Frenético! Se, no lugar dessa crítica, me fosse pedido para definir Oddballers em uma única palavra, frenético seria. Começando por aí, podemos pensar que é um jogo bagunçado. E é. Só que é o melhor tipo de bagunça que poderíamos esperar de um jogo em que não se ter noção do que está acontecendo em todos os instantes de uma partida, é algo muito relevante.

Lançamento da Ubisoft, a poderosa empresa por trás de várias franquias de enorme sucesso (Assassin´s Creed, Far Cry, Rainbow Six, Splinter Cell, Rayman, Watch Dogs e mais), Oddballers é uma nova aposta bastante comprometida em ser descomprometida da empresa.

E esse compromisso com o descompromisso, ou seja, a missão de realizar algo bem arquitetado e desenhando mecanicamente em prol da diversão e do passatempo, são vantagens que se sobressaem e despertam a vontade de sempre jogar a próxima partida, o próximo conjunto de fases e assim vai.

Para além disso, o jogo se sai muito bem no que diz respeito à inteligência artificial dos bots que disputarão contra o jogador ou jogadores. Afinal, há jogos que possibilitam um multiplayer que, a partir dele, se tornam ainda melhores, mais desafiadores e engraçados. Jogar com uma turma de amigos ou com um companheiro de jogatina fiel sempre torna as desventuras em um jogo mais interessantes. De forma bastante competente, no caso de Oddballers, não ter pessoas reais se somando às partidas para ser do mesmo time ou não, não parece ter feito grande diferença.

Nas horas dedicadas ao jogo, umas das coisas percebidas foi que os bots controlados por computador emularam muito bem os trejeitos humanos. Em determinado momento, precisei checar se eu não estava realmente disputando partidas contra pessoas de verdade. E, para minha surpresa e felicidade, não. Isso, óbvio, conta pontos para o jogo. Afinal, como estamos falando de um game que lida, entre outras coisas, com fatores como sorte, perspicácia, inteligência e agilidade, dosar desproporcionalmente alguns destes fatores para os personagens não controláveis (NPCs) poderia suscitar certa artificialidade. Não é o que acontece, felizmente.

Aspectos da jogabilidade

Em termos de gameplay, Oddballers se aproxima de outros dois jogos recentes e bastante famosos. A Ubisoft, claro, se não se importa em reciclar mecânicas dos seus próprios jogos, se arriscando perigosamente no terreno do mais do mesmo, certamente possui ainda menos pudor em trazer aspectos da jogabilidade de outros jogos.

Com isso, logo de cara e durante as horas jogadas, pareceu que eu estava jogando uma mescla de Fall Guys e Overcooked. Na estruturação de partidas, design de personagens e aspectos de competividade, Oddballers demasiadamente lembra Fall Guys, um enorme sucesso saído há poucos anos e que movimentou milhões de jogadores para disputar uma série de olimpíadas da desorganização (divertidíssimas, aliás!).

Já em termos da movimentação dos personagens e até com relação à direção de arte de certos elementos, além da interação com eles ou a partir deles, foi impossível não lembrar de Overcooked, a série de jogos sobre cozinhar em meio aos ambientes mais caóticos possíveis: no meio do trânsito, em um barco pirata e além.

Aproveitando o tema das comidas e olimpíadas, é fácil dizer que Oddaballers cozinha bem o ambiente das suas disputas e entrega um jogo competente, desafiador e engraçado. No entanto, ele se propõe a ir além e, como um bom jogo de início (?) de franquia, estabelece as suas próprias regras e diretrizes, certamente para também criar a sua própria identidade.

Em essência, Oddballers é um jogo de queimada(o), aquela brincadeira/jogo/disputa que acontecia nas ruas, campos e areias do Brasil antes da massificação da tecnologia e virada do século 20 para o 21. A brincadeira, assim como no jogo, consistia em arremessar uma bola na direção de um competidor do time rival para que atingisse alguém. Se o alvo conseguisse segurar a bola, teria a chance de, logo em seguida e no calor do momento, arremessar a bola de volta em seu atacante. Se a bola pegasse em alguém, esse alguém era eliminado da partida.

Oddballers carrega pra si esse último aspecto da brincadeira para dentro da mecânica do jogo. A pessoa atingida está fora. Ainda assim, no caso do game, não se está totalmente de fora da partida. Quem está de fora da partida por eliminação em combate ainda pode realizar algumas pequenas ações que poderão alterar o rumo da disputa.

Para além disso, existem muitos outros elementos dentro do contexto de cada disputa para além da bola ou objeto que deve ser arremessado na outra pessoa. Com isso, o frenesi da disputa acontece durante todos os segundos ou minutos que demorem aquela disputa.

Dessa forma, para além de ser tão “somente” um jogo de queimada(o), Oddballers estabelece suas próprias regras da disputa e mostra que a maior de todas as regras é o caos. Para si ou para os outros jogadores, estabelecer o caos dentro de cada combate pode ser a única regra que se sobressaia às outras.

Apesar do objetivo básico ser coletar e atirar coisas para vencer, há muitas formas de se ganhar. E sempre há um jeito de se sair vencedor sem acertar ninguém. Basta, assim, não ser acertado. Ou ser acertado menos que os outros. Ou ainda torcer por explosões desenfreadas que nem sequer foram causadas pelo jogador, mas, por não se estar perto delas, escapa-se por pura sorte de não se buscar o conflito. Ainda assim, o caos impera de onde menos se espera, e essa é a beleza de Oddballers: não há como se prever nada do que vai acontecer. Contar com o incontável é única regra.

Por exemplo: em algumas batalhas, deixamos de ser o personagem montado e escolhido e, por acasos do desenrolar da partida, somos transformados em outra coisa. Essa outra coisa precisa lutar ainda mais duramente para não ser atingido. Algumas vezes, só resta fugir, visto que nem atacar é possível.

E é assim que, mais do que atacar desenfreadamente – ainda que esta também seja uma tática possível de jogo –, Oddballers força o jogador a aprender a se afastar quando deve, atacar quando precisa, esperar se for melhor, esquivar na hora certa e saber se aproveitar do erro alheio nos instantes propícios. Uma salada de opções de acontecem em mini arenas que vão do 0 a 100 de insanidade muito rapidamente, ainda bem.

Nota
Geral
7.0
oddballersNos últimos anos, ao que tudo indica, a Ubisoft aposta em uma divisão bem clara em relação ao enquadramento de gênero dos seus jogos. A invisível linha que separa os gêneros aos quais a Ubi tem abraçado, comporta e parece encaixar bem dois gêneros: os mais sérios, profundos e com centenas de horas e, os mais leves, menores e despretensiosos. Neste último quesito, a produtora tem se saído muito bem. E que continue assim, pois Oddballers possui potencial.