Quando EDENS ZERO aterrissou no meu PlayStation 5, confesso: a expectativa era alta. Como fã de longa data das criações de Hiro Mashima, desde Fairy Tail, mergulhar em um action RPG no universo de EDENS ZERO era, no mínimo, empolgante. A promessa de uma jornada espacial com Shiki, Rebecca e Happy, explorando planetas e desvendando mistérios cósmicos, parecia o bilhete dourado para horas de diversão.
Mas, como em toda viagem intergaláctica, nem tudo é um céu estrelado. Prepare-se para a minha experiência pessoal com este título — uma jornada que, por vezes, brilhou intensamente e, em outras, se perdeu na vastidão do vazio.
Ecos de uma história grandiosa
A narrativa é, sem dúvida, o coração da experiência para quem já conhece a obra original. Me vi no papel de Shiki Granbell, um garoto com poderes de gravidade, embarcando na nave Edens Zero ao lado da carismática Rebecca e do adorável Happy, todos em busca da lendária “Mãe”.
A história segue fielmente os arcos do mangá e do anime, o que é um deleite para os fãs. Ver cenas icônicas recriadas em 3D, com dublagem japonesa original, me transportou diretamente para aquele universo. Foi como reviver momentos marcantes, agora com a chance de controlá-los.
Mas aqui vem o primeiro ponto fraco: a narrativa no jogo pode parecer fragmentada. Para quem já conhece a trama, é fácil preencher as lacunas. Para novos jogadores, porém, a experiência pode ser confusa. Há muitos saltos na história e muita exposição mal distribuída, com caixas de texto genéricas que quebram a imersão. Somente os momentos cruciais recebem cutscenes animadas — e até essas, por vezes, são rígidas ou apressadas.
A inclusão de missões e trechos inéditos escritos pelo próprio Hiro Mashima é um presente para os fãs, mas não salva o conjunto da sensação de recapitulação acelerada. Falta a sensação de estar vivendo algo novo.
Combate: brilho e repetição
O combate é o pilar da jogabilidade e foi uma montanha-russa. Na teoria, trocar entre personagens com estilos distintos — Shiki, Rebecca, Weisz e Homura — é empolgante. Alternar entre ataques corpo a corpo, disparos à distância e invocação de espadas pode ser satisfatório.
O Ether Gear, energia que permite manipular gravidade, tempo e armas, é um conceito fascinante e ver os personagens usá-lo de formas diferentes é um dos pontos altos.
Na prática, porém, o combate se torna repetitivo. Os movimentos são rígidos, os padrões de ataque simples e a IA dos inimigos deixa a desejar. As batalhas muitas vezes viram um simples “esmagar de botões”. A variedade de inimigos é pequena e muitos funcionam como esponjas de dano, exigindo muitos golpes para cair — o que cansa em vez de desafiar.
Chefes trazem um pouco mais de estratégia, com ataques telegrafados e a mecânica de esquiva perfeita, mas ainda assim não saem muito do básico. A jogabilidade raramente evolui.
Mundos vastos, mas vazios
A exploração começa promissora. Blue Garden, o planeta inicial, é visualmente fiel ao anime. A liberdade de planar por seus céus me deu uma sensação genuína de aventura espacial.
O jogo conta com mais de 200 missões — entre principais, de guilda e episódios paralelos em planetas diferentes. Mas essa quantidade não significa qualidade.
Blue Garden, apesar de vasta, parece deserta. NPCs são praticamente figurantes sem vida, e missões secundárias se resumem a tarefas genéricas como “coletar X itens” ou “derrotar Y inimigos”. A transição entre história linear e mundo aberto é abrupta e artificial, me fazendo questionar o propósito de um mapa tão grande sem conteúdo que o justifique.
Progressão rasa e visual
O sistema de RPG oferece customização com mais de 700 itens equipáveis. É possível mudar a aparência dos personagens sem afetar os atributos — algo divertido para quem curte “moda gamer”.
A árvore de habilidades e a progressão do Ether Gear trazem a ilusão de profundidade, mas, na prática, as escolhas raramente mudam o jeito de jogar. O desbloqueio de habilidades exige cumprir missões secundárias atreladas ao progresso da história, o que torna o avanço cansativo e pouco recompensador.
A nave Edens Zero, que funciona como hub central, também deixa a desejar. Há minijogos, sistema de culinária e áreas de customização. Mas nada disso se destaca. Os minigames são esquecíveis e a própria nave, apesar de imensa, parece vazia. Ideias promissoras que ficaram no rascunho.
Gráficos e som: alma de anime, corpo de PS3
Visualmente, o jogo acerta ao replicar os personagens em estilo anime. Shiki, Rebecca e companhia estão fiéis ao traço de Mashima, e a saturação no PS5 valoriza a estética colorida.
Mas os ambientes decepcionam. Os cenários são simples, com texturas pobres e direção de arte genérica. Em alguns momentos, parece um jogo de PS3, não um título para o PS5. As animações de combate e cutscenes são duras, o que reduz o impacto emocional de várias cenas.
O áudio tem seus méritos. A dublagem japonesa é excelente, e ouvir os personagens com vozes originais é um prazer. A trilha sonora, por outro lado, é funcional, mas esquecível. Ela não adiciona peso às batalhas nem ajuda a construir tensão narrativa.
Desempenho intergaláctico instável
No PS5, EDENS ZERO deveria brilhar. Mas o desempenho é instável. O jogo tenta alcançar 4K com taxa de quadros entre 30 e 60 fps, mas falha constantemente. Notei quedas de FPS frequentes, especialmente ao voar por Blue Garden, além de pop-ins de texturas e objetos surgindo do nada.
Pelo menos, os tempos de carregamento são rápidos, graças ao SSD. Já o suporte ao DualSense é mínimo — há vibração, mas os gatilhos adaptáveis e o feedback háptico são praticamente ignorados. Uma oportunidade perdida de aproveitar o potencial do console.
No geral, o jogo parece um port direto para o PS5, sem ajustes que aproveitem seu poder.
Veredito: mais fanservice do que RPG
EDENS ZERO no PS5 é um jogo com alma de fã e corpo de produto inacabado. É fiel à obra de Mashima, entrega momentos de nostalgia e até alguns trechos divertidos. Para quem ama os personagens, isso pode ser suficiente.
Mas se você busca um RPG de ação robusto, com combate refinado, mundo vivo e narrativa envolvente, prepare-se para se frustrar. A estética datada, o desempenho fraco, a progressão rasa e a repetição constante pesam bastante.
Minha recomendação: se você é fã de EDENS ZERO e está disposto a relevar os defeitos em troca de mais tempo com Shiki e sua tripulação, embarque nessa nave. Mas, se o que te move é gameplay sólido e uma experiência completa, melhor esperar por uma promoção — ou por uma adaptação melhor no futuro.