Theatrhythm Final Bar Line me impressiona por dois motivos: mesmo que eu já conheça a sub franquia por possuir os títulos anteriores do 3DS, ele ainda me surpreendeu na nova versão; o segundo motivo é da capacidade da Square de conceber e carimbar nomes ruins aos jogos, capacidade essa que só aumenta e o polo ocidental da empresa não se manifesta ou tira a caneta da mão dos japoneses nessa hora.

Final Fantasy Theatrhythm já é uma sub franquia, pois já deu as caras no Nintendo 3DS, agora retorna no PS4 e Nintendo Switch como uma versão definitiva e recheada com conteúdo. E esse recheio não se dá pelo fato de haver um esforço absoluto dos desenvolvedores em criar pedaços que se sintam individualmente significativos e originais.

Mesmo assim, 385 canções em um jogo de ritmo é uma marca bastante impressionante. Todos os jogos principais da série são retratados, além de spin-offs e franquias primas. Isso significaria que teríamos que colocar basicamente todos os inimigos de cada jogo, retratados de forma coerente, e só aí já teriam trabalho para anos e anos. A solução para isso foi de padronizar o estilo artístico de tudo, com personagens em animação de rig, parecendo recortes de papel, só que com um estilo de arte que não me agrada nem um pouco. Eles parecem ter saído de algum bootleg de Sítio do Pica Pau Amarelo, e quase tudo foi transformado em bonecas, como a boneca Emília.

Como o estilo de jogabilidade e a temática não vai agradar nem alguns fãs de Final Fantasy, os esforços foram comedidos ao construir o pacote inteiro. De fora também ficaram as sequências de fundo em FMV, que por algum motivo bizarro aparecia pelo menos na versão 3DS. Agora que temos máquinas com armazenamento grande para guardar tais vídeos em e alta quantidade, isso não foi percebido, e invés disso, temos personagens e inimigos no estilo de arte que mencionei anteriormente, e leves representações de cenários dos jogos abordados. Não consigo pensar que isso seja suficiente.

De qualquer forma, a parte mais louvável é de como cada vez mais os desenvolvedores tentam tornar essa pequena série num jogo de RPG rítmico, invés de apenas um jogo musical com a temática de um jRPG. Antes de cada música, nós podemos nos preparar como se fôssemos para uma batalha, e é exatamente como uma batalha que o jogo tratará cada canção. Cada uma das dezenas e dezenas de personagens possuem seus levels separados, slots de ataques especiais e magias. A party com 4 personagens pode ser misturada com qualquer personagem de qualquer jogo, desde que você tenha desbloqueado essas figuras, jogando os capítulos da campanha.

O jogo vai trancando boa parte de suas atrações atrás de cristais que servem como moedas para desbloquear capítulos e de repente temos uma campanha instigante, pois cada jogo da franquia Final Fantasy é apresentado como um álbum de música, mas cada jogo retratado trazendo uma pequena timeline contando muito de leve os eventos de cada jogo, escalando até o boss. Às vezes conseguimos até ter escolhas sobre qual caminho tomar, enfrentando inimigos diferentes.

Além de arrastar peças e apertar combinações de botões dentro do ritmo, podemos conferir a animação da party batalhando e o desempenho dessa party depende de seu desempenho musical. Isso é interessante, pois não é apenas para termos fogos de artifício. Manter um score bom faz com que sua party não deixe certos inimigos darem flee, garantindo que você cumpra missões especificadas para cada música. Isso é um argumento excelente para repetirmos as fases, de modo a alcançar até um inimigo final que pode não aparecer nunca caso seu desempenho durante a música seja medíocre. O jogo cobra perfeição nos toques de botão, dando níveis variados numa mesma nota de avaliação que ele dá.

Há uma desconfiança pré-jogo quando pensamos como a jogabilidade será traduzida para consoles que não possuam tela de touch ou essa função esteja limitada. No Switch, por exemplo, você perde esta função caso deseje jogar o jogo na TV. Eu diria que a adaptação é boa, senão um pouco maluca, como, por exemplo, quando temos que movimentar essa ficha para cima e para baixo, assim como fizemos bastante nos jogos Elite Beat Agents no DS, só que agora utilizando apenas o analógico do controle para “viajar na linha” que o jogo pede.

Por outro lado, fica muito mais prático encarar botões que surgem em dupla, para serem pressionados ao mesmo tempo. Pode ser intimidador e pode parecer que diminui muito o que é Theatrhythm, mas o jogo se saiu bem nesta tradução.

Eu não sei como você pensa que as músicas estão representadas aqui no título, então para o bem ou para o mal, é melhor eu ir explicando que elas estão normalmente apresentadas na forma em que foram concebidas ao público em suas respectivas épocas, ou seja, se você está jogando faixas do jogo Final Fantasy V, por exemplo, sua experiência será com o chip tune do SNES. Isso não é regra sempre, pois teremos coisas como One Winged Angel orquestrada, por exemplo, então o resultado pode parecer um pouco misturado em questão de timbres musicais.

Creio que na cabeça da maioria dos fãs como eu, ficaríamos mais satisfeitos mesmo ouvindo as versões originais para uma dose extra de nostalgia, então o jogo parece ter tomado a decisão certa nisso. Por outro lado, pessoalmente eu ficaria feliz em conferir novas versões de músicas do meu amado Final Fantasy IX.

O modo principal, com as campanhas, serve de alimento para os outros modos, destrancando conteúdos nas demais atrações. Mesmo o modo principal contendo esses elementos de RPG, podendo até mesmo equiparmos navios voadores e summons, ainda é jogado como um jogo bastante casual, pelo fato de ter sessões muito curtas para as suas músicas, e logo tudo vai mais depender no fim de sua habilidade motora do que camadas de regras adicionais que o jogo propõe.

Tendo dito tudo isso, é difícil imaginar que o jogo, em preço quase cheio (50 dólares, que se traduziram em R$250,00) irá puxar o interesse de pessoas que não estejam inseridas no mundo Final Fantasy, pois parte da experiência é bastante retratada como homenagem. Não que ela não terá uma experiência divertida, mas acredito que não será tão extensa.

Nota
Geral
7.5
theatrhythm-final-bar-lineTheatrhythm Final Bar Line aproveita o trabalho árduo dos compositores e capitaliza com tablaturas fantasiosa e até bem transcritas, mas o acabamento artístico não deixa a gente se sentir tão compelido quanto deveria, em uma franquia conhecida muitas vezes por ser referência gráfica e artísticas a cada título principal lançado no passado.