Em 2018 este jogo chamou atenção de muitos. Pouco depois de seu lançamento sua fama começou a se formar positivamente, sendo aclamado pela crítica e gerando fãs, instantaneamente, que começaram a fazer um belo trabalho de propaganda. Isso se deu pelo seu estilo original, mesmo pertencendo ao mais clássico de todos os gêneros, o plataforma.

Com uma mecânica incrível e favorável aos speedrunners, trilha sonora fantástica e um enredo que aborda problemas de saúde mental crescentes em nossa sociedade, como ansiedade e pânico, fizeram com que o título caísse nas graças de inúmeros jogadores (assim como este que está escrevendo este artigo), que, não somente se divertiram com Celeste, como também se identificaram com a protagonista.

Logo de cara recebemos o aviso de que a jornada não será das mais fáceis.

Celeste é um jogo do gênero plataforma, lançado em 25 de janeiro de 2018, sendo desenvolvido e publicado Matt Makes Games. Hoje encontra-se disponível para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch.

Abaixo segue trailer de Celeste:

Curiosidade 1: Celeste recebeu uma grande repercussão positiva, não somente da crítica, mas também de vendas. Segundo consta, até o final de 2018 já havia ultrapassado 500 mil unidades vendidas. Números expressivos para uma franquia estreante.

Bastidores

O diretor Matt Thorson.

O que sabemos é que a origem de Celeste se deu em uma Gamer Jam (evento que busca compartilhar ideias, criar e divulgar protótipos de jogos entre criadores em um curto espaço de tempo), na qual participaram seus produtores, Noel Berry e Matt Thorson. Nesta ocasião, no intervalo de quatro dias, conseguiram apresentar um título totalmente jogável com a base do que seria o jogo final. Seu objetivo era valorizar principalmente reflexos, velocidade e precisão, recompensando aqueles que visam bater seus recordes em futuras partidas de um mesmo game. O interessante é que este minigame está desbloqueável dentro da versão final do jogo.

Abaixo segue imagens do minigame desbloqueável que deu origem ao jogo Celeste.

As principais influencias para Celeste vieram dos jogos: Towerfall, título este produzido anteriormente por Matt Thorson; Super Mario Bros. 3 de Nes; e do recente Super Mario Maker, que estava sendo jogado incansavelmente pelos programadores durante o desenvolvimento do game.

Durante o desenvolvimento do jogo partes de seu gameplay foram demonstrados pelo Twitch, o que aumentou as expectativas sobre o título. Porém, muitos já afirmavam quanto a provável, excessiva, dificuldade presente durante a campanha de Celeste. Quanto a isto Thorson afirmou: “Ao desenvolver a lógica de plataforma, nós criamos amplas possibilidades para que o jogador escolhesse a melhor chance possível de sucesso, como escorregar pelas bordas, ao contrário de pular diretamente. Tudo isto faz parte da sensação de jogo que estavam buscando”. Ou seja, cabe ao jogador saber qual a melhor estratégia ser utilizada em determinado momento, que logo a dificuldade elevada não estará mais presente.

O carisma da personagem inspirou muitos fora do jogo.

Curiosidade 2: Um detalhe que enche nossos peitos de orgulho está no fato que brasileiros estiveram ativamente presentes na criação deste que foi um dos jogos mais premiados em 2018. Trata-se do estúdio indie de São Paulo, Miniboss. Seus três integrantes são: 1) Amora Bettany, que foi responsável por parte do design artístico de personagens, artes e localização do roteiro (incrível este último por sinal); 2) Heidy Motta: é a gerente de operações do estúdio, colaborando com as relações públicas e mídias sociais do título; e 3) Pedro Medeiros: responsável pela “pixel art” de Celeste. De nossa parte, ficam os nossos parabéns pelo belo trabalho.

O Miniboss: Pedro Medeiros, Heidy Motta e Amora Bettany.

Enredo

Abaixo vamos tratar sobre o enredo de Celeste, envolvendo interpretações daquele que aqui escreve. Aqueles que ainda não tiveram o prazer de jogá-lo podem ler sem o risco de conhecer spoilers relevantes que afetem a diversão da campanha.

Tratar de assuntos polêmicos de uma forma magistral fez Celeste ganhar, no GOTY, o prêmio de Melhor Jogo de Impacto.

Não é comum eu destinar um subtítulo de meus artigos para o enredo de um jogo do gênero plataforma, porém, Celeste merece um pouco desta atenção. Aqui vamos além do simples conceito de salvar uma princesa ou acabar com os planos de um cientista louco. Neste jogo, sua protagonista, Madeline, sofre de males comuns na sociedade moderna, como depressão, ansiedade e pânico, e acredita, mesmo sem saber exatamente o motivo, que após alcançar o topo da montanha sua vida passará a ser mais leve e tranquila.

A dificuldade respiratória é um dos principais sintomas de uma crise de pânico.

