Mass Effect nasceu e morreu na sétima geração de consoles, e não finja que isso é mentira. Com alguns anos ainda pela frente para renascer e tentar colocar o nome e reputação da Bioware nas bocas, a EA relançou a trilogia de uma das séries mais aclamadas e adoradas pela legião de jogadores que tinham pelo menos 16 anos quando o jogo original estreou.

A estética e a narrativa de aventuras espaciais não me cativam tão facilmente. Halo, por exemplo, só me pegou pelo seu shooting perfeitamente adequado e sem gorduras; Star Wars, ao menos os originais possuem uma pitada de nostalgia e ingenuidade que foi se criando conforme a modernidade avançava.

Popular, porém denso

Mass Effect é uma franquia que joga caminhões de nomes, lugares e eventos em cima do jogador, e de cara poderiam causar preguiça, mas a forma com que os diálogos se dão, sendo naturais ao mesmo tempo sem serem expositivos demais, fazem crescer algo dentro de nós já na primeira metade de hora.

Só não se deve partir para o jogo achando que seu sistema de ação representa um shooter em terceira pessoa exímio, muito longe disso aliás. Atirar no jogo soa quase como uma desculpa para entrelaçar seus contos e conversas. E tudo bem, pois existem jogos que nem tentam direito e preferem ser apenas caminhadas em corredores.

Cries in PT-BR

O grande ponto de contenda com este lançamento em 2021 que você não verá em sites gringos, é a falta de legendas em português, atestando o que a EA pensa do público brasileiro. “Um bando de gente que não prioriza leitura nos jogos, que só querem pegar um jogo e apertar o gatilho ou chutar uma bola usando o gamepad”. E mesmo que isso estivesse correto, é bom que alguém dê um passo à frente na hora de apresentar propostas diferentes ao público geral, como um RPG disfarçado de shooter em terceira pessoa, que vai demandar horas e horas de leitura ao bom estilo Fallout e Elder Scrolls.

Um tapa na galáxia

Aliás, apesar da cobertura gráfica estar mais nítida do que nunca, certas coisas não são simples de se remediar num remaster. É aí que fica de fora um trabalho de refazer a captura corporal de movimentos ou até mesmo colocar mais emoção nas delicadas texturas que um rosto digital humano demanda. Os olhares continuam os mesmos, de peixe morto

Retirados completamente, foram os efeitos chamados de glooming presentes em muitos, muitos jogos da era Xbox 360 e PlayStation 3. Esse efeito era detestável, dando uma espécie de luz cintilante própria a todos os objetos de um cenário. Uma forma super estranha de simular reflexos de luz e esconder serrilhados. Agora tudo está nítido, sem truques, e amém por isso. A coloração foi mudada, e todas as vezes que vi a mudança, sinto que foi para melhor, sempre.

Os rostos dos personagens foram melhorados sim, mas ainda parecem próteses duras, emborrachadas. A sorte é que o jogo conta com o design mais interessante e convincente de raças alienígenas que eu já vi em qualquer obra, portanto o desconforto maior é quando queremos mesmo que sem querer, comparar o máximo possível os humanos deste jogo com os humanos de um jogo atual com grande investimento.

Para a minha sorte, eu já contava com as versões originais em disco para Xbox 360 (imagine que, o primeiro jogo nem possuía achievements ainda), então pude trazer Legendary Edition para cá, falando sobre ele como pacote e não como um jogo inédito sendo lançado em 2021. A versão experimentada do novo pacote foi a do PlayStation 5, mas as pessoas podem ficar tranquilas que a versão PS4 executa o game em 60 frames por segundo. Para os hardcores dos specs, a decepção da versão PS5 vem em forma do fato de frames também: enquanto a versão Xbox Series X alcança 120 frames por segundo em 4K, o PS5 não vai passar de 4K e 60fps.

Efeito em massa (não aplicável ao Brasil)

A conclusão é de que Mass Effect Legendary Edition se safa com folga não pelo seu trabalho de remasterização, mas se reafirmando como um jogo gostoso de se acompanhar através da narrativa. Uma pena que isso foi negado a pessoas que não estudaram inglês e não, a desculpa de que quem joga videogames hoje em dia deveria já saber inglês é ridícula.

Estúdios são compostos de indivíduos de várias regiões do mundo, um movimento  multicultural que não se traduz uma vez que o projeto passa na peneira de acionistas e engravatados usando camisas havaianas fingindo estar do lado criativo da indústria. De qualquer forma, a EA assume que se você é um brasileiro afim de explorar três largos RPG ‘s ocidentais, você automaticamente já está inserido no seleto grupo de pessoas que pelo menos lêem em inglês.

Mass Effect é a amálgama da fórmula Bioware, como existe a fórmula bastante similar nos dois maiores hits da Bethesda como estúdio. A sensação de vastidão e viagem entre sistemas e planetas traz um sentimento genuíno de importância a tudo que se está fazendo nas campanhas. Ter um pacote completo com todas as DLC ‘s de três jogos é a maior benção que três jogos de quase 15 anos de idade e de preço cheio pode oferecer.

Nota
Geral
7.8
mass-effect-legendary-editionPara pessoas que possuem uma carteira segura e podem gastar, podem ler inglês, não esperam que o gameplay em si seja espetacular, sabendo que o foco é completamente outro e estão com um considerável tempo livre mas nunca jogaram um jogo da série, Legendary Edition é compra certa. Para todo o restante, fica para uma próxima vez quando os astros se alinharem e os brasileiros forem melhor tratados.