Existem muitos super-heróis. Super-heróis com bons jogos, não tantos. O nosso querido cabeça de teia tem a sorte de ter boas adaptações com seu nome e máscara estampada na capa de um jogo. Sim claro, alguns jogos bons e muito bons e como ninguém é perfeito, com alguns tropeços também.

A Insomniac, estúdio por trás de grandes jogos como Spyro, Ratchet and Clank e Sunset Overdrive, recebeu a missão de entregar um grande título protagonizado pelo amigão da vizinhança. Lançado em 2018 exclusivamente para Playstation 4, Marvel ‘s Spider-Man logo de cara agradou gregos e troianos. Do fã mais apaixonado e chato de quadrinhos, ao jogador mais casual que só quer se divertir em um jogo de ação.

Após 4 anos disponível apenas para o ecossistema da Sony, o melhor jogo que o Homem-Aranha poderia ter, está chegando para os Computadores no dia 12 de agosto na sua versão remasterizada, que também já havia sido lançada anteriormente para Playstation 5 e que conta com 3 expansões que adicionam algumas horas a mais de jogo e história.

O acerto de um estúdio experiente para um Peter Parker maduro

É curioso parar para pensar que por mais que tivessem lançado grandes títulos antes de Marvel’s Spider-Man, a Insomniac jamais flutuou na indústria como um dos grandes estúdios de videogame no mainstream. Em mais de 20 anos, foram lançados jogos com gameplay sempre bem trabalhados, mas o público, meio que, sempre lhe tratou como aquele chefe que dizia “parabéns pelo seu excelente trabalho, agora toma aqui mais trabalho”. Quem jogou Sunset Overdrive sabe do que eu estou falando. Esse jogo merecia, e merece muito mais.

O estúdio americano usou toda sua experiência nesses jogos anteriores para criar a sua obra-prima no quesito técnico e de jogabilidade, que eu irei elogiar logo mais. Mas toda essa experiência se reflete na excelente escolha de nos colocar na pele de um Peter Parker amadurecido, com as dores de sete anos dentro de um uniforme de super-herói, já sabendo dos seus grandes poderes e sempre lidando com suas grandes responsabilidades.

É lógico que é muito mais fácil não precisar contar a origem de um personagem que está no consciente popular de milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas ainda assim é motivo de elogio por essa proposta que nem sequer estúdios de cinema ousam fazer.

Cinco minutos. Esse é o tempo máximo com a mão no controle que o usuário leva para aprender os controles e do nada perceber que não está mais controlando o Homem-Aranha, e sim, se tornou ele. Desde o primeiro balançar de teia, ficou claro: podemos fazer o que quiser nessa Manhattan extremamente detalhada.

Movimentar-se pela cidade com absoluta liberdade e agilidade, balançando e impulsionando-se entre prédios, ou lutando contra marginais fazendo os movimentos e combos mais impossíveis de se imaginar nos lugares mais improváveis que você possa alcançar. É o quadrinho em sua verdadeira essência.

Coração ligado, beat acelerado

Marvel ‘s Spider-Man Remastered é uma verdadeira catapulta. Tanto no seu gameplay gratificante para saltar sobre os prédios de Manhattan, quanto para as decisões que você toma durante o jogo. Aqui nós temos um jogo típico do que se esperava de um mundo aberto da década passada.

Ou seja, após você ficar maravilhado com o jogo nas primeiras horas, é normal que comece a sentir fadiga após algum tempo devido a repetitividade. Vá até a torre mais alta dessa região para liberar a área para encontrar milhares de ícones espalhados pelo mapa esperando apenas você jogar uma teia e missões secundárias que não entrega muita coisa interessante. Sim, até parece que estou falando de um open-world qualquer que a Ubisoft lançou em meados da década de 2010.

Mas apesar de sofrer com esse mesmo mal, Spider-Man tem um trunfo gigantesco: tudo nele é muito rápido e prazeroso. Por mais repetitivas que sejam as suas tarefas, elas são concluídas muito rapidamente. A Insomniac encheu Manhattan de missões opcionais e itens colecionáveis. Há bastante variedade nesses desafios, desde derrotar ondas de inimigos até derrubar um grupo deles furtivamente, tirar fotos, perseguir pombos(?) ou encontrar itens.

