Little Nightmares conquistou jogadores ao redor do mundo não apenas pela jogabilidade ou pelo visual, mas principalmente pela atmosfera enigmática que permeia cada detalhe. A jornada dos personagens, marcada pelo silêncio e pela falta de explicações sobre sua origem ou objetivo, cria um universo perturbador que instiga a imaginação. Essa ausência de respostas claras alimentam interpretações diversas e mantém vivo o mistério.

O design exagerado e perturbador cria a sensação constante de ameaça, o suspense sem nunca revelar totalmente o que está por trás daquele mundo. O tom do título reforça o mistério ao não expor suas intenções ou pensamentos. Vulnerabilidades contrastam com resistência, transformando nossa jornada em metáfora aberta a múltiplas interpretações, como a perda da inocência ou a luta contra forças opressoras. Essa ambiguidade é o que sustenta o fascínio e o enigma do jogo.

Utilizando a narrativa ambiental para sugerir histórias sem nunca revelá-las por completo, permitindo a interpretação de cenários e detalhes de diferentes formas. Essa abertura gerou inúmeras teorias, como a ideia de que crianças servem de alimento ou de que o jogo simboliza ganância e exploração. Little Nightmares III mantém o auge da franquia de sucesso?

Uma jornada em dupla

Embora eu não seja alguém que costuma escolher filmes ou livros de terror, tenho grande apreço por jogos como Alan Wake 2.Gosto de atmosferas sombrias, cenários inquietantes e personagens perturbadores, mas só consigo lidar com a tensão desses jogos quando estou acompanhado. Fiquei empolgado com a aposta de Little Nightmares III para ser jogado em dupla, ainda que exista a opção de jogar sozinho. Joguei de ambas as formas e contarei minhas experiências.

Little Nightmares III não busca o mesmo nível de terror de jogos voltados para adultos, mas aposta em um clima surreal inspirado em pesadelos infantis. A proposta da série sempre foi colocar crianças em um universo que não lhes pertence, reforçando a sensação de fragilidade diante do desconhecido. Esse conceito fica evidente nos cenários onde os protagonistas rastejam por dutos, forçam passagens e escapam de criaturas colossais em um ambiente hostil e imprevisível.

Low e Alone

No jogo, assumimos o controle de Low e Alone, os novos protagonistas que buscam sobreviver. Alone possui uma chave inglesa e Low, utiliza arco e flechas. As habilidades distintas de cada um criaram situações de combate cooperativo: Low disparava contra criaturas cadavéricas que avançavam, e Low destruia suas cabeças com a chave inglesa antes de serem atingidos. Essa dinâmica exigia coordenação constante e, apesar da frustração causada pelas mortes imediatas em caso de erro, os pontos de salvamento frequentes mantiveram a experiência envolvente e estimulante.

Os comandos de Little Nightmares III são intuitivos, o que o torna uma escolha acessível para jogar em dupla, mesmo com alguém que não tenha tanta experiência em videogames. Grande parte das ações se resume a poucos botões, e o verdadeiro desafio está na coordenação e na precisão dos movimentos, especialmente quando a sensação é de estar sendo caçado dentro de um espaço imenso e hostil.

Enigmas sem grande complexidade

Assim como nas batalhas, os enigmas foram pensados para exigir a participação dos dois protagonistas. Embora não apresentem grande complexidade, tornam-se divertidos justamente pela necessidade de cooperação e comunicação entre os jogadores. Little Nightmares III também consegue unir de forma natural o ambiente ao design dos quebra-cabeças.

Em uma das salas, por exemplo, foi preciso arrastar uma caixa para alcançar uma área mais alta. O detalhe perturbador é que essa caixa fazia parte de um truque de mágica de serrar alguém ao meio, mas, em vez de ilusão, havia uma vítima real, cujos restos se espalharam pelo chão ao ser movida. Esses instantes evidenciam o estilo visual particular de Little Nightmares III, que mistura modelos vivos com uma iluminação pesada e sombria. O efeito da luz atravessando uma janela em um quarto escuro é marcante, assim como as áreas externas.

Segundo a produtora, o modo cooperativo foi o pedido mais frequente da comunidade, o que levou a Bandai Namco a estruturar Little Nightmares III em torno dessa proposta. Mesmo sem conhecer a fundo o primeiro jogo, já que “pulei” logo para o segundo, a experiência deixou uma boa impressão e despertou interesse em explorar toda a série. Para quem preferir jogar sozinho, haverá a opção de contar com um companheiro controlado por IA, recurso que foi cuidadosamente ajustado para manter o equilíbrio da experiência.

Sequências que testam a paciência e habilidades

Prepare-se para sequências furtivas mais elaboradas, em que foi necessário escapar de um homem misterioso e de sua estranha companhia. A incerteza sobre a natureza dessa dupla aumentou a tensão, e cada ambiente funcionou como um desafio para evitar ser capturado. A proposta cooperativa se faz presente e não existe a menor chance em um querer avançar mais que o outro companheiro de gameplay: caso você avance demais, não conseguirá observar o outro personagens e suas atividades, algo recorrente em alguns momentos de teste em dupla. A união faz a força é essencial até mesmo na visualização de puzzles e demais atividades.