No início da aventura vemos a jovem protagonista buscando escalar o monte de nome Celeste. Logo encontra uma senhora de idade bastante excêntrica e misteriosa que vive na base do monte, que dá o conselho de não seguir com a escalada. Ignorando o aviso, encontramos, em uma cidade abandonada, um viajante bastante divertido chamado Theo, personagem este que ajuda bastante com a narrativa do jogo, assim como tantos jogos modernos nos ensinaram.

Logo no começo da aventura nos deparamos com o carismático Theo. Personagem que ajuda bastante na narrativa do jogo.

Durante esta difícil jornada percebemos, assim como o esperado, que a montanha Celeste não é um local simples que apenas está localizado a mais de 2000 metros acima do nível do mar. Há uma espécie de magia não explicável pairando no ambiente, capaz, até mesmo, de criar uma materialização dos pensamentos ruins que assombram nossa protagonista, assim como gerar monstros e fantasmas de seres que anteriormente viviam no local.

Dizem que é no silencio pleno que nossa consciência tem liberdade para gritar.

Em toda a aventura vemos mensagens otimistas relacionáveis à luta de Madeline contra seus graves problemas de saúde, demonstrando que com força e determinação eles podem ser superados por aqueles que enfrentam estes males.

Dicas para superar as crises surgem durante a jornada.

A narrativa ficou ótima, com cenários ao fundo em constante mudança, NPCs que ajudam a nos colocar no clima do jogo e entender melhor os problemas que fazem a protagonista sofrer, além de alguns arquivos, no melhor estilo Resident Evil, mostrando a vida das pessoas naquele local antes de nossa chegada. Tudo se dá de uma forma equilibrada: sendo informativo, divertido e nada cansativo. Um verdadeiro exemplo a ser seguido, assim como Messenger, em futuros jogos de plataforma em duas dimensões.

A aparição do NPC Oshiro é um dos momentos mais marcantes na aventura.

Curiosidade 3: Algo interessante que alguns fãs deste jogo ainda não sabem é que a montanha Celeste é real, e assim como descrito no jogo, está localizada no Canadá, mais exatamente na Ilha de Vancouver, na Colúmbia Britânica. Algumas curiosidades sobre o local são: 1) sua altitude é de 2041 metros (1000 a menos que no jogo); 2) Em 1934 Jack Horbury e Jock Sutherland foram os primeiros a conseguir alcançar o cume do monte; e 3) Sua escalada é permitida pelas autoridades Canadenses, ou seja, assim como no jogo, vocês também podem. E aí? Alguém se aventura?

Imagem real da montanha Celeste. Dizem que não existem os templos e o Sr. Oshiro. Infelizmente.

Fases

Abaixo vamos conhecer os três primeiros capítulos de Celeste, são poucos mas o suficiente para se ter uma boa ideia do que se trata o jogo e também para evitar o exagero de informações para aqueles que ainda não jogaram. Vale lembrar que as fases podem ser jogadas mais de mais uma vez com diferenças significativas.

Uma visão panorâmica de Celeste nos faz perceber as fases pela quais iremos passar.

Capítulo 1 – Cidade Abandonada: Após a apresentação de um breve prólogo começamos a primeira fase. Trata-se de uma cidade fantasma que no passado era localizada ao pé da montanha Celeste. O interessante é que aparentemente era bastante próspera, considerando o número de grandes prédios existentes no local. O cenário nos faz pensar, o que será que aconteceu ali para estar tudo tão destruído? No gameplay começamos escalando cenários vazios de obras inacabadas, havendo um tipo de pseudo-tutorial, em que nos são apresentadas as mecânicas naturalmente pelo level design, sem um exagero de informações na tela ou quebras de ritmo, a dificuldade é tranquila, havendo um mínimo de exigência nas habilidades do jogador.

A primeira fase já nos apresenta a base do que será toda a aventura.

Capítulo 2 – Terreno Antigo: Nesta segunda fase estamos em um tipo de construção que segue para o interior da montanha, nos faz entender que no passado pessoas se instalaram nessa região em busca de algo que poderia haver dentro de Celeste. Aqui a sensação de solidão aumenta, o que provavelmente fez “materializar” os medos de Madeline. Logo no começo percebemos um dos principais elementos do jogo, o fato de cada capítulo apresentar uma mecânica inédita quando comparado com o que vimos até aquele momento.

Na segunda fase já nos são demonstradas mecânicas inéditas durante a aventura.

Capítulo 3 – Resort Celestial: Trata-se de uma das fases mais interessantes de toda campanha. Aqui chegamos a um hotel falido e que foi abandonado há muito tempo. O interessante é que logo na entrada nos deparamos com Oshiro, o antigo concierge deste estabelecimento que um dia já foi de muito luxo e com renome. Em seu gameplay percebemos que o resort é enorme, o que gera momentos próximos as estilo metroidvania, com idas e vindas na busca por chaves e alcançando locais que antes não eram permitidos.

As chaves e “arquivos” encontrados  nos remetem a momentos mais próximos dos Metroidvanias.