Em geral, há bastante variedade e, embora acabem sendo repetidas, elas são rapidamente executadas. Correndo o risco de o jogo não ser muito longo, a Insomniac não quis abusar e, por exemplo, um dos colecionáveis ​​nos convida a capturar 12 pombos, uma quantidade que não é tediosa. Se tornou pra mim uma experiência dinâmica no momento em que eu parei de tentar completá-las todas de uma vez, e comecei a intercalar com a missão principal.

Então se no caminho da minha missão, existe um assalto, então vamos pendurar os bandidos com as nossas teias. Se existe uma mochila que Peter Parker prendeu há anos com algum item que conta alguma história do passado desse Peter Parker, então por que não parar para apreciar essa forma excelente que a Insomniac integrou ao jogo pra gente saber um pouco mais sobre o passado desse jovem responsável?

É repetitivo? É repetitivo. É divertido? Poderia ser mais. A facilidade com que tudo é entregue no minimapa é um problema que perdura e mostra a fragilidade que um jogo de mundo aberto em 2018 tinha. Em Marvel ‘s Spider-Man Remastered ficou bastante explícito onde a Insomniac depositou a maior parte do seu trabalho.

A movimentação, a agilidade do cabeça de teia e o combate, são das coisas mais prazerosas que já tive a sensação de controlar. Mas por várias vezes é possível perder essa imersão que você tem quando você precisa novamente realizar uma missão secundária que por mais que tenha uma história diferente, ela sempre acaba nas mesmas atividades que você faz desde a primeira hora de jogo. Sabe aquele gostinho de quero mais? Ele está sempre presente.

Bata como uma aranha, aperte botões como o Batman

Como dito anteriormente, a Insomniac já sabia fazer um combate ágil, rápido e prazeroso para o jogador. E como não poderia ser diferente, ela reuniu tudo que já havia feito em seus títulos anteriores, colocou num liquidificador e botou uma pitada de Batman Arkham e Remember Me para misturar e saiu o melhor combate de um jogo de super-herói que já vi.

Se de um lado você tem um Batman super pesado e com combates fortes, aqui você tem um magrelo extremamente ágil. Marvel’s Spider-Man corrige um detalhe que eu nunca engoli no combate da série Arkham: o fato de um cidadão com mais de cem quilos, estar a 8 metros de distância de um bandido e com uma simples esquiva ele consegue chegar de forma absurda para dar um soco no meliante que acabara de tentar te bater.

A Insomniac até poderia ter feito isso, afinal o homem-aranha é muito mais leve e rápido. Mas ela optou por algo mais imersivo. Se o inimigo está muito longe, não tem como simplesmente esquivar e chegar batendo nele. Precisaremos lidar com ele de outra forma. A distância, claro. No quesito agilidade, jogar Marvel ‘s Spider Man Remastered me lembrou muito o excelente combate que Remember Me, jogo lançado em 2013, tem.

O uso de gadgets e a rapidez para você deixar de usar as mãos para dar pontapés nos seus inimigos através de inúmeros combos possíveis, é uma clara inspiração aqui em Marvel ‘s Spider-Man Remastered.

A Insomniac criou um combate muito ágil, muito rápido, no qual os inimigos nos atacam à distância um do outro e no qual é importante se mover rapidamente de um lado para o outro. Há bastante variedade de inimigos, mas nada que não tenhamos visto até agora em outros jogos (inimigos que bloqueiam todos os ataques frontais e outros que os repelem, outros que são imunes a gadgets, alguns que carregam armas corpo a corpo, rifles, lançadores de foguetes, etc.), e o jogo dá muita ênfase ao combate aéreo, pegando inimigos no ar e fazendo os combos lá.

À medida que lutamos, aumentamos a barra de foco que usamos para fazer ataques especiais e, à medida que ganhamos pontos de experiência, podemos investir em várias melhorias que nos ajudarão a despachar os inimigos com mais facilidade. A qualquer momento podemos interagir com elementos que compõem o cenário para usá-los contra nossos oponentes, como uma arma improvisada.

Por vezes, usamos até mesmo nossos próprios adversários como arma, enquanto vamos para o próximo inimigo ou esperamos a próxima onda. Dito isso, a câmera nem sempre parece funcionar a nosso favor; é comum que após uma execução a um bandido com efeitos sonoros e uma abordagem ala Michael Bay de cinematografia, sejamos colocados em uma posição desfavorável para continuar com o ritmo do combate e dependermos exclusivamente do nosso senso de aranha para nos esquivar e encontrar a fonte de o ataque novamente.