Essa parte do jogo exigiu que compreendêssemos os hábitos dos moradores do cenário, observando o homem alimentar uma criança na cozinha e aproveitando o momento em que ele se distraía para avançar até o próximo ponto seguro. O progresso ocorreu por meio de várias tentativas, testando os limites de seus movimentos e ajustando a estratégia em conjunto com meu parceiro até alcançarmos o sucesso.

Percebe-se um foco maior em mecânicas baseadas no tempo, em precisamos executar uma ação simultaneamente ao outro. Esse tipo de situação não era o destaque principal anteriormente. Os erros e acertos tornam-se frequentes quando jogamos em dupla, já que a IA tende a realizar movimentos automáticos, sinalizando ações pré-determinadas pelo jogo. Em outra situação, o jogo nos separou: meu amigo caiu em uma gaiola e chamou a atenção do inimigo, enquanto eu procurava uma forma de libertá-lo. Após algumas falhas, conseguimos escapar!

Puzzles e mais puzzles

Durante a jornada, surgem quebra-cabeças cooperativos clássicos que exigem colaboração, como mover objetos pesados, impulsionar o parceiro para alcançar áreas elevadas ou acionar alavancas que abrem novos caminhos. Embora a mecânica seja familiar, a atmosfera sombria de Little Nightmares e a liberdade de exploração conferem uma identidade única à experiência.

A maior parte dos quebra-cabeças de Little Nightmares III segue o estilo dos jogos anteriores, mas alguns se mostraram confusos a ponto de gerar frustração. Essa sensação é ainda mais intensa no modo cooperativo, quando surge a dúvida se um dos jogadores está atrapalhando o progresso. Embora os desafios complexos façam parte da identidade da série, aqui eles parecem mais irritantes e acabam quebrando o ritmo da experiência.

A principal novidade no título é a adição de combates contra inimigos menores. Low utiliza um arco para ataques à distância, enquanto Alone empunha uma chave inglesa para finalizar as criaturas. O combate funciona como um quebra-cabeça extra, trazendo variedade à jogabilidade. Porém, a fragilidade dos inimigos e seus reaparecimentos constantes geram frustração, ainda que a mecânica torne a experiência mais dinâmica e abra espaço para novos tipos de desafios.

Alguns quebra-cabeças podem ser confusos e o combate exige várias tentativas, mas o maior problema está nos encontros com monstros: os reaparecimentos constantes e mortes injustas acabam tornando a experiência cooperativa desanimadora. Ainda assim, o pesadelo de Low e Alone continua promissor, já que a Supermassive conseguiu preservar o clima característico da série, mesmo que esse aspecto específico eu prefira evitar por enquanto.

Visual causa impacto e marca com atmosfera sombria

No PlayStation 5, Little Nightmares III ganha um impacto visual ainda mais marcante, explorando ao máximo a atmosfera sombria que caracteriza a série. A iluminação é um dos elementos que mais se destacam: feixes de luz atravessam frestas e janelas, criando contrastes intensos com as sombras densas que dominam os cenários. Essa técnica dá profundidade aos ambientes e reforça a sensação de vulnerabilidade, já que cada canto escuro pode esconder uma ameaça.

O estilo artístico inspirado em claymotion também se beneficia da resolução em 4K, revelando detalhes minuciosos nas texturas, como costuras nas roupas dos personagens, rachaduras em brinquedos antigos e superfícies desgastadas que parecem palpáveis. Como curiosidade, Claymotion é uma técnica de animação em stop motion que utiliza massinha de modelar para criar personagens e cenários. Os animadores moldam manualmente os modelos e os fotografam a cada pequeno movimento, gerando, na sequência das imagens, a ilusão de movimento

Os cenários são igualmente impressionantes. Em áreas externas, como o parque de diversões, a iluminação artificial contrasta com o céu chuvoso e nebuloso, criando uma atmosfera ao mesmo tempo mágica e perturbadora. Já nos ambientes internos, a riqueza de detalhes transmite decadência: paredes mofadas, pisos rangendo e objetos quebrados reforçam a sensação de estar preso em um pesadelo vivo.

A fluidez em 60fps garante que perseguições e momentos de ação sejam intensos e cinematográficos, enquanto o áudio 3D do console complementa os visuais, permitindo perceber sons e movimentos ao redor com precisão. O resultado é uma experiência visual e sensorial que não apenas impressiona tecnicamente, mas também amplia a imersão no universo grotesco e fascinante de Little Nightmares III.

Vale a pena jogar Little Nightmares III?

Little Nightmares III se apresenta como uma experiência única para todos que buscam mais do que simples sustos: ele combina atmosfera sombria, narrativa envolvente e mecânicas cooperativas que elevam a imersão a outro nível. A proposta de enfrentar cenários perturbadores em dupla, seja com um amigo ou com a ajuda da inteligência artificial, transforma cada desafio em uma jornada de cumplicidade e estratégia.

O jogo não se limita a oferecer enigmas e combates isolados, mas cria situações em que a comunicação, a coordenação e a confiança mútua são essenciais para avançar. Essa dinâmica faz com que cada vitória seja ainda mais gratificante, já que não depende apenas da habilidade individual, mas da capacidade de trabalhar em conjunto.

Nota
Geral
8.5
review-little-nightmares-iii-ps5Little Nightmares III não é apenas mais um jogo de terror, mas uma experiência cuidadosamente construída para envolver o jogador em todos os aspectos. Sua atmosfera sombria, aliada a uma narrativa instigante, cria um universo que prende a atenção e desperta a curiosidade a cada novo cenário.