Curiosidade 4: A crítica foi muito favorável ao sucesso de Celeste. Além de receber nota máxima em vários dos principais sites do mundo, o título recebeu inúmeras indicações e prêmios ligados ao mundo dos games. Na premiação mais famosa da atualidade, The Game Awards, concorreu em: Melhor Jogo do Ano; Melhor Trilha Sonora; Jogo Mais Impactante e Melhor Jogo Independente, sendo que venceu nas duas últimas citadas.

Análise Técnica

Os gráficos do título são o único ponto polêmico do game para alguns jogadores, já que utilizam o famoso pixel art, simulando as imagens de um jogo “8 bits”, porém muito acima do que era possível ser feito naquele período. A direção de arte está ótima, com personagens carismáticos e atraentes, tanto para um público infantil, quanto adulto.

A linda simplicidade da pixel art em grande estilo.

A dificuldade pode ser um ponto controverso, pois apesar de morrermos inúmeras vezes (tipo centenas ou até milhares de vezes) há checkpoints constantes em cada tela, assim como as já esperadas vidas infinitas. Ou seja, morremos sim, mas depois de algumas tentativas aprendemos a forma correta de superar determinado desafio, prosseguindo com a aventura. Fora estes detalhes é inegável que o título possui uma dificuldade superior a da maioria dos títulos da atualidade, principalmente aqueles que buscam os seus 100%.

O título chega a ter algumas lutas contra chefes, mas na prática acabam sendo elementos da fase.

A Jogabilidade em Celeste é um de seus pontos fortes, com respostas incrivelmente rápidas, podemos escalar paredes, fazer walljumps e realizar dashs para alcançarmos os lugares desejados, todo erro é nossa culpa, não havendo como culpar a máquina. Durante a aventura mecânicas inéditas são apresentadas a todo momento, não deixando a experiência cair em algo entediante. Há quebra-cabeças para conseguirmos os corações azuis, necessários para os chamados 100%, e não são muito intuitivos, obrigando um empenho por parte dos jogadores. Aqui destaco que, apesar de haverem poucos inimigos na campanha, em determinado momento podemos controlar um deles antes de sua aparição, isto foi feito para conhecermos suas habilidades, forma de movimentação e vulnerabilidades. Simplesmente genial, de forma que sequer lembro de algum dia ver um jogo com esta mesma mecânica de tutorial.

Alguns quebra-cabeças exigem um poucos dos jogadores.

Tempo de campanha em uma primeira tentativa será de umas 10 horas aproximadamente, isto se o jogador passar um bom tempo em busca dos morangos e morrer inúmeras vezes, como o esperado. Porém, este tempo pode ser muito estendido devido ao alto fator replay que o game possui, uma vez que além de colecionáveis bastante escondidos, há fases inéditas, chamadas lado B (e quem sabe algo mais), que podem ser desbloqueadas. Para os fãs haverá bastante tempo junto a este título.

O Lado B são fases desbloqueáveis com dificuldade ainda maiores do que as originais.

A diversão como já pudemos conferir é enorme, com controles bastante responsivos, trilha sonora motivadora e enredo que consegue nos prender até o último momento, não será raro encontrar um jogador que tente alcançar os 100% do jogo. É o tipo de game em que quanto mais jogamos, mais hábeis ficamos, o que, logo, nos faz querer jogar ainda mais.

A busca por todos morangos, símbolo de Celeste, nos rendem muitas horas caso queiramos encontrar todos.

A trilha sonora de Celeste é incrível e merece muitos elogios, sendo composta por Lena Raine (tendo trabalhado anteriormente em títulos como Guild Wars 2), as faixas combinam muitos com as fases e situações propostas durante a aventura. Esperamos ver seu nome mais vezes em créditos de jogos. Quanto aos efeitos sonoros, não há nada a dizer além de que fazem bem seu trabalho durante toda a campanha, sendo ótimos.

Curiosidade 5: No dia 09 de setembro de 2019 foi lançado um DLC gratuito de nome Capítulo 9: Adeus, com um incrível conteúdo que adicionava 100 novas telas para o game, além de acrescentar 40 minutos de faixas inéditas para o título. Na ocasião foi divulgado que Celeste não iria mais receber atualizações ou sequências, ao menos inicialmente, sendo que seus criadores querem se envolver em jogos inéditos a partir de agora. O título da DLC não foi por nada, não é mesmo?

Por enquanto é um adeus, mas quem sabe…

Conclusão

Celeste nos mostra que para jogos serem grandiosos e épicos não há necessidade de grandes orçamentos ou seguir uma moda (como títulos online ou FPSs), havendo comprometimento de boas ideias executáveis, pudemos conferir como uma obra de arte consegue cair nos gostos de público e crítica. Tudo indica que o título não terá uma sequência, conforme vimos acima, porém, ainda assim, podemos ter a segurança de que sua influência será sentida de forma permanente a partir de agora na história dos games.

Jogado no Playstation 4

Nota
Geral
9.0
celeste-o-melhor-jogo-indie-de-2018Celeste é um jogo de plataforma em que habilidade é somada com a determinação do jogador em querer chegar ao fim da aventura, assim como ajudar a protagonista a superar seus problemas. Uma aventura marcante do início ao fim, capaz de nos manter em foco durante toda sua jornada.