Das coisas mais incríveis que o cinema pode proporcionar, a que mais me encanta é a capacidade de nos fazer sentir emoções mistas, e isso fica ainda mais incrível quando vemos algo que provavelmente jamais irá acontecer de verdade, mas no meio disso tudo existem vírgulas entre uma sensação e outra.

Fale Comigo, novo terror da A24, a já queridinha dos cinéfilos, despertou uma verdadeira vontade de correr para as salas de cinema, tudo para ver uma nova história macabra sobre entidades malignas e jovens que brincam com o desconhecido.

E claro que como um bom fã de filmes de terror, estava ansioso por ver a obra, o que eu não esperava era que fosse me emocionar, ao mesmo tempo em que ficava horrorizado em certas cenas. A soma de adolescentes, mais artefato maligno e luto, trouxe uma das melhores experiências para filmes de terror em 2023.

Te pega pela mão…

Fale Comigo começa da melhor forma que um filme de terror pode iniciar, arrancado nosso fôlego com alguns minutos de duração. Vemos um jovem indo para uma festa, aquelas típicas reuniões de jovens mostradas nos filmes americanos.

Mas a preocupação dele não está em bebidas ou garotas, ele está atrás do que logo será revelado ser seu irmão.

O anfitrião do local começa a falar que o irmão do jovem está começando a assustar os demais, e após um resgate exagerado, o que vemos é um desfecho brutal.

E sem termos tempo para digerir o que nos foi mostrado, a cena corta para uma cena de funeral, o tom melancólico é de partir o coração, mesmo com alguns segundo e sem ao menos conhecer os novos protagonistas.

Mia perdeu sua mãe, isso por si só já nos gera uma certa empatia com a personagem, impossível não solidarizar com alguém em luto pela mãe.

E por mais que o filme avance no tempo, para Mia tentando de alguma forma seguir sua vida, o tom de luto irá seguir pelo filme todo, e impressionante a capacidade de mesclar um assunto tão sensível, em um filme de terror.

Enquanto sabemos que a obra é sobre coisas do sobrenatural, o jeito que a melancolia e a dor da perda se molda ao filme, é digno de parabéns, não é apelativo ou desrespeitoso.

Mas como isso é um filme de terror, e como a A24 gosta de apreciar novas e boas ideias, ele irá nos chocar nos minutos que se seguem, com sequências capazes de nos prender na cadeira e invocar a vontade de desviar os olhos da tela.

…E te leva direto para o inferno

Quero admitir que Fale Comigo me deixou impressionado, não só por ser um excelente filme de terror, mas por ser um filme de terro com adolescentes e que não é bobo.

Sempre que um filme é sobre jovens, o maior medo é que ele seja uma verdadeira porcaria, mas após o terreno ser preparado, e de já termos certa empatia com os personagens, a ladeira que nos aguarda é íngreme, e no final dela, o inferno nos espera.

Mia e seus amigos decidem participar de uma espécie de reunião sobrenatural, onde os jovens, portando a mão embalsamada de um antigo xamã, pode conversar e permitir que espíritos entre em seus corpos (que bela ideia).

Pois bem, após alguns testes, Mia é possuída por um ser que demonstra um macabro apreço pelo irmão mais novo da amiga de Mia, e claro que aqui é o melhor momento para dar algo errado.

O tempo máximo para ficar com o espírito no corpo é de pouco mais de 70 segundos, e quando Mia passa um pouco desse tempo, a coisa fica feia.

E claro que como são jovens, os jovens iriam tentar novamente, mesmo após um acontecimento diabólico e preocupante, para dizer o mínimo.

O que podemos ver é uma cena absurda, tão brutal, que fez meu queixo cair, e parte do choque é justamente pela circunstância que a cena é mostrada, pesada e completamente cruel.

No meio de tantas ideias fadadas ao fracasso, Fale Comigo pega o simples e executa de forma maravilhosa, capaz de emocionar e assustar, o barulho que o filme fez e os anúncios de que ele era “o melhor filme de terro do ano” não são exageros, é um filmaço!

No momento que escrevo o texto, já foi confirmada pela A24 uma continuação, o que me deixa meio desanimado, mas isso é porque tenho traumas de filmes de terro que decidem fazer milhões de continuações.

Mas a obra merece sua atenção, e realmente pode ser consagrada como o melhor terror de 2023.