Em busca de um novo lar

O planeta Terra não é mais capaz de abrigar os seres humanos e com isso todas as esperanças para a continuidade da raça humana está em encontrar um novo lar. E como todo bom roteiro repleto de clichês algo dá errado.

O planeta escolhido: Enoch sofre uma anomalia misteriosa que mata a maioria das pessoas, porém, concede imortalidade a outros. É nesse momento que o jogador controla um dos últimos Outriders vivos. Décadas após o primeiro incidente registrado, causado por essa anomalia.

Esse sobrevivente foi mantido dentro de uma espécie de incubadora tamanho família que o manteve congelado por muitos anos. Os motivos preenchem mais um dos mistérios do enredo. Servindo apenas como pano de fundo para que o tiroteio e os infinitos loots aconteçam em larga escala.

Após uma introdução da história principal com duração de uns 70 minutos. O jogador começa a se acostumar com o tiro em terceira pessoa utilizando-se de muitas barreiras de cobertura para poder passar ileso nas diversas hordas de inimigos durante todo o jogo. Após esse tutorial já é possível jogar em co-op. Que sem dúvida é a forma de jogo pensada pelos desenvolvedores na criação do game.

Características da gameplay

A campanha principal dura em média umas 13 horas, caso queira explorar as sides esse tempo pode dobrar. As missões principais têm alguns fatores em comum. O primeiro é apresentar um novo personagem, em seguida um request para salvar algum aliado ou conquistar bases do inimigo.

A cada checkpoint das missões, o jogador crava uma bandeira e tem seu progresso salvo, além de recuperar munição e encontrar novos equipamentos. Ao final da missão um chefe é apresentado e o confronto ocorre. O ponto diferencial do combate de Outriders em comparação a outros loot shooters é a utilização de poderes especiais dos imortais. Mudando completamente a dinâmica e cadência da gameplay.

Esses poderes são característicos da classe. Podendo ser escolhida ainda no prólogo do jogo. A primeira é de Pyromancer. Onde os ataques são de médio alcance. Utilizando do elemento de fogo para controlar o campo de batalha. A segunda é a de Technomancer. Utilizando de muitas armas auxiliares como minas e lançadores de mísseis e torretas congelantes.

Aumentando assim a durabilidade do personagem em batalhas mais extensas. A terceira: Devastator. O famoso tank. Aquele que aguenta muito dano e sustenta a equipe enquanto outros membros da party estão esperando o tempo de recarga das habilidades especiais. A quarta é a do Trickster.

Utilizando muito do teleporte para acertar o inimigo na curta distância de forma ágil com lâminas que reduzem a velocidade do oponente. Cada classe possui mais três subclasses aumentando ainda mais o poder das habilidades (9), assim como, sua duração e outros efeitos a serem aplicados em batalha.

Um aspecto preocupante em termos de gameplay é o movimento aleatório das câmeras. Impedindo a movimentação em uma área de batalha já limitada pelo level design. Podendo frustrar e lembrar até alguns jogos que usam a mira travada, trazendo de volta, sentimentos proporcionados por jogos da série souls. Um fato bem raro em jogos de cover, e que podem ser ajustados em futuras atualizações.

Secundárias e personagens

As missões secundárias apenas cumprem o papel de prolongar ao máximo as atividades dentro do jogo e não fazem nada digno de destaque. Em nenhum quesito, apenas ressaltam as reações mal executadas dos personagens nas conversas. Aliás, é normal em um jogo desse porte e de tamanho investimento, ficarmos impressionado com alguma bio interessante de personagem, ao menos um.

Mas esse fato não ocorre. De início, tudo levava a crer que isso aconteceria, mas logo lembramos que é um jogo focado em loot, então, teoricamente isso não seria muito relevante. Mas que dá um gosto amargo, isso não tem como negar. Um fiel da balança em relação aos personagens é a localização em português do jogo. Bem dublado e facilitando a concentração no ponto forte de Outriders que é sua gameplay.

Um mundo atraente com mecânicas familiares

É incontestável a excelente ambientação em Outriders. Biomas envolvendo florestas, bem como, picos nevados e desertos escaldantes. Todos repletos de brechas para que se aproveite alguns momentos de apreciação do visual. Os inimigos humanos e as criaturas têm um design e ações de combate bem agressivas, deixando o oponente com uma única opção: raciocinar rapidamente seu próximo movimento ou encarar a morte certa.

Passando uma falsa impressão de profundidade do mapa de mundo, mas que na realidade é bem limitado em espaço. Afinal é um mundo semiaberto. O que faz sentido e encaixa-se de maneira uniforme no estilo do jogo.

A sensação de vazio paira por diversas vezes na cabeça do jogador, já que salve raras bases pelo mapa, a cada início ou fim de missão, quase não há vida no planeta Enoch, mesmo sendo dividido por áreas curtas, o tédio chega a bater na porta enquanto não se encontra em quem atirar.

Gráficos e parte sonora

Infelizmente o capricho gráfico ficou apenas na ambientação e nos inimigos do game, já que a modelagem dos personagens tanto nas cinemáticas como fora delas, deixa muito a desejar. Simplesmente não foi dada a devida importância para esse aspecto. Fazendo com que em tempos de geração PS5, os bonecos se pareçam mais com gráficos vistos no início da geração PS4 e olhe lá.

Tecnicamente o jogo é consistente e não presenciei nenhum bug visual que me saltou os olhos em nenhum momento da minha gameplay. Essa que foi realizada utilizando um PS4 base. Alguns crashes ocorreram, mas o fator mais incômodo foi o tempo dos loadings entre uma missão e outra. Em torno de 35 segundos.

