Eu ouço os gritos com vividez, enquanto cavalgo na enseada. São pescadores em apuros. Ao investigar, vejo que existem vítimas de um crime, cujo suas línguas foram cortadas e sangraram até morrer. Logo os mongóis apareceram, provavelmente uma tentativa de emboscada.

Enquanto a areia virou palco para a batalha sangrenta, um dos inimigos estava numa pequena duna entoando cânticos xamãs, fazendo os guerreiros logo abaixo lutarem com uma fúria incessante.

Após derrotá-los, já estou de posse de informações preciosas. Os horrores, altares estranhos, xamãs e guerreiros ensandecidos vêm da ilha vizinha, Ikishima. É preciso investigar e impedir que eles invadam a grande ilha de Tsushima e ela por inteiro vire um local de moradores tomados pela loucura.

Esse mote místico, mas ao mesmo tempo bastante tangível, conduz a expansão de Ghost of Tsushima, em forma de uma pequena ilha, localizada logo a sudeste da ilha principal. Logo ao chegar em Iki, Jin é recebido por um clima soturno e ficamos imaginando se o tom desse conteúdo seria tão distanciado do coloridamente lindo jogo principal. Fiquem tranquilos – a história levemente mais sinistra não deixa a melhor direção de arte que vi em anos, ser ofuscada.

Dessa vez Jin é assombrado, literalmente, com a dubiedade que cai sobre ele sobre a culpa de ter sido responsável pela morte de seu pai, um fato acontecido enquanto ainda era adolescente.  O nosso herói de poucas palavras não tem descanso mental mesmo. Mas também não teremos descanso físico: o nível dos desafios encontrados estão a par com o nível encontrado nos momentos finais do jogo principal, significando que você carrega todos os seus upgrades.

Basta estar no Ato II da campanha para ter acesso a essa expansão. Quem terminou a campanha e foi para Iki pode ficar preso a vícios e exploits adquiridos desde 2020, eles vão funcionar perfeitamente em Iki, então imagino que o desafio maior esteja destinado a quem entrou no conteúdo extra assim que acessou o ato II, o oposto de quem já terminou o jogo, estando provavelmente bem overpowered.

No início eu falei sobre os sons e gritos. Talvez essa seja uma boa hora para abordar as novidades técnicas. O áudio 3D, que pode ser desfrutado de qualquer fone (que preste), funciona de forma similar ao com apresentado em Hellblade: Senua’s Sacrifice. Eu não tenho mais dúvida nenhuma de onde súplicas por ajuda, arqueiros ou xamãs estão, mesmo sem estar os vendo, mesmo no meio das batalhas mais ferrenhas. Trata-se de um trabalho sensacional de localização espacial via áudio 3D.

Acompanhando também, temos o DualSense, que está reproduzindo cada passo de Jin, até o vento que corre pelos campos é reproduzido em forma de vibrações meticulosamente localizadas ao longo do controle. O barulho das lâminas se chocando também são reproduzidas no controle, como se o jogador estivesse realmente segurando uma arma e por fim, o gancho de Jin, serve no jogo para puxar e arrombar passagens de madeira.

Isso no controle é traduzido em forma de gatilhos que propositalmente resistem ao puxão. É uma mini cutscene que se resume a segurar o R2 e então o L2, só para senti-los resistindo, mas não sinto que isso fica velho. Claro, essa é uma função que fica de fora pra quem está no PlayStation 4.

Já entrando no mérito gráfico, bem, o jogo que já era lindo artisticamente e ao mesmo tempo quase fritava o PS4, só ficou mais liso e nítido e mais liso nos movimentos de seus 60 frames por segundo, ou seja, mais bonito e mais prazeroso ainda. Temos um modo de desempenho que se certifica que a taxa nunca sairá de 60 quadros, mas temos o modo qualidade visual, e mesmo assim roda com taxas altas, provavelmente também 60, mas não prometendo que ela de engasgadas em alguns momentos.

Felizmente não consegui notar em momento algum queda de FPS. Talvez essa seja uma tarefa para a galera do Digital Foundry, usando ferramentas precisas. Na prática, é bobagem achar que estão [ha]vendo as quedas.

Eu sei que você está curioso para saber a duração da expansão, pois o valor do pacote é quase metade do valor de um jogo novo hoje em vida. A ilha Iki pode ser completada com cerca de 15 horas de jogatina. Existem muitas atividades adicionais à história, que vão enriquecer a jornada e melhorar alguns poucos atributos novos que surgem, como uma nova pequena árvore de “especiais” de seu cavalo, que começa o jogo com o poder de simplesmente atropelar os mongóis, a custo de seu “MP” (chamado de determinação no game).

Ouvi falar pela internet que completar 100% da expansão poderia levar 40 horas. Acho um exagero, mas, cada um no seu tempo. Bem, o que posso dizer é que Iki compreende mais ou menos o primeiro ato da ilha principal, ⅓ dela como um todo. Se você jogou o game base, sabe mais ou menos que o sul de Tsushima basicamente é a parte com mais conteúdo em horas e território no jogo.

Agora, sobre o infame lip sync, confie em mim, não vai fazer tanta diferença. Todo mundo sabe que o foco em rostos neste game não são muito comuns. Por decisão final em não fazer cutscenes tradicionalmente elaboradas em termos de mocap, a câmera quase sempre se mantém distante das pessoas enquanto conversam – a preferência então é de aproveitar o visual das belas vistas da ilha.

Se por acaso você achou que a história era rasa demais, sem uma trama complexa, e talvez previsível, e por isso se distanciou do lançamento original, este conteúdo novo não vai ser novamente para você. 

O que quero dizer é que como quase sempre, se o jogo principal de algum produto não te agradou, é provável que um DLC ou expansão irão ter o mesmo efeito. A narrativa do último game da Sucker Punch, assim como tantos outros aspectos, parecem ser calculados. Não há pretensão de ser o próximo Martin Scorsese ou o Neil Drukmann. 

Ghost of Tsushima é um grande conto bastante enraizado na cultura japonesa (aparentemente aprovado até pelos japoneses – então quem somos nós para colocar um monóculo e analisar esta parte?) e tradicionalismo. Seus personagens estão extremamente focados no objetivo final.

Não é toda obra que necessita de um romance, uma grande trama política ou científica. Jin e todos em volta, até seus inimigos, são muito práticos e isso ajuda muito em, sabe o que? Ajuda a Ghost of Tsushima ser um videogame mais tradicional com cara moderna, confundindo muitos que acham que títulos de grande porte da Sony têm obrigação de serem épicos complexos.

A cada ano me empolgo muito com algum jogo, a ponto de querer tanto mais sobre ele, que acabou fazendo tudo em que ele se propõe. Então talvez essa seja minha segunda chance de platinar o mesmo jogo, pois Ghost of Tsushima é acima de tudo, sobre um cenário delicioso de se estar.

O resto, está apenas trabalhando para ajudar a funcionar. Mesmo assim, todos os componentes periféricos da obra possuem genuína qualidade e vontade verdadeira de ser um bom videogame, um puro videogame.

Nota
Geral
9.5
ghost-of-tsushima-directors-cut-mais-do-mesmo-game-of-the-year-de-2020As adições técnicas e até físicas só ressoam e contribuem na melhoria de um jogo que já é clássico. A Ilha de Iki é motivo para uma segunda visitação, como um pacote pomposo e cheio de vida, esperando o jogador.