Desde o primeiro momento em que vi Star Overdrive, algo me chamou a atenção. Talvez fosse a promessa de um mundo aberto vasto, ou quem sabe a ideia de deslizar por dunas alienígenas em um hoverboard. Desenvolvido pela Caracal Games Studio, uma equipe de cerca de 12 pessoas, e publicado pela Dear Villagers e Plug In Digital, este jogo de ação e aventura chegou em 19 de junho de 2025, e eu estava ansioso para mergulhar. A premissa é simples, mas intrigante: você é Bios, um herói com um keytar e um hoverboard, em busca de sua amada Nous em um planeta misterioso chamado Cebete. Minhas expectativas eram altas, especialmente com as comparações a títulos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild que eu já tinha ouvido. Mas, como em qualquer jornada, nem tudo é um passeio suave.
Ecos de um Amor Perdido no Vazio
A narrativa de Star Overdrive é, para mim, um dos seus aspectos mais melancólicos e, ao mesmo tempo, frustrantes. Tudo começa com um sinal de socorro de Nous, sua parceira, que o leva a um pouso forçado em Cebete. Sua nave é abatida, e de repente, você está lá, sozinho, com seu hoverboard e keytar, em um planeta que parece ter sido abandonado às pressas. O objetivo é claro: encontrar Nous e desvendar o que aconteceu com a corporação de mineração que a deixou para trás.
A história é contada de uma forma que me deixou com um misto de curiosidade e insatisfação. A maior parte da lore e dos eventos passados é revelada através de logs de áudio e fitas cassete que você encontra espalhadas pelas ruínas e operações de mineração abandonadas. Essa abordagem de “conta-gotas” é interessante no início, criando um senso de mistério e me incentivando a explorar cada canto em busca de mais informações. Eu me pegava parando para ouvir cada gravação, tentando juntar as peças do quebra-cabeça.
No entanto, essa dependência excessiva de áudio logs tem um custo. Bios, o protagonista, é mudo. E não é um “mudo à la Link”, onde a personalidade transparece em grunhidos ou expressões; ele é absolutamente mudo, sem sons ou emoções. Isso, combinado com o fato de que os outros personagens são “pouco desenvolvidos” e os diálogos são meramente “funcionais”, fez com que a trama, por mais que tentasse insinuar conflitos corporativos e rebeliões, nunca realmente me cativasse por completo. Eu senti que faltava uma conexão emocional mais profunda com os personagens e com o drama central.
Cebete em si é um personagem à parte. É um “mundo estilhaçado”, um deserto vasto e desolado, pontuado por imponentes ruínas metálicas e os restos esqueléticos de criaturas colossais. A atmosfera predominante é de solidão, anseio e arrependimento. Essa sensação de isolamento é palpável e, de certa forma, complementa a busca solitária de Bios. Mas, ao mesmo tempo, a falta de vida e de interações mais significativas no mundo aberto pode tornar a jornada um pouco vazia, reforçando a sensação de que você está apenas passando por um cenário, e não por um lugar que realmente respira. A história é um pano de fundo para a exploração, mas raramente se torna o motor principal da minha imersão.
A Dança do Hoverboard e o Tropeço do Combate
Ah, o hoverboard. Se há uma coisa que Star Overdrive acerta em cheio, é a sensação de deslizar por Cebete. A travessia é, sem dúvida, o ponto alto do jogo. É fluida, rápida, responsiva e, acima de tudo, incrivelmente satisfatória. Eu me pegava simplesmente “pilotando” sem rumo, apenas pela pura alegria de sentir o vento virtual no rosto e a velocidade sob meus pés. Realizar truques no ar, como “mashar o stick direito” para ganhar velocidade e carregar um impulso, é viciante. Há um ritmo para a travessia, onde aterrissar truques ou cronometrar saltos alimenta seu impulso, permitindo alcançar lugares mais altos e estender combos. O mundo é inteligentemente projetado com “portões de impulso” e dunas de areia que facilitam a manutenção da alta velocidade e a execução de manobras. É um verdadeiro playground para o hoverboard.
No entanto, a experiência de Star Overdrive é uma montanha-russa. A cada pico de euforia no hoverboard, há um vale de frustração quando o jogo me força a descer. O combate é, para mim, o calcananhar de Aquiles do jogo. É “sem graça”, “desajeitado”, “lento e tedioso”. Bios empunha um Keytar, que funciona como sua arma principal, permitindo ataques básicos, carregados e um “slam” aéreo. A ideia é que o combate seja mais do que um simples “button mashing”, incentivando o uso de habilidades e a interação com o ambiente. E, de fato, algumas habilidades, como pegar e arremessar inimigos, são divertidas.
