Desde que zerei Days Gone no PC em 2023, sabia que aquela experiência ia ficar de certa forma marcada. Foi intensa, cheia de ação, hordas enlouquecedoras (Minha parte favorita), mas com aquele gostinho de que poderia ter sido melhor em certos aspectos técnicos. Então, quando a versão remasterizada chegou ao PS5, não pensei duas vezes: fui direto conferir. Afinal, agora com DualSense, modos extras e suporte nativo ao console, a expectativa era ver uma nova camada nessa jornada pós-apocalíptica.
Sobrevivência com um novo fôlego (mas não sem tropeços)
A primeira coisa que me chamou atenção logo de cara foi o modo performance. Jogar Days Gone Remastered a 60 fps no PS5 é, sem dúvidas, uma das maiores vitórias dessa versão. Como alguém que veio direto do PC — onde rodei tudo no máximo com média de 100 fps usando uma RTX 2060, Ryzen 5 3600 e 16 GB de RAM em 1080p — eu senti certo incômodo quando testei o jogo no modo padrão, travado a 30 fps (embora as duas diferenças é relativamente quase irrenconhecivel de distinguir). Era como perder uma parte da alma do combate e da fluidez.
Por isso, quando ativei o modo a 60 fps, foi como se o jogo respirasse direito. Ainda assim, notei que em momentos de caos — principalmente no modo Horde Assault — parecia que havia quedas, mesmo sem um contador de FPS para comprovar. Nada drástico, mas perceptível para quem já viveu a experiência mais “solta” do PC. E nesse ponto, é decepcionante que o PS5 ainda sofra com quedas de performance em um jogo lançado originalmente em 2019.
Uma nova escuridão…
Visualmente, a diferença em relação à versão anterior é sutil. O que mais senti foi uma mudança no clima — literalmente. O jogo parece estar mais escuro, mais fechado, com uma iluminação que intensifica o medo à noite. Isso trouxe uma sensação nova de tensão, principalmente ao explorar áreas dominadas por Freakers.
Por outro lado, tive uma leve impressão de que as cores estão mais lavadas mesmo em monitor de entrada ou em TVs 4k. E isso não foi só impressão minha — essa estética levemente mais desbotada (mas bem pouca mesmo) dá um ar sombrio, mas também tira parte da identidade visual que funcionava bem no original. Em certos momentos, o jogo parece menos vibrante, menos vivo. Talvez seja uma escolha artística, mas não me convenceu.
Além disso, para quem já jogou no PC com tudo no maximo, o salto visual é praticamente inexistente. Texturas, sombras, detalhes de ambiente — tudo muito próximo do que já era oferecido em 2021. Nada de ray tracing, nada de modelagens refeitas. A iluminação parece levemente ajustada, mas nada que justifique um rótulo de “remaster” com força.
DualSense: o poder que não veio
Um dos pontos que eu mais estava ansioso era o uso do DualSense. E aqui entra um sentimento misto. Em alguns momentos, especialmente durante tiroteios e aceleração da moto, há uma resposta tátil bacana. Você sente o peso do mundo, a trepidação da estrada, o impacto da pancada.
Mas ainda assim, senti que o controle poderia ser muito mais bem aproveitado. Os gatilhos adaptáveis são subutilizados, e o feedback háptico fica restrito a momentos óbvios. Faltou ousadia. A sensação é de que o DualSense foi implementado apenas para cumprir tabela, sem a criatividade que já vimos em outros jogos para o PS5/PC.
Horde Assault e Permadeath: respiro em meio ao caos
O que realmente brilha nessa versão são os novos modos de jogo. Horde Assault é simplesmente viciante. Um verdadeiro desafio que bota à prova tudo o que você aprendeu durante a campanha. É caótico, é frenético e traz uma rejogabilidade absurda. E o melhor: foi ali onde mais senti o impacto do remaster rodando a 60 fps (quando aguentava).
Já o modo Permadeath me pegou de jeito. A ideia de jogar Days Gone com apenas uma vida é quase poética. Você se sente inserido de corpo e alma naquele mundo devastado. Cada curva na estrada vira um risco, cada horda um possível fim. E sinceramente? Isso é incrível. Foi uma das adições mais bem-vindas, especialmente para quem já zerou e quer sentir tudo de novo com outro peso.
Ainda assim, são modos extras. Não há conteúdo inédito de história, nenhum novo arco, nem mesmo DLCs integrados de forma repaginada. Quem esperava surpresas narrativas ou revisitações de personagens vai sair com a mesma história de sempre, do mesmo jeito.
O som que salva
Mesmo jogando com a caixa de som do monitor/TV, a experiência com o áudio 3D foi surpreendentemente boa. A imersão sonora está bem calibrada. Ouvir os rugidos dos Freakers vindo de locais distintos, o som da chuva, ou a tensão crescente da trilha sonora contribuiu muito para o clima. Em alguns momentos, só pelo som, eu já sabia que estava com um certo ponto de medo.
Remasterização ou só um update com nome chique?
Olhando friamente, Days Gone Remastered é mais uma atualização robusta do que um remaster transformador. Se você espera texturas refeitas, modelagens novas, ou ray tracing, vai se decepcionar. E pior: algumas falhas da versão original continuam por aqui, como IA inconsistente e problemas de colisão pontuais. Falta polimento.
A verdade é que, 90% do tempo, a sensação é de estar jogando o mesmo jogo de antes — o que não é ruim, considerando o quanto ele é divertido. Mas fica claro que o foco foi adaptar para o PS5, com um tratamento de respeito, porém contido demais.
O mesmo apocalipse, com pesos novos (e antigos)
Voltar para o universo de Days Gone foi como revisitar um velho conhecido que trocou de roupa, mas manteve a mesma personalidade. A experiência agora é mais fluida principalmente nos consoles, mais densa em alguns momentos, mas não necessariamente mais bonita. A iluminação traz uma nova tensão, o áudio ajuda a construir momentos de pavor, e os modos extras realmente expandem a vida útil do jogo.
Ainda assim, como alguém que veio do PC, com um hardware intermediário e experiência sólida, senti que a principal mudança foi a performance — e mesmo ela não está 100% constante. O DualSense poderia ser mais ousado, as cores mais vivas, e as melhorias gráficas, embora presentes, são tímidas demais para chamar de evolução.
No fim, Days Gone Remastered ainda entrega aquele caos que a gente ama. Mas entrega com a sensação de que poderia ter ido muito além. E talvez, no meio de um apocalipse, o que a gente precisa mesmo não é só sobreviver — mas evoluir. E isso, infelizmente, o jogo faz só até certo ponto.