Em 2015, a Nightdive Studios anunciou um remake de System Shock, trazendo o jogo clássico para uma nova geração de jogadores. Com gráficos aprimorados, mecânicas modernizadas e uma reimaginação fiel da experiência original, o remake prometeu capturar a essência que fez de System Shock um marco na história dos videogames. E, a essência foi sim capturada com muito sucesso. Mas, falha em adicionar elementos adicionais que introduzam mais pessoas que não estavam imersas no mundo dos jogos de PC quando o original saiu.

À medida que olhamos para trás, é inegável o impacto duradouro que System Shock teve na indústria dos jogos eletrônicos. Sua abordagem inovadora à jogabilidade, narrativa não linear e atmosfera arrepiante para aqueles tempos influenciou gerações de desenvolvedores até os dias de hoje.

System Shock é um marco icônico na história dos videogames, um verdadeiro ponto de referência. Lançado originalmente em 1994 pela desenvolvedora Looking Glass Technologies, o jogo revolucionou o gênero de tiro em primeira pessoa, estabelecendo novos padrões de narrativa envolvente e jogabilidade imersiva.

A trama se desenrola em uma estação espacial futurista chamada Citadel, onde o jogador encarna o papel de um habilidoso hacker que desperta de um profundo coma. No entanto, uma maligna inteligência artificial chamada SHODAN tomou o controle da estação, transformando-a em um ambiente opressivo repleto de perigos.

O ritmo do jogo é algo mais lento em relação aos jogos de FPS que estamos acostumados a encarar nesse tempo todo. Eu diria que aqui estamos lidando com algo aproximado de um survival horror dos anos 90, no sentido de gameplay, onde o avançar no mapa deve ser feito com cautela e de forma alguma o progresso conquistado é feito de maneira linear e sem volta.

De fato algo que aborrece é estar dentro de um jogo com combate duro, mas está empurrando inimigos novamente nos locais que já visitou. Mas diferente dos survival horrors, estamos em System Shock navegando por corredores bem parecidos e utilizando chaves em forma de cartão. Esse último item dá a letra do que estamos jogando em partes também: um jogo quase labiríntico no estilo Doom.

Até o momento em que seu personagem for adquirir a primeira arma de projétil, você deverá se virar com um pedaço de cano num combate tão duro quanto ele. A ação parece um interminável bate-e-rebate, para ver quem irá cair primeiro. As técnica desenvolvidas para burlar isso e somente os seus golpes denunciam mais ainda a falta de opções na ação. Não adianta comemorar muito depois que pegar uma arma diferente, pois o uso indiscriminado irá te levar novamente, sempre, para o combate melê. E, na hora do tiro, também não é nada animador: acertar o seu alvo parece mais um cala-boca abrupto no oponente do que uma resolução justa e que o esforço tenha sido merecido.

Mas o que sobra do jogo então? Então, temos a burocracia de manusear os itens, vendê-los ou descarta-los. No começo é interessante a atenção aos detalhes e isso deixa o jogo mais próximo de uma simulação de um survival horror com certeza, mas a partir do momento em que isso fica velho – e tenha certeza de que essa sensação aparece cedo demais, essa parte soará mais como uma punição.

O loop de System Shock consiste em catar lixo, tal como nos jogos de RPG da Bethesda, trocar porrada com inimigos repetitivos, apertar os olhos para não perder de vista nenhum botão colorido nos painéis da estação, reciclar seu lixo na esperança de obter trocados para comprar itens mais eficazes do que aqueles que você encontrou no caminho, por ventura encontrar várias vezes com um inimigo numa área em que você já dava como uma área limpa, e lentamente progride de sala em sala, numa cadeia de fatos pontuais inexistentes que sirvam de respiro para todo este loop.

Catar lixo, trocar porrada como se todos envolvidos estivessem armados com uma barra de sabonete Francis invés de armas é algo presente o tempo todo em Elder Scrolls e em System Shock. Tal como o gerenciamento de inventário e uma atenção maior que é preciso dar a cada item que carrega no corpo. A diferença é de que Elder Scrolls constrói povoados, ou qualquer outro tipo de localidade, no mínimo pitoresca, quando não se trata de uma narrativa, mesmo que seja a mesma coisa batida medieval de sempre.  Aqui, não. São corredores e corredores de agonia, como um inferno anti-videogame, ou talvez videogame demais, inserido em um game design que não funcionaria sozinho em nenhuma outra obra que tivesse os mesmos delitos criativos que System Shock.

Depois de tudo isso, o jogo ainda poderia justificar-se plenamente se houvesse uma narrativa que passasse de relatos de tripulantes que estiveram tão ferrados quanto você antes de morrer. Isso vai funcionar em Dead Space porque o combate orgânico  daquele jogo, somado aos inimigos bem posicionados e ameaçadores, empurram a necessidade de uma narrativa amarrada para o canto. Muito pouco é dado para o jogador de primeira viagem em System Shock em 2023. Suas mecânicas em si não conseguem dar as mãos, como forma de uma apoiar a outra para que neste rodízio haja prazer em revisitá-las. Oras, se todos os pratos oferecidos forem medíocres, não dá para ter saudade da demora de nenhum deles retornar.

Você jogador pode levar em consideração tudo que foi dito, pensando na versão original ou no remake, pois o que temos aqui é uma obra que não repensa as mecânicas de modo algum, o respeito foi elevado, porém consigo temos esses ônus todos. Isso quer dizer que assim como outros remakes deste ano (sim, estou me referindo ao Dead Space principalmente), System Shock Remake foi apenas reencapado (lindamente). E olha que Dead Space ainda arriscou pequenas liberdades que acabaram melhorando a experiência, e eu esperava este mínimo desta obra da Nightdive.

No original, os gráficos possuem o charme de um Doom, ou melhor ainda, algo como Dark Forces. Agora, temos um upgrade significativo neste departamento, porém não chega perto de ser um jogo que aproveite as tecnologias mais aparentes de 2023. System Shock Remake poderia ser facilmente um jogo de Xbox 360, só que com performance melhorada nos dias de hoje.

Você pode observar todos elementos que possam tornar um immersive sim, tendo início aqui, mas o jogo infelizmente não oferece conforto para jogadores do mesmo título que sejam de primeira viagem, tornando o lançamento nichado para aquele com curiosidade arqueológica ou aqueles que só querem olhar para gráficos atualizados em relação ao jogo original.

Nota
PONTUAÇÃO GERAL
6.0
system-shock-remakeSystem Shock Remake oferece um survival com RPG ocidental com pacing bem lento e pouco convidativo para um novo público. Porém, quem só estava esperando esse tempo todo para revisitar, poderá se refestelar com o fato de que o que System Shock foi, esteja intacto no remake, porém, a parte gráfica fica a critério do jogador aceitar um estilo pouco realista e nem sempre chamativo.