A transição da alta velocidade do hoverboard para o ritmo mais lento do combate a pé causa um “whiplash” na experiência. É como ir de um carro de corrida para um trator. O movimento a pé de Bios é “rígido”, “lento” e ele parece “arrastar-se”. Muitas vezes, eu me via spamando a rolagem para me locomover mais rapidamente e compensar a lentidão. As seções de plataforma a pé são uma “tarefa frustrante” devido à falta de polimento e precisão. É uma pena, pois a ambição de ter um combate baseado em habilidades é visível, mas a execução simplesmente não acompanha a fluidez do hoverboard. As batalhas contra chefes, por outro lado, são uma exceção notável. Algumas são “surpreendentemente excelentes” e “cinemáticas”, com uma luta que me remeteu diretamente a Duna, o que foi uma grata surpresa. Mas esses momentos de brilho são ofuscados pela mediocridade dos encontros regulares.
A Engrenagem da Progressão e os Enigmas das Minas
A progressão em Star Overdrive gira em torno da coleta de recursos e do aprimoramento do seu hoverboard e habilidades. O hoverboard é altamente personalizável, tanto esteticamente com cores vibrantes e designs, quanto em desempenho. Coletar recursos para aprimorar atributos como velocidade, gravidade e controle é essencial. Upgrades específicos desbloqueiam novas habilidades de travessia, como surfar na água e realizar air-dashes. Em teoria, isso é ótimo, pois me permite moldar a experiência de travessia ao meu gosto. Na prática, porém, o processo de coleta e o sistema de upgrade podem ser “tediosos” ou “excessivamente complexos”, especialmente se você desperdiçar materiais. Eu senti que, às vezes, estava mais preocupado em coletar recursos em si do que em explorar.
Além do hoverboard, o Keytar de Bios não é apenas uma arma, mas uma ferramenta multifuncional. As habilidades que você desbloqueia – como a capacidade de pegar e arremessar objetos e inimigos, alterar os efeitos da gravidade, liberar energia cinética, invocar trampolins/plataformas e disparar lasers – são cruciais para resolver quebra-cabeças e, teoricamente, para o combate. Essas habilidades podem ser combinadas de formas criativas, transformando os encontros em “mini-quebra-cabeças”.
O jogo também apresenta as “Mines” (Minas), que são dungeons menores focadas em quebra-cabeças, e a comparação com os “shrines” de The Legend of Zelda: Breath of the Wild é inevitável e precisa. A resolução desses quebra-cabeças recompensa os jogadores com “power cores”, um recurso primário para a árvore de habilidades e upgrades. Os quebra-cabeças em si são geralmente interessantes e bem elaborados, mas a progressão através deles pode ser lenta. Eu me vi preso em algumas delas, não pela dificuldade do enigma, mas pela lentidão das interações ou pela necessidade de esperar por plataformas.
O mundo aberto é “massivo”, com três ou quatro biomas distintos, cada um com paisagens, criaturas e desafios únicos. Exemplos incluem dunas sussurrantes e ruínas que desafiam a gravidade. O design do mundo é geralmente elogiado por se prestar bem à travessia em alta velocidade, com paisagens que parecem “grandes playgrounds” para o hoverboard. No entanto, apesar de sua vastidão, o mundo pode parecer “vazio” e “estéril”. Eu senti que, fora das rotas principais e dos pontos de interesse marcados, havia pouco para me incentivar a uma exploração orgânica, o que é uma pena para um jogo de mundo aberto. A repetição de tarefas e desafios também se tornou um problema recorrente.
A Estética Retrô e a Sinfonia do Vento
Visualmente, Star Overdrive adota um estilo cel-shaded que imediatamente me remeteu a The Legend of Zelda: Breath of the Wild. No entanto, o jogo consegue estabelecer sua própria identidade com um tom mais “retrô e grunge”, distinguindo-se das cores vibrantes de Zelda. Alguns até o comparam à estética de Hi-Fi Rush. Para uma equipe de apenas 10 pessoas, a direção de arte é “sólida” e consegue “fazer muito com pouco”. É um jogo atraente, com céus azuis, estratos de areia, partículas de poeira e os anéis brilhantes de planetas próximos que contribuem para uma atmosfera única. Cebete, com suas “paisagens deslumbrantes” e “arquitetura alienígena enorme”, realmente transmite uma forte sensação de solidão e anseio.
