Os jogos por vezes são julgados por simplesmente não parecerem os grandes títulos repletos de ação, roteiros bem elaborados e mensagens duras para os jogadores, isso quando eles são julgados sem mesmo o crítico ter jogado pelo menos trinta minutos da obra, e se tem uma coisa que eu aprendi com 2022, pelo menos no que se diz respeito analisar jogos, foi nunca duvidar do poder que uma obra menor tem, mesmo que tenha visto isso em alguns indies, jogos como Hazel Sky e Winter Ember me provaram que há algo mais importante que lindos gráficos.

The Outbound Ghost foi lançado há um certo tempo, mas isso não importa para o site que você está acessando agora, um jogo que poderia ser facilmente chamado de “jogo de criança” ou “jogo para celular” por quem quisesse diminuir a obra de algum jeito.

Mas a cidade de Outbound reserva mais que uma aventura de rpg por turno com a roupagem de Paper Mario, é quase que um exercício de imaginar como seria se nem tudo fosse resolvido em vida, se nosso descanso eterno fosse atrapalhado, uma cidade fantasma com mistérios além vida.

Do Outro Lado da Vida

Para um simples jogo, é necessário ter pelo menos uma boa história, quando o jogo começa é quase que automático imaginar que seremos levados em uma narrativa simples e infantil, e conforme vamos admirando a direção de arte, sabemos que de fato é um jogo que pode ser facilmente consumido por crianças, cores expressivas e os jeitos engraçados dos fantasmas arrancam a empatia até mesmo de adultos.

Mas quando levamos o pequeno fantasma sem nome para o coração da cidade, vamos descobrir que a trama tem mais a oferecer do que a gente achou no começo, para começar, as definições para cidade fantasma foram atualizadas, aqui é literalmente uma cidade fantasma, pois todos que estão ali perderam suas vidas de maneira trágica e não seguiram para o descanso por ficarem presos no mundo, sejam por não aceitarem, seja por não entenderem que não possuem mais a obrigação com seus deveres da vida passada.

E isso obviamente é uma interpretação muito pessoal, nosso personagem não possui voz, quer dizer, quase todos não possuem, os diálogos são feitos por textos escritos em balões, e esse é a única forma que vamos ter de acompanhar a história, iremos colocar um nome no personagem, já que ele não se lembra (ou pelo menos essa é a premissa) de como ele morreu e foi parar em Outbound, então é como se a gente também compartilhasse dessa amnésia, mesmo que obrigados a isso.

E durante o caminho, vamos descobrindo que assim como em uma sociedade de pessoas vivas, existem outros seres que querem atrapalhar nosso caminho, sendo assim, iremos enfrentar muitos inimigos para poder desvendar todo o mistério.

O que eu acho bastante chamativo, e um dos pontos mais fortes do jogo, é que ele sabe bem que precisa ter o jogador preso na história, seja ela simples como for, então os personagens precisam ser minimamente interessantes, temos como um dos aliados pelo caminho, um fantasma que em vida foi um detetive que não conseguiu prender um criminoso, e isso impede que ele siga o caminha pós vida, e essa trama estará interligada com a do nosso personagem, já que enquanto tentamos descobrir quem somos, a investigação sobre as mortes vai se desdobrando.

Senti falta de um jogo que pudesse apenas entregar uma aventura tranquila, com boas piadas e uma narrativa bem tranquila, The Outbound Ghost vai assim até seu fim.

Cada habilidade possui uma padrão diferente para acertar a barra.

Rpg do outro mundo

Se há uma coisa que eu adoro, seja qual for a obra, é quando essas usam a metalinguagem para referenciar outras artes iguais a que ela é, em It Take Two isso foi usado de maneira fantástica, há também metalinguagem no DLC de The Last of Us entre outros, e em um jogo como The Outbound Ghost, que é um rpg de turno que vai agradar os fãs mais saudosistas (e irritar outros), ele não só usa da metalinguagem, mas entende que é um vídeo game e usa isso para criar uma narrativa extremamente divertida, como quando somos apresentados ao sistema de save, o npc explica o que se faz e avisa que ouviu alguns viajantes chamando aquilo de “salvamento.”

Quando o jogo vai para a parte de exploração, ele é bem simples até, iremos buscar recursos para forjar itens que irão ajudar nas lutas, eles serão acoplados em slots dos nossos aliados, slots esses que podem ser expandidos no decorrer do game, e aqui o rpg vai ganhar força e é necessário entender bem a mecânica, o que será mais fácil para os entusiastas, e complicado aos novatos, isso porque o jogo está inteiro em inglês, entender o que cada status faz e como que ele age exige certa atenção.

