Quando se pensa em maiores bilheterias do cinema de todos os tempos, provavelmente, você pensaria em franquias como “Avatar”, “Vingadores”, “Star Wars”, ou até o sucesso dos anos 90 “Titanic”. Provavelmente você não pensaria num filme animado, mas caso alguém te falasse que o quinto lugar no ranking das maiores bilheterias pertence à uma animação, é provável que nomes como “Toy Story”, “Frozen” ou “Divertida Mente” viriam à sua cabeça.
Mas o que é difícil de imaginar é que um nome como “Ne Zha” ocuparia tal posição. Mais difícil ainda idealizar que um longa não norte-americano estaria no top 5. Mas a grande verdade é que, sim, “Ne-Zha 2” (No Brasil, “Ne-Zha 2: O Renascer da Alma), uma animação chinesa, está acima de longas como “Star Wars: O Despertar da Força”, “Vingadores: Guerra Infinita”, “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa”, “Divertida Mente 2” e muitos outros filmes e franquias de sucesso estrondoso no mundo todo. Mas o que explica uma obra chinesa de um nome que ninguém ouviu falar, ter faturado tanto?
Primeiramente, o ocidente pode desconhecer o nome “Ne-Zha”, mas no oriente as coisas são bem diferentes, especialmente na China, país de origem de tal alcunha. Ne-Zha não se trata apenas de uma franquia cinematográfica, mas sim de uma figura mitológica muito conhecida e vangloriada por lá. O mito de Ne-Zha data de mais de 3000 anos atrás, e segundo a lenda, Li Jing, um general militar, esperava ao lado de sua esposa, Yin, seu terceiro filho, que numa anormalidade, já estava em três anos de gravidez.
Ao nascer, ao invés de uma forma humana, veio como um pedaço de carne, o que anunciava que o menino na verdade era um demônio. Ao atingir a forma humanoide, seus pais decidiram cuidar de Ne-Zha, mas com cuidados para não afetar a população que era contra a convivência de tal no meio da sociedade.
Este resumo serve tanto para a lenda chinesa, quanto para o começo do enredo do primeiro longa, “Ne Zha (2019)”, que retrata a origem do personagem e adapta o conto antigo. Agora, pense, a China é o segundo lugar mais populoso do mundo, não atoa, quando um grande blockbuster estadunidense vai para o país, é esperado que là gere uma receita enorme. Tanto que grande parte das maiores bilheterias do cinema, a maior parte vem do público chinês.
Junte isso tudo, com o fato do mito de Ne-Zha ser bem popular por lá (inclusive já tendo tido animações em 2d no passado) e pronto, tem a fórmula para o sucesso. Depois do fenômeno de Ne-Zha 2 no Oriente, é hora de nós brasileiros podemos conferir se a obra faz jus ao tamanho sucesso.
Beijing Enlight Media, em parceria com Chengdu Coco Cartoon e Coloroom Pictures, são os estúdios responsáveis pela adaptação da lenda Ne-Zha para uma animação com orçamento estrondoso, se igualando a estúdios como Illumination quando se diz respeito à qualidade da animação. Aqui no Brasil, o longa é distribuído pela A2 Filmes.
A continuação do original de 2019 é digna para fãs de Dragon Ball e animes de luta no geral, pois temos aqui cenas de ação estonteantes e cheias de adrenalina. Mas o curioso é perceber como a escala vai aumentando ao passar dos atos. Inicialmente temos um clima mais bobo e infantil, inclusive com diversas piadas com humor exótico dos chineses, com muito direito a um humor escatológico que pode agradar a criançada tupiniquim, mas que é total sintoma do tipo de comédia que se faz por lá.
Além das piadas em si, vemos diversas situações que são construídas de forma mais leve, o que faz parecer que é um filme completamente voltado para os menores de 10 anos. Mas não se engane, isso tudo é intercalado com uma história profunda, com relações entre personagens extremamente complexas que se assemelham até de fantasias como Senhor dos Anéis e Game of Thrones.
O tema “bem e mal” está muito presente no primeiro filme, assim como este, mas aqui com muito mais complexidade, dando contexto para cada personagem e a forma que se relacionam, e não ficando em caixinhas apenas de “heróis” ou “vilões”. Apesar disso, sim, há um antagonista principal, que se encaixa bem na palavra vilão, mas no restante, temos vínculos construídos de formas que conflitos são gerados de formas bem mais humanas, mesmo quando falamos de deuses.
E quanto mais essas relações são construídas, mais tensão é colocada, e mais interessante vai se tornando o escopo geral, inclusive com direito a uma cena bem emocionante no terceiro ato, com destaque para sentimentos mais genuínos e de apertar o peito.
Fora que as lutas são todas muito empolgantes e não estão lá apenas para fazer um espetáculo visual, mas são recheadas de sentimentalismo e profundidade temática.
A dublagem brasileira está magnífica, inclusive com o protagonista tendo uma voz muito semelhante à do original. Ponto fortíssimo para a equipe que realizou um trabalho excepcional.
Ne-Zha 2 é uma animação digna de seu título de maior animação de todos os tempos, e é uma franquia que tem potencial de se tornar triunfo no mundo todo, mesmo com o seu humor questionável, consegue se provar impactante o suficiente, basta saber se o resto do mundo vai a abraçar com o mesmo amor que o público chinês que tem um valor sentimental muito maior por ser parte de sua cultura. Mas felizmente, Ne-Zha não precisa do resto do mundo para ser sucesso, pois ser fruto do segundo país mais populoso do mundo, já o deixa entre os maiorais.
Basta ver até onde vai o potencial da China em se tornar uma grande potência para os cinemas em geral, e bater de frente com Hollywood. Será? O futuro dirá.