Apesar de ser visualmente satisfatório e, para alguns, “absolutamente sublime”, o mundo é criticado por parecer “construído” e “um conjunto de puzzles de travessia” em vez de um lugar vivo e misterioso que convida à exploração orgânica. Eu concordo com essa percepção; embora bonito, o ambiente muitas vezes não me convidava a sair da rota principal para descobrir segredos, pois parecia que tudo estava ali com um propósito muito específico, e não como parte de um ecossistema vivo.
A trilha sonora, por outro lado, é um dos pontos mais elogiados do jogo, e com razão. É “impressionante”, com sons de sintetizador “muito agradáveis” e uma forte vibe “muito anos 80”. As comparações com o estilo de Sammy Hagar (Van Halen) são bastante precisas. Uma curiosidade que adorei é a mecânica de coletar fitas cassete que contêm “hinos de rock clássico”, funcionando como um “álbum de rock desbloqueável” que é, de fato, “matador”. Eu me pegava procurando por essas fitas, ansioso para ouvir a próxima faixa. No entanto, há momentos em que a música é “muito quieta” quando você não está ouvindo uma faixa específica, o que pode quebrar a imersão. E, em minha opinião, algumas das músicas coletáveis, por mais agradáveis que sejam, nem sempre se encaixam perfeitamente com o design de som geral ou a imagem de Bios. Apesar disso, o design de som geral é eficaz em reforçar a sensação de solidão, com muitos momentos acompanhados apenas pelo som do vento e notas atonais.
A Montanha-Russa Técnica e a Suavidade do PC
Em minha máquina pessoal, equipada com um processador AMD Ryzen 5 3600, uma placa de vídeo NVIDIA GeForce RTX 4060 e 16 GB de RAM em dual channel, a experiência foi excepcionalmente suave. Joguei em 1080p nativo com todas as configurações gráficas no máximo, e o jogo manteve uma média de 120 quadros por segundo (FPS) sem qualquer problema de desempenho perceptível. Não houve engasgos, quedas de frame ou falhas técnicas que pudessem atrapalhar a imersão. Isso sugere que, com um hardware moderno e bem configurado, Star Overdrive realmente brilha, entregando a fluidez que a jogabilidade de hoverboard exige.
O Voo Solitário de um Sonho Imperfeito
Star Overdrive é, em sua essência, um jogo de contrastes. É um título que ousa sonhar grande, especialmente para uma equipe de apenas 12 pessoas. Ele me ofereceu alguns dos momentos mais puros de alegria que tive em um jogo de mundo aberto este ano, tudo graças à sua mecânica de hoverboard, que é simplesmente sublime. A sensação de velocidade, a liberdade de deslizar por paisagens alienígenas deslumbrantes e a capacidade de realizar truques que impulsionam sua jornada são inegavelmente cativantes. A trilha sonora retrô e a direção de arte cel-shaded, embora inspiradas, dão ao jogo uma identidade e uma “alma” próprias.
No entanto, essa alma é, por vezes, solitária e um tanto desequilibrada. O brilho do hoverboard é ofuscado pela frustração do combate desajeitado e do movimento a pé lento. O mundo, embora vasto e bonito, muitas vezes se sente vazio, e a narrativa, apesar de intrigante, carece da profundidade e do impacto emocional que eu esperava. É como se Star Overdrive fosse uma sinfonia onde a orquestra tem um solista brilhante, mas o resto dos instrumentos desafina em alguns momentos cruciais.
Para mim, Star Overdrive não é um jogo perfeito, longe disso. Mas é precisamente em suas imperfeições que ele revela seu caráter. Ele não é uma cópia carbono de Breath of the Wild, mas sim uma interpretação com sua própria voz, um “sonho estranho, desorganizado e estiloso”. Se você é um jogador que prioriza a sensação de movimento e exploração acima de tudo, e está disposto a perdoar suas falhas em combate e progressão, então Star Overdrive é uma experiência que vale a pena.
Ele é um lembrete de que a ambição e o coração podem levar um jogo longe, mesmo com recursos limitados. E, no final das contas, a memória que fica não é a dos tropeços, mas a daquele voo livre e solitário sobre as dunas de Cebete, com o vento no rosto e a melodia de um sintetizador ecoando no vazio. E essa, meus amigos, é uma sensação que poucos jogos conseguem entregar.