O terror já foi elemento de tantas obras, acho que não existe pessoa no mundo que não tenha visto algo relacionado ao gênero, seja um livro, filme e até músicas (vide o álbum Hell Awaits, da banda de metal Slayer), esse gênero que foi feito para despertar o medo nas pessoas curiosamente atrai alguns para suas obras.

Sou um entusiasta de qualquer coisa que envolva histórias de terror e os jogos são obras que ao meu ver funcionam um pouco melhor do que outras nesse tema, já que controlar o personagem aumenta a sensação de perigo e imersão.

Mas como em todas as obras, games de terror não estão livres de títulos que não só deslizam, mas despencam em erros que fazem todo o trabalho perder os melhores elementos presentes no todo.

H. H. Holmes, o cramunhão

The Devil in Me é mais um capítulo da saga de jogos de terror The Dark Pictures, uma antologia focada em jogos narrativos, sua essência vem de histórias simples e recheadas de jump scare, na trama de The Devil in Me, o escolhido da vez é H. H. Holmes, uma figura real que foi preso por ter cometido assassinatos nos anos 1895, segundo o próprio Holmes, ele tirou a vida de 27 pessoas, mas confirmado foram apenas 10, e mesmo depois do julgamento, seus feitos horríveis foram ditos como ficcionais.

O jogo inicia com um casal indo para o hotel que Holmes usava como armadilha, com a desculpa de servir de hospedagem para a feira que ocorria na cidade, após jogar o game e vendo as fotos do local real, são idênticos, praticamente uma retratação fiel da lenda que assolou aquele local.

A jornada do casal está nas mãos do jogador como o destino de todos os outros, ponto clássico da saga, o começo parece ter saído de um episódio daquelas séries de qualidade duvidosa, desde o primeiro jogo da temporada ficou claro que o foco não eram gráficos lindos e realistas, mas uma história de terror para ser acompanhada, colocando na conta do jogador os destinos (por vezes cruéis) dos protagonistas.

Como um conto de terror, The Devil in Me é ok, e talvez fosse melhor se fosse outra obra e não um vídeo game, como citei no começo deste singelo texto, o elemento principal pode ser completamente perdido quando o resto é mal trabalhado.

E não tem como focar apenas na narrativa, quando a gameplay está repleta de bugs, alguns que tendem a frustrar tanto o jogador, que tira toda atmosfera de medo que tentaram construir, isso não ocorre apenas uma vez, é literalmente durante todo o jogo, tornando a jornada cansativa e decepcionante nos primeiros capítulos.

Se o game tivesse sido um pouco mais polido, o que já foi provado ser possível em obras passadas da desenvolvedora, ele seria minimamente mais agradável, parece que virou mais uma daquelas máquinas de lançar jogos todo ano para ter algo para vender, enquanto desperdiçam ideias boas o suficiente para terem obras marcantes, mesmo que fosse apenas para os fãs do gênero.

Os erros do jogo são tantos, que você tem apenas uma opção, ignorar e ir até o fim para ver até onde vai, ou ficar reclamando de dois em dois minutos, é problema de textura, controles que não respondem, os bonecos retorcidos e se transformando em uma massa quase monstruosa (o que ironicamente combinou com o tema), expressões faciais que só funcionam quando os personagens estão na mira do assassino e olhe lá.

Após a intro e apresentado o vilão, descobrimos que agora existe um local que serve como uma espécie de show dos horrores, uma réplica do castelo onde os crimes ocorreram, uma equipe de TV precisa salvar seu programa da falência e aceitam um convite para gravar uma espécie de documentário sobre casos reais, e a ilha é a melhor opção para isso.

A trama vai nos jogar em muitos ambientes diferentes, todos remetendo obras de terror, já que certas coisas são muito difíceis de se distanciar, o cenário é um deles, diria que o principal.

Florestas, casas de madeira, cabanas, casas do lago etc. Só de ler esses elementos dois ou mais filmes brotam na mente, as texturas parecem bonitas, exceto quando elas aparecem borradas e esperam para renderizar.

Digamos que esse é um dos (poucos) pontos fortes do jogo, é de fato uma atmosfera amedrontadora, com lugares escuros, janelas que espreitam e bonecos eletrônicos velhos que brotam e nos fazem pular nas cadeiras com o coração acelerado.

É possível que quem vá jogar tenha certa bagagem com filmes de terror, esses que aqui são referenciados aos montes, Psicose e O Iluminado gritam por cada canto das cenas e há espaço para Jogos Mortais em determinados trechos.

