Como um jogador que passou mais de 200 horas em Elden Ring, uma parte de mim sempre desejava algo cooperativo – algo mais coop do que o que já conhecemos – vindo da FromSoftware. Isso me deixou bastante receoso, eu admito, até eu sentir a primeira experiência do game, o recém-lançado Elden Ring Nightreign. Fui lançado de cabeça em um mundo familiar, mas com uma pegada totalmente nova, e posso dizer que minhas preocupações iniciais se dissiparam como névoa no amanhecer de Lands Between. É uma aposta ousada da FromSoftware em um gênero que eles não exploraram tão profundamente, e o resultado é uma experiência que, embora desafiadora, consegue ser incrivelmente recompensadora.

A Sombra que Consome: A História de Nightreign

A história em Elden Ring Nightreign, embora diferente da grandiosa saga de um Marika ou Radagon no jogo base, é intrinsecamente envolvente e perfeitamente adaptada à sua proposta. Ela nos transporta para um ciclo eterno de noites crescentes, onde a luz da Erdtree, tão vital em Elden Ring, se apaga e criaturas sombrias emergem para consumir o que resta das Lands Between. Nós, os Nightfarers, somos a última linha de defesa, incumbidos de impedir o avanço da “Reinado da Noite” (Nightreign) que ameaça engolir o mundo em um breu sem fim.

A narrativa se desenrola a cada “noite” que enfrentamos – sessões de jogo que duram aproximadamente 45 minutos. Durante essas expedições, revelamos fragmentos de lore sobre os Forgotten, entidades deixadas para trás no ciclo de vida e morte que agora buscam vingança, e sobre o próprio Night Lord, a fonte primordial da escuridão. Não há um George R. R. Martin assinando a lore desta vez, mas a FromSoftware mais uma vez demonstra sua maestria em criar um universo rico e misterioso, que nos puxa para cada detalhe e especulação. A urgência da narrativa é palpável, impulsionando a cada ciclo a enfrentar a escuridão antes que ela se torne insuperável.

O Ciclo Viciante da Sobrevivência Noturna: Gameplay e Progressão

A gameplay é o coração pulsante de Nightreign e o que o diferencia de seu predecessor. Logo de cara, você se vê imerso em um ciclo viciante de loteamento e combate roguelike. A cada partida, a busca por itens se torna crucial. Temos que saquear e procurar incansavelmente por Runes, que agora funcionam como moedas para comprar melhorias temporárias e consumíveis na base, além de fragmentos de armas e armaduras que podem ser equipados durante a “run”. Talismãs e cinzas de guerra também são encontrados, adicionando camadas de personalização e estratégia.

A possibilidade de melhorar as armas é um alívio, pois nos permite adaptar nossa estratégia e enfrentar inimigos cada vez mais fortes. Essas melhorias são temporárias e se aplicam apenas à “run” atual, enfatizando a natureza roguelike do jogo. As mecânicas de combate são fluidas e responsivas, uma herança direta do combate visceral e satisfatório de Elden Ring, mas com um foco muito maior na sinergia entre os três jogadores. A coordenação é fundamental para o sucesso, seja para flanquear inimigos, reviver aliados caídos ou combinar habilidades para devastar chefes.

A evolução do seu Nightfarer em Elden Ring Nightreign é uma jornada de persistência e estratégia, diferente do que se poderia esperar de um roguelike puro. Ao contrário de muitos jogos do gênero, seu nível e atributos resetam a cada nova expedição. A cada incursão nas terras tomadas pela noite, você coleta Runas ao derrotar inimigos e explorar o ambiente. Essas Runas são o seu combustível para o crescimento, permitindo que você suba de nível de forma permanente. Com cada avanço, seus atributos como Vigor (vida), Mente (FP), Força, Destreza, Fé, Arcano e Inteligência são aprimorados, fortalecendo seu Nightfarer para os desafios cada vez mais intensos.

As habilidades de cada classe são um show à parte: elas são diversas e incentivam a experimentação e a coordenação de equipe. Cada Nightfarer, seja um ágil Bladedancer (dançarino de lâminas), um robusto Shieldbearer (portador de escudo), um misterioso Spellcaster (conjurador de feitiços), ou outras como o Wylder (um bom geral) e a Duchess (focada em destreza), tem um papel vital na dinâmica do trio. A FromSoftware conseguiu dar a cada classe uma identidade única, o que é crucial para um jogo cooperativo.

Todas as classes são divertidas, mas a Espectro é a minha favorita. A habilidade de invocar fantasmas e usar uma espada é um combo muito poderoso, permitindo-me controlar o campo de batalha, distrair inimigos e causar dano significativo de longe e de perto. A sinergia entre as invocações e os ataques corpo a corpo é simplesmente devastadora, e se encaixa perfeitamente no meu estilo de jogo.

