e combates únicos que poderiam existir nesse cenário tão exótico. Outro ponto fraco é a escassez de recursos que são essenciais para a retenção de habilidades através dos loops temporais, exigindo mais exploração e aumentando a dificuldade e término do jogo.

Vale a Pena jogar Ultros?

Ultros é fantástico e preenche muitos requisitos desejados em um jogo Metroidvania. Possui um estilo de arte que é digno de elogios, original, composto de tons deslumbrantes , apesar da confusão visual inicial que o jogo causa. Os níveis e suas ramificações implementam e entregam possibilidades, misturando elementos ambientais e habilidades em uma mecânica ousada. No entanto, o sistema de looping pode desagradar jogadores que fogem desse tipo de jogo, afetando frequentemente seu progresso e quebrando o ritmo de gameplay. É um título que, com o tempo em jogo, demonstra o ápice da maleabilidade criativa e caótica precisa, sempre experimentando e fornecendo meios estranhos e ousados de mecânica e jogabilidade. Misture-se e deixe-se levar pelas cores vibrantes de Ultros, será uma viagem, realmente, psicodélica!

Por fim, a Kepler Interactive concedeu key para o teste do jogo no PS5.

Nota
Geral
9.0
ultrosUltros é um indie de destaque dentro do gênero Metroidvania, com narrativa imersa em loop temporal, cores, um inovador sistema de exploração o que torna a experiência envolvente. Seu combate acessível atrairá jogadores experientes e novatos em busca de um universo único e criativo.