O trabalho sonoro com o som dos tiros e explosões nos combates é eficaz, porém, uma boa trilha sonora fez falta para dar aquele embalo quando o jogador está próximo de desligar o console e pensa: “Vou pegar só mais um loot.”

Chefes marcantes

Os chefes são divertidos e bem trabalhados tanto nas builds, como também, no design. Dentre criaturas e seres com poderes especiais, as boss fights são empolgantes e bem divididas em fases do chefe. As animações combinam muito bem com o clima criado.

Dificultando cada vez mais para o jogador e unindo elementos do cenário, para poder proporcionar lutas bem marcantes dentro de arenas de batalha que são um deleite visual e de gameplay. Os chefes elevam o prazer da sensação de descoberta e aumentam a expectativa do que pode vir até o fim da campanha.

Grau de mundo

Algo pouco comum em jogos do gênero é o sistema de dificuldade apresentado em Outriders. Intitulado grau de mundo, e podendo ser aumentada pelo jogador rapidamente oferecendo riscos e recompensas. O level dos inimigos aumenta, deixando seus ataques mais poderosos e crescendo também a porcentagem de loots mais raros.

É uma sensação estranha, como se nunca desse para saber qual é o grau de mundo considerado como um nível de dificuldade normal, afinal qual é a forma que os desenvolvedores desejavam que as pessoas jogassem sua obra na concepção do game? Impossível saber.

Fato é que a ausência de balanceamento é perceptível e deve ser feito com urgência para uma maior longevidade da comunidade ativa no jogo. O jeito é ir testando grau a grau, até que o jogador encontre o grau de dificuldade mais identificado com seu estilo de jogo.

Um Lootshooter com a mão fechada

O objetivo do game é conseguir equipamentos e acessórios através dos famosos loots. Este é mais um jogo focado nisso apesar de tentar disfarçar um pouco mais que a maioria introduzindo um número maior de cinemáticas e tentando abranger algumas temáticas diversificadas nesse planeta corrompido para enriquecer o conteúdo de mundo.

O problema está quando seu objetivo principal tem falhas estruturais gravíssimas. As taxas de loot são pouco generosas e não tem muita diversificação nos estilos, tão pouco em termos de desenhos das armas que incentivem o jogador a manter aquele equipamento “maneiro” ainda que ultrapassado em termos de level. A paleta de cores usada nesses itens é bem decepcionante. O oposto da opção artística na qual o mundo do jogo foi construído.

A pergunta importante nesse tipo de jogo é: “Quão prazeroso é atirar em Outriders? A mira das armas é precisa? A resposta é: após duas semanas de lançamento o game ficou prazeroso no quesito tiro, antes disso não. E a sensibilidade da mira foi ajustada após o último patch.

Problemas de conexão

Por falar em atualizações técnicas do jogo. Esse é um divisor de águas para que uma análise coerente possa ser realizada. Após duas semanas de seu lançamento, Outriders teve corrigido problemas como a movimentação do personagem quando corre. Que ocorre de maneira mais fluída agora.

A inteligência artificial dos inimigos foi um pouco mais ajustada para que o oponente não fizesse mais cover em uma barreira invisível bem em frente ao jogador. Se tornando uma presa fácil para o abate.

A estabilidade em desempenho em um jogo online é muito influenciada pelo estado do servidor. Já que mesmo em 2021 o jogo oferece a obrigatoriedade de estar conectado para poder jogar até mesmo sozinho, um fato lamentável. É natural que a conexão seja uma maravilha correto? Quem dera! Desde o seu lançamento a instabilidade e quedas no servidor são frequentes e até a data desta análise ainda são recorrentes.

Entrar no menu principal do jogo é o primeiro desafio imposto ao jogador. Mais de dois minutos para poder escolher missão e tipo de jogo (solo ou co-op). Após superar esse desafio é necessário esperar em média por 35 segundos para o início da missão.

O detalhe mais assombroso entre tantas desconexões é que esses loadings iniciais excessivos não aconteciam no dia do lançamento. Mas sim, após as supostas melhorias. Que trouxeram na bagagem mais um erro fatal para o abandono de quem está no jogo. Os loots sumiram de diversos inventários.

Justamente o foco principal do game teve esse problema detectado por alguns jogadores e por mim também. Ou seja, loots raros conquistado na raça em dezenas de horas jogadas simplesmente sumiram.

Uma das features para o incentivo em criar uma comunidade variada no jogo era poder jogá-lo entre plataformas. Sendo assim, um jogador do PC poderia jogar em cooperação com alguém jogando em console. Mas esse recurso foi retirado para balanço, por apresentar problemas de conexão entre as plataformas.

Isso é bem frustrante já que o jogo se destaca bem mais quando jogado em co-op. A combinação de combos entre diferentes classes pode render muitas horas de jogatina e uma diversão garantida. É um desperdício não experimentar este game com os amigos. Especialmente após corrigidos os principais erros citados anteriormente.

Publicação e Desenvolvimento

Outriders foi lançado no dia 1 de abril de 2021. Publicado pela Square Enix e desenvolvido pela People Can Fly, o jogo está disponível para PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series S e X.

Nota
Geral
7.3
outridersUm competente lootshooter em terceira pessoa. Bem ambientado. Mostrando uma preocupação superior a seus concorrentes do gênero em criar um mundo e um enredo para ele, de forma mais digna para um triple A. Há um bom caminho a ser trilhado caso consiga corrigir seus muitos erros de conexão. Infelizmente muitos jogadores podem não querer esperar isso acontecer. Utilizando de uma receita industrial, Outriders diverte, mas não encanta como poderia. É apenas mais um game daqueles que estão no meio termo entre os melhores e piores do ano.