O vilão do jogo é outro ponto negativo, ele é simplesmente mal trabalhado e não me entendam errado, mas um bom vilão eleva o grau da trama, ele não passa a sensação de personalidade necessária para criar um tom de ameaça, foi apresentado de maneira simplória, não há interesse de saber quem ele seja, não existe sequer um temor.

Isso pode ser fruto do salto temporal que a história sofre, se tivessem seguido na época do Holmes, creio que seria um pouco mais instigante de saber o desfecho por trás de toda aquela bizarrice.

O Diabo está nos detalhes

Se por um lado o jogo erra e se perde, existem momentos de respiro para valer a pena toda a jornada (ou não), que são as tentativas e falhas em salvar cada um dos que vão até a ilha, e podemos fazer escolhas que irão resultar na sobrevivência de todos, ou o contrário (seguindo minha tradição com a série, não sobrou um), a tensão está toda nas sequências em que temos um tempo limitado para escolher se corremos, nos escondemos ou confrontamos.

Essas e outras das alternativas que são a base do título, e não podemos dizer que aqui é algo que não dá certo, pois quando as escolhas encontram as premonições, tudo muda, já que agora iremos ter um ambiente em específico gritando na nossa cabeça, e quando chega a hora pode ser que seu plano não seja o melhor para salvar seu companheiro, ou salvar a si.

Se pudesse escolher um estilo para a saga se inspirar ainda mais (pois custo acreditar que já não o tenha feito) seria o dos jogos da Telltale, pois se é para ter uma narrativa, que seja uma que não permita que o jogador saia do “mundinho” do game, uma obra com essa abordagem não pode permitir que isso ocorra, ainda mais por tantas vezes.

Mesmo após um desfecho cruel, as execuções dotadas de certa violência gráfica, com alguns momentos verdadeiramente angustiantes, o jogo deixa tudo isso de lado em apostar no simples, sem algo que de fato lhe surpreenda, quando juntamos isso com os bugs o que fica é uma sensação de tempo desperdiçado, se é terror, o mínimo é jogar com todos os sentidos ligados no máximo esperando aquela cena pra tirar seu sono.

E The Devil in Me provoca isso somente em seus minutos iniciais, quando ainda não miramos no que realmente vai incomodar, falta de ritmo na trama, personagens que possuem o carisma de um chapéu, contribuem para o que de fato vai assustar, ter que terminar a obra e ver mais daquele trabalho que parece inacabado.

Como se não bastasse, como já é padrão da série, o jogador ainda é convidado a rejogar, para assim poder ver mais finais, e tentar salvar todos da ameaça, e aos que voltam para o menu e desejam clicar mais uma vez em novo jogo, meus parabéns.

Para cada capítulo, existe algo que me fez quase desistir, em um deles, o que talvez tenha me deixado mais frustrado, o personagem fixou seu olhar em um objeto que estava em um outro cômodo, o que fazia ele mover a cabeça e a lanterna na direção do local, isso não seria um problema se o ambiente tivesse como fonte de luz a lanterna e somente ela.

Andar pelo lugar era quase impossível, uma tarefa que me forçou a aumentar o brilho, até que eu achasse o caminho. E durante as partes importantes, elementos que deveriam seguir com a gente, ficavam flutuando, em certas partes eles se multiplicavam, algo que fazia tempo não via em um game que possui uma fama considerável.

A movimentação dos personagens é outro grande teste, além de ser algo que não evoca nenhum aspecto para parecer algo bem-feito, ela trava em locais que precisam ser acessados com rapidez, isso quando a animação não manda o personagem para um canto que é impossível de sair, nesse caso o que resolve é recarregar o jogo.

Por mais que eu ache que o jogo possa agradar os fãs do gênero, fico no dever de aconselhar talvez que você aguarde, talvez ver uns vídeos para tirar suas conclusões, se essa análise não convencer, mas se você gosta de obras com sustos e mais sustos, desfechos simples e com mortes horrendas, talvez você se divirta bastante.

Esta análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Bandai Namco Entertainment, agradecemos pela confiança em nossa equipe.

Nota
Geral
6.0
the-devil-in-meCom uma história desinteressante, personagens desprovidos de carisma, bugs e gameplay problemática, The Devil in Me assusta muito, mas não marca em nada, talvez seja a hora de repensar o futuro da série.