Em alguns mapas, a navegação ao lutar contra muitos inimigos de diferentes alturas também não funciona perfeitamente e outras vezes, embora que raramente, a inteligência artificial decide nos ignorar e parar de nos atacar completamente. Pequenos problemas em um combate que é muito variado devido ao número de possibilidades

Eu me apaixonei por cada um dos gadgets que a Insomniac criou para esse título. Mas é uma pena que nenhum desses gadgets, poderes de trajes especiais e habilidades desbloqueadas sejam necessários para completar o jogo quando não estamos em uma missão linear e roteirizada, exceto o tradicional atirador de teia que temos no nível 1.

Encontros muito mais imaginativos contra chefes ou subchefes poderiam ter sido projetados para usar essas possibilidades, em vez de basicamente se esquivar e apertar um botão para derrotá-los. Até entendo que esta pode ter sido uma decisão voluntária de design da Insomniac e, francamente, sinto que foi uma possibilidade desperdiçada que teria adicionado um pouco de sentimento de vitória às lutas.

História nova, velhos conhecidos

Apesar de Marvel ‘s Spider Man Remastered tentar passar uma sensação de liberdade, ele está longe disso no quesito narrativo. A Insomniac tratou de colocar você dentro dos trilhos para ir acompanhando a história de forma bem sequencial. Sem entrar em detalhes para o novo fã do PC que estará colocando as mãos no jogo pela primeira vez, é possível dizer que a história é bem contada, e é ótimo ver certos personagens evoluírem.

As personalidades são muito bem definidas desde o início, com um Peter Parker sempre pronto para soltar uma piadinha vez ou outra, e com as relações entre os personagens bem elaboradas. Peter ajuda sua tia May a administrar um abrigo para sem-tetos e continua lutando para pagar o aluguel, apesar de seu alter ego ostentar mais de 15 milhões de seguidores em suas mídias sociais.

E ele também tem que lidar com o constante assédio que o JJ Jameson faz dele em seu podcast, outro belo acerto do estúdio que optou por deixar essa figura lendária sempre presente durante o jogo de uma forma bem atual.

O jogo começa com um ar de otimismo onde tudo parece ir de vento em popa depois de confrontar e prender o Kingpin , dono e senhor do crime na cidade. Mas, é a partir daí, que a cadeia de eventos que será desencadeada levará nosso herói a enfrentar alguns dos vilões mais emblemáticos que o escalador de paredes já teve. A quantidade de vilões que você toma ciência logo no início do jogo pode te deixar um pouco angustiado, mas aos poucos você vai tomando clareza sobre a proporção da história.

Claro, não espere uma história memorável, pois, assim que você conhecer o universo, poderá ver a grande maioria das situações sendo solucionadas de formas um pouco decepcionantes.

Os grandes vilões de décadas e décadas de Homem-Aranha estão quase todos aqui e você os enfrentará. E foi nesse quesito que veio o maior balde de água fria em relação a este título. Toda a liberdade de combate que temos para enfrentar inimigos menores, é transferido para algo completamente roteirizado, dentro dos trilhos e recheado de Quick Time Events onde você irá resolver a maioria das batalhas se esquivando, esperando a guarda do vilão baixar e você apertar um botão na hora correta. É um verdadeiro soco no estômago para um jogo que é tão ágil e preza por isso em 90% do seu tempo.

Um port de excelente qualidade no PC

A Sony mais uma vez entrega aqui uma versão muito bem otimizada para os computadores. Após um início conturbado com Horizon Zero Dawn e Day’s Gone tendo problemas em seu lançamento, Marvel ‘s Spider Man Remastered segue o mesmo primor técnico que o lançamento de God of War teve, quando foi lançado em janeiro de 2022 para PC.

A versão de PC conta com os principais recursos presentes na edição lançada para Playstation 5, ou seja, pode se esperar o excelente suporte ao Ray Tracing, novos gráficos e a nova face do Peter Parker (que nessa ocasião, parece quase um primo do Tom Holland). A principal novidade fica por conta do DLSS que está muito bem implementado no jogo, onde eu consegui colocá-lo para rodar em 4K e não tive problemas com quedas de taxa de FPS usando uma RTX 2070 Super como placa de vídeo e um Ryzen 3800x como processador.