O Desafio Implacável e o Equilíbrio da Repetição

Sim, o jogo é muito difícil (alguns inimigos são bem fáceis de serem superados), e no começo senti bastante dificuldade, como em qualquer jogo FromSoftware. É uma curva de aprendizado íngreme, onde cada erro pode significar o fim da sua “noite” e, consequentemente, a perda de toda a progressão temporária. É preciso aprender os padrões dos inimigos, a se comunicar com a equipe e a gerenciar seus recursos com sabedoria. Porém, com o tempo, eu comecei a entender as mecânicas e como o jogo funciona rapidamente, e ficou uma experiência muito boa. O senso de superação ao derrubar um chefe desafiador com seus amigos é indescritível, um verdadeiro triunfo coletivo.

Contudo, preciso ser honesto: com o tempo ela se torna repetitiva. Sim, para mim foi o único ponto negativo, e senti que em excesso pode ser bem cansativo. Embora os cenários sejam procedurais a cada “run” e os inimigos variem ligeiramente, a estrutura roguelike de ciclos pode eventualmente pesar para quem busca uma narrativa linear e progressão contínua, ou para quem não tem um grupo constante para jogar. A FromSoftware tem tentado amenizar isso com patches que buscam melhorar a experiência solo, já que o jogo foi projetado para três jogadores. É um equilíbrio delicado entre o vício da repetição e a necessidade de algo novo, e o sucesso de Nightreign nesse quesito dependerá muito do perfil de cada jogador.

O Esplendor do Breu

Visualmente, Elden Ring Nightreign é muito semelhante ao Elden Ring original. Não há muita diferença, o que não é ruim, pois acho a estética muito bonita. A atmosfera sombria e gótica, os detalhes intrincados dos ambientes em Limveld (uma versão condensada de Limgrave com biomas novos), e o design assustador e majestoso dos inimigos são de tirar o fôlego, mantendo a identidade visual que tanto amamos. E a trilha sonora? Ah, ela é simplesmente impecável! Em diversas boss fights senti a adrenalina pura correndo nas veias, com músicas que elevam a tensão e a grandiosidade de cada confronto a níveis estratosféricos. É um trabalho artístico primoroso que eleva a imersão a outro patamar, com composições que ressoam a mesma grandiosidade épica do jogo original, mas com uma pegada mais sombria e urgente.

Minha Jornada Técnica em Lands Between

Joguei Elden Ring Nightreign em um Ryzen 5 3600, RTX 4060 e 16 GB de RAM. A experiência foi travada em 60 FPS, e boa parte do game foi uma experiência fluida e satisfatória. Não senti queda de FPS, porém, em momentos aleatórios, o jogo travava e ficava alguns segundos congelando e depois voltava ao normal. Isso acontecia bem raramente; em 5 horas de gameplay, aconteceu apenas uma vez, e durou 13 segundos. É um ponto a ser observado e que pode ser um problema para outros jogadores, mas para mim, não comprometeu seriamente a diversão.

Além disso, joguei tudo no máximo em 1080p nativo, e não encontrei qualquer tipo de bug que atrapalhou a experiência. A FromSoftware parece ter entregado um produto tecnicamente sólido no lançamento, o que é sempre um alívio em se tratando de jogos modernos.

O Chamado Persistente da Noite Eterna

Elden Ring Nightreign é uma prova de que a FromSoftware não tem medo de experimentar e inovar, mesmo dentro de suas próprias franquias consagradas. É um spin-off que se arrisca em um novo gênero, o roguelike cooperativo, e em grande parte, acerta em cheio. Apesar da repetitividade que pode surgir com o tempo, a emoção de cada nova “noite”, a sinergia cooperativa e a adrenalina das batalhas transformam cada sessão em uma jornada única e inesquecível. Para os fãs de Elden Ring que sempre desejaram uma experiência mais focada no coop, Nightreign é um prato cheio.

É um jogo que, ao abraçar o novo enquanto reverencia suas raízes, nos convida a mergulhar novamente nas Lands Between, não mais como um Tarnished solitário, mas como um Nightfarer que, junto a seus irmãos de armas, desafia a escuridão incessante. Ele nos lembra que mesmo nas sombras mais profundas, a esperança e a cooperação podem forjar um caminho para a vitória. Então, a questão não é se você vai conseguir sobreviver à noite, mas sim, por quantas noites você está disposto a lutar para adiar o inevitável?

Nota
Geral
9.5
elden-ring-nightreign-review-pcElden Ring Nightreign é uma incursão audaciosa e empolgante da FromSoftware no universo cooperativo roguelike. Embora a repetição possa ser um ponto de atenção, a sinergia de equipe, o combate visceral e a atmosfera impecável criam uma experiência viciante. É um convite irrecusável para veteranos e novatos mergulharem nas Lands Between de uma forma totalmente nova, provando que a luta contra a escuridão é ainda mais gratificante quando compartilhada.