A indústria dos jogos eletrônicos já superou todo o cinema e a música – combinados. Portanto, não é nenhuma surpresa que o público respeite cada vez mais a qualidade dos videogames como obras artísticas capazes de entreter, emocionar e provocar reflexões, investindo seu dinheiro em hardware e jogos.

Na verdade, enquanto antigamente os jogos eram vistos como atividades para crianças, hoje a idade média dos jogadores está entre os 30 e 40 anos – de acordo com dados recentes da ExpressVPN – ou seja, adultos que precisam encaixar os jogos dentro de seu tempo limitado e de seu orçamento mensal.

No entanto, apesar do tamanho sucesso, os games ainda enfrentam algumas barreiras que os tornam menos acessíveis que mídias tradicionais como uma série de TV ou álbum de músicas e uma delas é especialmente delicada: a necessidade de equipamentos especializados para jogar. Mesmo que tecnologias se tornem mais acessíveis, uma grande parcela dos usuários ainda não seria capaz de compreender os componentes necessários para montar um PC para jogos ou, ainda, justificar o alto valor cobrado por suas peças.

Embora os consoles possam oferecer uma plataforma única pronta para ligar e jogar, pode ser difícil encaixar o valor elevado de um aparelho deste tipo – sem incluir o preço dos jogos – que em alguns anos se tornará obsoleto.

Para resolver esses problemas muitas empresas encontraram no streaming a solução ideal: e se os jogos fossem acessíveis da mesma maneira que um vídeo no Netflix ou uma música no Spotify? Sem hardware especial, sem downloads pesados, sem aquecimento ou problemas de performance – basta abrir e jogar. Essa é a promessa das plataformas de cloud gaming, mas será que em 2023 vale a pena investir em uma assinatura de jogos na nuvem? Confira.

As promessas e desafios dos jogos em nuvem

A premissa de uma plataforma de jogos em nuvem parece simples: ao invés de obrigar o usuário a possuir um aparelho robusto, caro e poderoso capaz de executar seus jogos, por que não deixar essa tarefa com grandes servidores e enviar a imagem diretamente para o celular, tablet, laptop ou televisão, como já fazemos com as músicas, séries, filmes e lives da Twitch e YouTube?

As vantagens seriam inúmeras – os jogos rodariam sempre com maior qualidade gráfica e performance perfeita, sem necessidade de configuração ou resolução de problemas, a bateria dos aparelhos portáteis duraria muito mais, e sua biblioteca de jogos seria acessível em qualquer lugar, a qualquer hora.

Tudo isso é de fato possível e já está disponível em 2023 – tanto de forma local quanto remota – no entanto, os proponentes dessa tecnologia precisam resolver tarefas difíceis. O principal desafio é a latência, isto é, o tempo entre um comando realizado pelo usuário e a resposta do jogo na tela. Mesmo com jogos sendo executados em sua própria máquina, a latência introduzida por um controle sem fio mal calibrado ou uma televisão pouco otimizada já pode ser sentida pelo jogador e atrapalha na jogatina, principalmente em jogos competitivos ou que exigem respostas rápidas como o Overwatch 2, Celeste, e tantos outros exemplos. Para uma plataforma na nuvem, o sinal precisa ser enviado pela internet até o servidor, uma resposta precisa ser calculada, e a imagem precisa ser devolvida à tela – tudo isso rápido o suficiente para que o jogador não perceba o atraso.

Modelos de sucesso e modelos fracassados

Mesmo com a latência elevada e outros problemas como a largura de banda e instabilidade nas redes, diversas empresas lançaram com sucesso suas plataformas de streaming em várias regiões do mundo. No entanto, seus modelos de negócio mudaram drasticamente a aceitação do público e a lucratividade.

A gigante Microsoft, por exemplo, aproveitou seus estúdios de jogos e a força da marca Xbox para lançar a Xcloud Gaming, que associada à sua assinatura do GamePass, oferece uma grande quantidade de jogos via nuvem para qualquer usuário de Android, iPhone, smart TVs e navegadores de internet. Com servidores em várias regiões do mundo, incluindo o Brasil, a plataforma está ativa e com moderado sucesso.

Seu principal apelo é também uma de suas limitações: com apenas uma assinatura mensal o usuário tem acesso livre a qualquer jogo do catálogo, no entanto, os jogos podem ser adicionados e removidos a qualquer momento e você não terá acesso ao conteúdo comprado em outras plataformas ou que esteja disponível no Xbox, mas fora da assinatura GamePass.

Cobiçada como a potencial melhor participante do mercado, a Google aproveitou sua ampla malha de servidores de alta velocidade em todo o mundo para oferecer a Stadia, sua própria plataforma de streaming de jogos. Com promessas como computação assíncrona de partidas multiplayer, integração ao YouTube, inteligência artificial e alta qualidade gráfica, o Stadia oferecia um “console sem o console”: bastava comprar o controle oficial e realizar uma assinatura para ter acesso ao serviço.

No entanto, os problemas não demoraram para aparecer: além da assinatura os usuários precisavam comprar individualmente cada jogo, e se parassem de pagar a mensalidade, perderiam acesso ao conteúdo comprado. Além disso, apesar da qualidade dos servidores e do controle dedicado, o serviço ainda sofria com instabilidades e lentidão, além de baixa disponibilidade de jogos de grandes desenvolvedores. Em 2022, a plataforma foi descontinuada e fechada, com um reembolso sendo enviado a todos que compraram o controle.

Estes dois exemplos mostram que a indústria dos jogos por nuvem pode ter grande potencial, mas ainda precisa encontrar soluções para seus modelos de monetização e performance. Concorrentes como o GeForce Now, da Nvidia, ShadowPlay e Facebook exploram seu próprio equilíbrio entre preço, disponibilidade e performance.

É possível que um dia máquinas dedicadas aos jogos sejam obsoletas e nosso conteúdo seja inteiro disponibilizado pela nuvem – mas nos dias atuais, com a imprevisibilidade dos serviços disponíveis e internet insatisfatória na maioria das casas dos brasileiros, o sonho de jogos na nuvem é, ainda, apenas uma promessa para o futuro.