Além do mais conhecido DLSS, o jogo também conta com a tecnologia DLAA (Deep Learning Anti-Aliasing) que basicamente usa a mesma tecnologia de machine learning do DLSS para reduzir os efeitos de serrilhados nos diferentes objetos renderizados no jogo.

A outra grande novidade, é o suporte a monitores ultra-wide. O jogo é compatível com telas ultra-wide e as proporções de resolução 16:9, 16:10, 21:9, 32:9 e 48:9. A resposta tátil e os efeitos dinâmicos dos gatilhos adaptáveis do DualSense também estão funcionando perfeitamente nessa versão de PC. É uma pena que infelizmente ainda é preciso usarmos o Dualsense conectado ao cabo USB para obter uso dessa feature. Ainda não é possível ter uso do feedback tátil por meio de conexão sem fio via bluetooth. Então, fica a escolha do usuário.

Além dessas implementações, também temos algo que, de certa forma, já era esperado em relação a esse port para PC, como mais configurações de qualidade gráfica (como de sombras, nível de detalhes, texturas e mais) além de opções para jogar em tela cheia, tela cheia sem borda ou modo janela. O usuário de PC Gamer estará em casa com as diversas opções de configuração gráfica que o jogo oferece em seu menu.

O único ponto negativo que se manifestou em minhas mais de 20 horas de jogo, foi alguns bugs nas cutscenes. Em várias ocasiões, algumas cutscenes simplesmente travavam o áudio e ficava só a imagem. Ou acontecia exatamente o contrário, da imagem travar e o áudio continuar. Por outras vezes, também de forma inexplicável houve algumas, mesmo que poucas, cutscenes, que sequer foram concluídas e o jogo seguiu. Mas vale salientar que a versão que recebemos para testar o jogo, ainda não conta com o tradicional Patch Day One, que normalmente corrige esses e outros problemas presentes na versão atual.

Vale a pena?

Algo que jamais passaria pela cabeça de um jogador PC anos atrás, já está se tornando algo rotineiro. Os principais títulos presentes no Playstation estão finalmente dando as caras em uma outra plataforma. Marvel ‘s Spider-Man Remastered foi um dos melhores títulos lançados para Playstation 4. E se você não teve a oportunidade de jogá-lo, assim como eu, sem dúvida alguma é um prato cheio e um dos maiores lançamentos do ano para o PC.

Marvel ‘s Spider-Man foi o melhor título do aracnídeo criado até hoje, e essa remasterização o torna uma das propostas mais interessantes mesmo em 2022. Jogá-lo em 4k com HDR e ray tracing é uma experiência incrível. Este é um trabalho respeitoso, que mostra que o estúdio fez com muito amor e teve respeito pelo personagem, entregando um título cheio de referências para quem conhece o super-herói vai se sentir em casa.

E tudo isso por trás de um combate primoroso. Apesar de existir alguns vícios de um jogo open world lançado em 2018, o ritmo do jogo faz com que algumas atividades repetitivas passem despercebidas devido a fluidez com que são completadas.

Caso você já o tenha jogado, acredito que é possível dividir em duas opiniões para responder se vale ou não comprar no PC:

Se você o jogou no Playstation 4, e nunca mais tocou no jogo e não aproveitou as expansões lançadas posteriormente, sem dúvida alguma vale muito a pena dar uma nova chance. Além de ter todo o upgrade gráfico e uma taxa de quadros maior ao seu dispor, você também contará com as 3 expansões que estão disponíveis nessa versão do jogo, entregando então, mais 8 horas de história.

Mas se você já experimentou o jogo em um Playstation 5, talvez as novidades que estão presentes na versão de PC não sejam o suficiente para motivá-lo. Mas claro, se você é um fã do Homem-Aranha e está disposto a jogá-lo novamente, sem dúvida alguma, jogá-lo no PC pode ser mais uma opção para você passar horas balançando-se entre os prédios de Manhattan.

Nota
Geral
8.5
marvels-spider-man-pcO aracnídeo mais famoso da cultura pop aterrissa no PC pelas mãos do estúdio que melhor soube trabalhar o personagem desde Spider Man 2, lançado em 2004. Com claras inspirações e sabendo o que pretende entregar desde o primeiro minuto de jogo, Marvel 's Spider Man Remastered cheg no PC com um port primoroso recheado de opções de configuração para alegrar a vida de todo PC Gamer.