Hidetaka Miyazaki, criador de jogos como Dark Souls e Bloodborne, já possui raízes suficientes para atrair bastante atenção para suas criações. Elden Ring anunciado em 2019 era um dos jogos mais aguardados desse ano, e finalmente a espera teve fim.

Os jogos da FromSoftware costumam afastar aqueles jogadores que querem apenas se sentar na frente de seus consoles e simplesmente desfrutarem de um bom vídeo game, por outro lado, atraem quem gosta de um desafio. As obras de Miyazaki possuem características únicas, como a história rica em detalhes, mas pouco explicada, é possível terminar boa parte de seus jogos sem entender ao menos 50% da trama, motivo que levou a comunidade criar diversos blogs, canais focados na trama, detonados etc.

Apenas com o intuito de explicar as entrelinhas daqueles mundos misteriosos.
No que diz respeito narrativa, Elden Ring é de longe o mais simples de compreender, após sua introdução épica, característica forte da série, despertamos nas Terras Intermédias, agora no papel de um Maculado, com a missão de juntar os fragmentos do Anel Pristino e resolver a confusão no mundo.

Limgrave é deslumbrante
Limgrave é deslumbrante

A saga se renova

Elden Ring conseguiu algo extremamente difícil, mudar drasticamente uma estrutura de jogos que há anos usavam fórmulas semelhantes e mesmo assim manter sua personalidade (parece absurdo eu sei, mas jogando você vai entender), tivemos um vislumbre dessa ideia em Sekiro: Shadows Die Twice, onde o mapa era mais vasto e áreas com uma maior exploração.

Deixando de lado os corredores e mapas ligados por atalhos calculados, Elden Ring traz um mundo que permite o jogador ir para qualquer lugar já em seu começo, confesso que fiquei perdido com tamanha mudança, já que a linearidade dos jogos anteriores estava em minha memória. O título conta também com uma montaria que serve para locomoção e batalhas, algo inédito até então.

No começo do game, somos apresentados ao que seria nossa fogueira, mas dessa vez são focos de luz chamados de “graças perdidas”, o intuito é o mesmo, reabastecer os frascos que regeneram a barra de vida e de magia, subir de nível, organizar o baú de itens, ter acesso aos feitiços (caso sua classe faça uso) e usar a viagem rápida, disponível desde o início da jornada e claro, reviver os inimigos da área. Ao descansarmos nas graças, é possível conversar com Melina, a dama que ajuda na progressão do personagem.

Melina, a mais nova dama do gênero Soulslike
Melina, a mais nova dama do gênero Soulslike

Para instigar a curiosidade do jogador e manter o mesmo motivado em explorar o mapa, Elden Ring contém inúmeros segredos, tudo que os mais experientes em RPG’s já conhecem, dungeons, chefes secretos, emboscada de inimigos, enigmas aos montes, ruínas que complementam a história do jogo etc.

Aqui a fórmula da FromSoftware mais uma vez faz a diferença, pois qualquer deslize e você vai dar de cara com um dragão prontinho para te fazer retornar ao check-point mais próximo. Miyazaki disse que o jogo seria mais “convidativo”, para que novos jogadores conhecessem sua obra, e mesmo assim, na primeira área do jogo há um inimigo extremamente forte, isso parece mais um alerta do que um convite.

Ao morrer em Dark Souls, nossas almas repousavam próximo ao local de morte e deveríamos retornar até lá, se quiséssemos recuperá-las, aqui segue da mesma forma, apenas troque o nome almas por runas, a novidade é a presença de uma bussola que mostra a localização de suas runas, essa faz parte das principais e novas mecânicas que facilitam sua exploração, assim como sua barra de energia que não esgota ao percorrer o cenário, mesmo que você golpeie ou use o mais novo botão de pulo.

Levante-se, Maculado

Um dos inúmeros pontos positivos em Elden Ring é seu combate, as classes podem mesclar entre os clássicos ataques leves e fortes, o rolamento para evitar danos, usar feitiços, milagres e piromancias, porém, diversas opções foram implementadas no quesito combate, agora, as armas possuem habilidades que podem ser equipadas (caso a arma seja compatível) para agregar novos golpes e encantamentos, até mesmo golpes físicos como chutes podem ser inseridos.

Cada arma pode usar apenas uma habilidade, caso seja colocada uma nova, a anterior irá sumir, determinadas armas possuem habilidades que não podem ser trocadas. Além disso, todas as classes já possuem um contra-ataque bastante útil que pode fazer a diferença na batalha contra inimigos mais fortes.

É possível encontrar pelo mapa espíritos guerreiros, todos eles representando inimigos do mapa. Com eles no inventário é possível equipar e invocá-los no campo de batalha, mas é necessária uma grande quantidade magia e existem localidades que não permitem o uso de invocações.

Invocações são muito úteis, principalmente contra chefes.
Invocações são muito úteis, principalmente contra chefes.

O modo multijogador está de volta, podendo invocar até três jogadores para sua sessão, as possibilidades para conexão também são maiores, além das clássicas marcas postas no chão, há estátuas espalhadas pelo mapa que servem para mandar sinais de multijogador, é possível criar salas com senhas, caso queira jogar com um amigo ou conseguir ajuda de qualquer outro. Mas o jogador que for invocado, terá limitação de poções, além dos inimigos ficarem um pouco mais fortes.

