Quando vi o anúncio de Ninja Gaiden: Ragebound, minha reação foi um misto de surpresa e desconfiança. A franquia, famosa por sua brutalidade e precisão cirúrgica nos combates, andava esquecida há anos. Não imaginava que, em pleno 2025, trariam de volta um dos ninjas mais icônicos dos videogames. Mas aqui estamos: com sangue, aço e uma nova geração para esmagar os botões e tentar sobreviver à fúria de Ryu Hayabusa.
Não estou falando de nostalgia pura — estou falando de um jogo que tenta caminhar entre o respeito ao passado e as tendências modernas. E sim, isso traz riscos. Mas também abre espaço para momentos surpreendentes.
Um Passado que Não se Apaga
A história de Ninja Gaiden: Ragebound me pegou de surpresa logo de cara. Não é só mais uma aventura genérica de ninjas – é uma missão desesperada, carregada de tragédia, honra e escolhas difíceis. Tudo começa quando Ryu Hayabusa, o lendário guerreiro da Vila Hayabusa, parte em uma viagem aos Estados Unidos para honrar a vontade de seu pai. Mas enquanto ele está fora, algo terrível acontece: a tênue barreira entre o mundo humano e o demoníaco se rompe sem aviso, liberando criaturas infernais que destroem tudo em seu caminho. E, claro, o primeiro alvo é a própria Vila Hayabusa.
Sem Ryu para defender seu lar, o peso da salvação recai sobre os ombros de Kenji Mozu, um jovem ninja que claramente não estava pronto para carregar o manto de herói, mas que decide encarar o impossível. Ele foi treinado por Ryu e tem talento, mas isso não basta quando o inimigo é praticamente sobrenatural. E é aí que as coisas ficam realmente interessantes. Em vez de seguir o caminho tradicional da honra e da pureza ninja, Kenji toma uma decisão desesperada: se aliar ao Clã Black Spider – os arqui-inimigos da sua própria vila.
Ver essa união forçada entre rivais milenares por um bem maior trouxe uma camada emocional que eu sinceramente não esperava encontrar. Essa decisão de unir almas e habilidades com antigos inimigos para enfrentar o Lorde Demônio me fez refletir sobre sacrifício, sobre orgulho, sobre como o mundo pode empurrar um guerreiro para extremos sombrios quando tudo está por um fio. A trama não é longa, mas tem impacto. E, mais importante, ela carrega o espírito do que sempre foi Ninja Gaiden: sangue, aço, sacrifício e redenção.
O Peso da Lâmina
A gameplay aqui é o coração do jogo — e felizmente, é onde Ragebound brilha. O combate continua absurdamente técnico, com uma resposta precisa aos comandos. Nada de apertar botões aleatoriamente. Cada deslize custa caro. E essa exigência é justamente o que me faz amar esse estilo de jogo. Senti que estava jogando um Nioh mais direto, sem a profundidade dos RPGs, mas com muito foco em reflexo e leitura do inimigo.
O level design mistura arenas fechadas e corredores estreitos, com armadilhas e inimigos posicionados de forma estratégica. E mesmo nos momentos de raiva (e foram muitos), eu nunca senti que o jogo estava sendo desonesto. Ele só exige que você jogue direito.
Ragebound é cruel com quem joga sem atenção. O jogo traz um sistema de parry com janelas bem curtas, algo que me pegou de surpresa nas primeiras horas. Mas com treino, torna-se quase viciante. O arsenal é bem pequeno, o que achei ruim.
Cortes Impecáveis
O visual de Ragebound é brutal e elegante. No meu PC (RTX 4060, Ryzen 5 3600 e 32GB de RAM), o jogo rodou em 1080p, mantendo 60 FPS o tempo inteiro. Os modelos dos personagens estão extremamente detalhados.
Os cenários variam bastante, indo de vilas japonesas tradicionais até instalações militares modernas — e sempre com bastante sangue envolvido. Aliás, o efeito do sangue nas lâminas, no chão e até na câmera é um charme à parte. A direção de arte acerta em cheio ao equilibrar o clássico e o moderno.
Na parte sonora, o jogo entrega faixas intensas, cheias de batidas eletrônicas misturadas com instrumentos orientais. Combina muito bem com a ação e com o clima. Mas o destaque mesmo vai para os efeitos de som durante os combates: cortes, gritos e explosões são impactantes e ajudam na imersão. Joguei com fones, e foi uma experiência muito mais intensa.
Uma Faca de Dois Gumes
Ninja Gaiden: Ragebound não tenta reinventar a roda — e talvez essa seja sua maior virtude. Em vez de tentar copiar jogos soulslike ou se perder em sistemas complexos, ele foca no essencial: combate brutal, gameplay precisa e uma experiência que exige o melhor de você. Para quem ama esse estilo de jogo, é um deleite. Para quem espera algo mais acessível ou cinematográfico, talvez seja um pesadelo.
O que me fez continuar não foi a história, nem os gráficos — foi o simples prazer de aprender, errar, e vencer um inimigo que parecia impossível minutos antes. É um jogo que recompensa esforço. E isso, hoje em dia, é raro.
Se esse for o começo de uma nova era para a série, eu estou dentro. Porque, apesar das falhas, Ragebound me lembrou porque me apaixonei por essa franquia lá atrás: não pelo que ela conta, mas pelo que ela me faz sentir enquanto luto por cada segundo de vida.
Ninja Gaiden voltou. E com ele, a fúria que dormia em nós também acordou.