Nos acampamentos, vamos achar alguns livros que servem como receitas de itens, na maioria deles são duas opções, mas apenas uma delas pode ser escolhida, após fazer isso, basta ir em uma das bigornas espalhadas pelos mapas.

A progressão de personagem é bem simples.

E não precisa se preocupar caso erre na forja, mais pra frente teremos como reverter o processo e ter os materiais devolvidos.

Durante as lutas, para melhor exemplificar, vai funcionar igual Pokemon, digo isso porque nosso personagem terá outros fantasmas que irão lutar contra os inimigos de acordo com nossas ordens, alguns possuem magias para defesa, buffs que fortalecem um aliado, enfraquecem outros, habilidades especiais, que podem causar dano, cura em área etc.

Antes de cada confronto temos a opção de nos esconder em arbustos, para assim evitar uma luta ou surpreender e iniciar o combate já com o primeiro turno, o que em certos casos pode significar a vitória, começar atacando é sempre melhor, sem dúvidas.

Durante a luta termos os pontos de vida, magia e pontos chamados Aether, esses vão ditar quantas ações teremos quando chegar a vez do personagem, mas para juntar um Aether point extra, é preciso sacrificar uma ação, o personagem irá entrar em modo de defesa, isso é muito bom em certos casos, já que no turno seguinte poderemos atacar duas vezes, curar e atacar entre outras opções.

Queria entender a lógica de poder atacar uma lápide…

Os elementos de rpg seja em batalha ou exploração são bem legais, isso porque o jogo não quer ser um grande título, e precisa apenas divertir, encontramos enigmas fáceis, locais que serão acessados apenas com itens conseguidos mais para frente, para completar e incentivar a exploração, é possível encontrar aliados novos que estão escondidos, e para consegui-los uma árdua batalha é travada, com o que são quase subchefes.

Montar uma boa equipe vai separar o jogador da frustração, é difícil saber o que cada inimigo vai fazer e mesmo na dificuldade normal as lutas podem ser complicadas se não for traçada uma certa estratégia, são quatro combatentes para cada lado, defesa e ataque devem ser equilibradas.

Sem contar que os status mais famosos como maldição, envenenamento e paralisação estão lá e irritam quando são usados contra nosso grupo.

A Cidade Fantasma de Outbound

É normal que um jogo como esse tenha limitações, o personagem não saltar por cima de objetos, que obriga tomar rotas longas e em alguns momentos tediosas, mesmo que depois a gente se acostume com essa simplicidade. É importante dizer que Outbound Ghost é um game que volta alguns anos e preza em ser um vídeo game, e está tudo ótimo, temos empresas que é certo o surgimento dos grandes AAA, mas quando temos algo mais desacelerado no melhor uso da palavra, pode parecer que é falta de criatividade, quando creio que seja exatamente o oposto.

Existem mais fantasmas com a amnésia, um mistério a mais

Entender os motivos pelo qual cada personagem está ali, o que ocorreu com eles é interessante, tudo isso ligado ao rpg de turno que é tão querido pelos fãs do gênero, e anda traz trilha sonoras que lembram os jogos da infância, é complicado indicar um game assim, por mais que tenha caído no meu gosto, hoje em dia toda obra é cobrada ao máximo.

O que eu poderia dizer para quem quer um motivo para jogar, é descansar e fugir dos jogos que invadem nossas mentes e nos fazem pensar sobre eles durante semanas, e como ele está disponível para um dos portáteis mis famosos dos últimos anos, deve ser uma delícia jogar na fila do banco, em uma vagem etc.

Encarnar os fantasmas em busca de um caminho é minimamente divertido, perde por não ter alguns elementos, mas é bom o bastante no que ele apresenta e reapresenta para seu estilo, não é original, mas é honesto, pelo menos isso.

No fim das contas, The Outbound Ghost é um bom rpg que vai arrancar um sorriso aqui ou ali, isso se você permitir, claro, vale uma oportunidade.

Essa análise foi feita com base em uma cópia cedida pela Conradical Games, agradecemos por confiar no trabalho da nossa equipe.

Nota
Geral
6.5
review-the-outbound-ghostEntre os fantasmas da cidade, os elementos de RPG, trilha sonora que remete aos grandes clássicos, metalinguagem e batalhas divertidas, The Outbound Ghost é um bom jogo para passar o tempo e relaxar, sua proposta simples deixa isso claro.