Ainda para ajudar durante nossa jornada, é possível encontrar medalhões e talismãs, esses concedem uma bonificação especifica enquanto equipado, ataques fortes podem causar mais dano, aumenta a quantidade máxima de magia etc. Mas geralmente esses equipamentos só são conseguidos ao derrotarmos inimigos perigosos.

Os espectros estão de volta para fazer aquela visita indesejada.
Os espectros estão de volta para fazer aquela visita indesejada.

Grandiosidade é a palavra

Elden Ring é um deleite para os olhos, os títulos anteriores sempre foram exemplo de qualidade visual, mas a nova obra eleva o nível, a ambientação é sublime, com diversas paisagens com cores vibrantes, além de trechos onde as sombras predominam, colaborando para atmosferas mistas e marcantes, existem florestas alagadas, bosques, colinas verdejantes, montanhas, áreas desérticas dominadas por ruínas, e obviamente, pântanos venenosos, e agora existem mais de um, mas para dar uma ajudinha, ao usar a montaria ficamos imunes aos status negativos.

A sensação de chegar em um ponto alto, olhar no horizonte e ver áreas que já passamos está de volta, resultado do estupendo level design. Não poderia deixar de citar a trilha sonora, uma das melhores coisas presentes no título, é incrível iniciar a batalha contra os chefes ao som de um coro lírico e metais estridentes, faz parte da assinatura da franquia, da imersão e da sensação de grandiosidade, a trilha musical da batalha contra o Lord Godrick é fenomenal, nos faz querer deixar o volume sempre alto.

E agora, diferente dos demais jogos do gênero, a trilha musical não está presente apenas nas batalhas de chefes, mas durante toda exploração, e faz total diferença entrar em uma caverna e sentir o tom das notas mudar e se adequar com o clima, em determinados locais, podemos dizer que o gênero terror teve bastante influência.

Cada chefe tem um tema único, que deixa a luta mais emocionante, e o que não falta nesse jogo são chefes, são os principais, os secundários, que podem ser encontrados em dungeons, ou em santuários. E ainda existem chefes que estão andando pelo mapa, você está colhendo seus itens, quando do nada tem que batalhar contra uma árvore gigante.

Novo jogo, velhos problemas

Otimização nunca foi algo forte nos jogos da FromSoftware, quem se lembra da região de Blighttown em Dark Souls, onde o fps caía em níveis catastróficos, ou as batalhas cheias de travamentos em Bloodborne.

Elden Ring lançou com certos problemas nessa parte, a versão que joguei foi de Playstation 5, mas ouvi relatos de jogadores com computadores potentes tendo quedas de frames, no console da Sony, visualizei algumas quedas de frames e problemas de carregamento do cenário, mas depois de sua última atualização, agora ocorrem com menos frequência, mas ainda é possível ver objetos que surgem ao horizonte, ao renascermos o cenário aparece depois do personagem.

O jogo possui uma paleta bem específica de cores

Em batalhas de chefes não presenciei nenhuma queda de fps ou bugs, mas a bendita câmera ainda é um problema, por vezes ela se move até que a visão do protagonista seja perdida, deixando uma confusão imensa, nessa hora o botão de esquiva é massacrado, mas em quase todos esses momentos a derrota é praticamente certa, e isso ocorre muito com inimigos alados, que de longe são os mais complicados de lidar.
Creio que com atualizações futuras o jogo fique livre desses empecilhos.

Honrando o legado

Ser o sucessor espiritual de uma saga como Dark Souls, seria um desafio colossal se fosse feito por outro estúdio, mas nas mãos de Miyazaki sinto que foi como lapidar um diamante que já possuía imenso valor, a trilogia que deixou diversos fãs órfãos se renovou e ganhou um novo sopro de vida.

Elden Ring junta tudo que cativou milhões de jogadores e consolida em um mundo aberto que bebe da fonte de outros jogos, mas o tempero soulslike é seu diferencial, o jogo foi sucesso de crítica, difícil imaginar um lançamento que cause tanto barulho, já é tido como um dos mais fortes para levar o prêmio de jogo do ano, os fãs que sonhavam com o retorno de Dark Souls, podem respirar aliviados, terão horas e horas para apreciar as Terras Intermédias.

Juntar o criador de Game of Thrones no projeto foi um acerto e tanto, o resultado é uma obra densa e repleta de detalhes, talvez a maior desde o primeiro Souls, vai faltar tempo para destrinchar os mistérios dessa trama. George R. R. Martin é um exímio contador de histórias, sua contribuição para a construção do universo veio em excelente hora, e levantou ainda mais os olhares para o jogo. Temos em mãos algo que pode facilmente ser lembrado por anos como um dos jogos mais marcantes do gênero RPG.

 

*Essa análise foi feita utilizando uma cópia do jogo 
disponibilizada pela Bandai Namco, agradecemos por confiar em nossa equipe*
Nota
PONTUAÇÃO GERAL
10
elden-ringElden Ring é uma das jornadas mais épicas que pude ter esse ano no mundo dos games, é envolvente, bela, grandiosa e gratificante. Observar e descobrir os segredos das Terras Intermédias é sensacional, a FromSoftware deixou o que era bom ainda melhor e agregou uma nova camada ao gênero, isso pode indicar uma nova geração de jogos, os verdadeiros sucessores espirituais de Demon's Souls, Darks Souls e Bloodborne, e isso é muito bom.