Por mais que a franquia Five Nights at Freddy’s tenha se tornado um fenômeno mundial, eu sempre fui aquele espectador de fora. Assistia vídeos, lia sobre as teorias, via gente se assustando na internet, mas nunca fui além disso. Nunca parei para jogar de verdade. Até que um certo título apareceu no meu caminho: Secrets of the Mimic. E foi justamente ele, o jogo que poderia ser considerado um spin-off, que me puxou para dentro desse universo. Não só me fisgou, como despertou em mim uma vontade genuína de explorar cada canto da história da franquia. Pela primeira vez, eu não queria apenas ver alguém jogando. Eu queria sentir o medo com meus próprios dedos.
Ecos de uma mente perturbada
A história me colocou na pele de Arnold, um técnico da Fazbear Entertainment que é enviado para um lugar que, honestamente, ninguém em sã consciência deveria visitar: a oficina abandonada de Edwin Murray. É 1979, tudo está aos pedaços, e o silêncio daquele lugar é mais ensurdecedor que qualquer grito. Edwin, o criador do protótipo conhecido como Mimic, desapareceu. Restou apenas a sua criação. E ela está longe de ser algo inofensivo.
O enredo me pegou não pela grandiosidade, mas pela melancolia. Existe uma tristeza constante em tudo que se encontra ali. Nas mensagens espalhadas pelos terminais, nos registros deixados para trás, no próprio ambiente — tudo carrega um peso que me fez pensar mais do que eu imaginava que pensaria jogando um FNaF. O Mimic não é só uma IA agressiva; é quase como um reflexo distorcido do seu criador. E conforme eu avançava, era impossível não querer entender mais. Quem foi Edwin? Por que criou isso? O que realmente aconteceu ali?
A conclusão talvez não seja a melhor que a série já entregou, mas é boa. É coerente, deixa um gosto amargo, e de certo modo, termina como a história começou: em silêncio.
Sobre viver com o medo
A estrutura da gameplay é simples, mas eficaz. A missão era explorar, resolver puzzles, encontrar colecionáveis e tentar não morrer. Inicialmente, parecia direto ao ponto. Mas a tensão vinha da forma como tudo acontecia. A cada canto, o Mimic poderia estar esperando. Ou pior: poderia estar me observando.
Os puzzles funcionam bem nas primeiras vezes, mas logo caem na repetição. Vira quase uma tarefa automática. Chega um momento em que você já sabe o que fazer antes mesmo de ver o próximo passo. Isso tirou um pouco da imersão. Em compensação, o minigame moon.exe, acessível pelo computador ao estocar certos itens, é uma adição maravilhosa. Simples, mas divertido, ele quebra a tensão na medida certa.
Mas o Mimic, ah… esse sim é a alma do jogo. Ele se manifesta assumindo a forma de outros animatrônicos, e cada um deles tem comportamentos únicos. Isso me fez mudar de estratégia diversas vezes, e trouxe aquele sentimento de que eu nunca estava realmente seguro. Teve momento em que eu simplesmente gritava. Outros em que o nervosismo era tanto que eu pausava o jogo só para respirar.
Por outro lado, o jogo tropeça justamente quando deveria brilhar. Em várias situações, o Mimic bugava. Ficava preso em cantos do cenário ou simplesmente parado em frente ao armário onde eu estava escondido por minutos. Não me entenda mal: o terror psicológico é ótimo, mas quando vira espera forçada ou comportamento quebrado, perde a força. Além disso, depois de um tempo, percebi que o jogo tinha um padrão. As mecânicas se repetiam. O medo foi virando previsibilidade. E, sinceramente, isso me decepcionou.
Um caçador de mil faces
Apesar das falhas técnicas, uma coisa precisa ser dita: a diversidade de animatrônicos é espetacular. Cada um tem sua identidade, sua ameaça, seu modo de agir. Mesmo todos sendo controlados pelo Mimic, a sensação é de que cada encontro era com um monstro diferente. Isso me manteve alerta. Nunca relaxei completamente. Toda vez que uma nova forma aparecia, minha cabeça gritava: “E agora?”
Essa variedade é o que manteve a experiência viva mesmo nos momentos em que os puzzles cansavam. E mesmo já tendo decorado parte do mapa, ainda era surpreendido. Não pelo que o jogo mostrava, mas por como ele brincava com minha ansiedade.
Bonito, mas com falhas
Visualmente, Secrets of the Mimic é um dos jogos mais bonitos da franquia. A estética dos anos 70 é muito bem aplicada. A paleta de cores, a iluminação, o design dos ambientes — tudo colabora para criar um clima pesado e imersivo. Mas, claro, tem seus tropeços. Em várias janelas, percebi claramente o uso de fundos 2D tentando se passar por 3D. E isso quebrou a imersão em momentos importantes. É bem feito, mas é óbvio. Quase como se o jogo dissesse: “finge que tá acreditando aí, vai”.
Os modelos dos animatrônicos são muito bem detalhados, e o design sonoro é de arrepiar. Os barulhos metálicos, os passos ao longe, os chiados nos terminais — tudo ajuda a manter o clima tenso. E aqui vai um ponto positivo importante: não é um jogo que abusa dos sustos fáceis. Os jumpscares existem, claro, mas a maior parte do tempo, o terror vem da espera. Do silêncio. Do não saber.
Estável como deveria ser
Joguei no PS5 e, tecnicamente, a experiência foi tranquila. Sem quedas de FPS, sem bugs graves, sem travamentos. O único incômodo ficou mesmo por conta da inteligência artificial inconsistente do Mimic em alguns momentos, o que imagino que seja algo mais de design do que performance.
O carregamento entre áreas é rápido, e mesmo com os cenários escuros e cheios de partículas no ar, a performance se manteve firme. Não tive do que reclamar nesse ponto. Só senti falta de uma maior complexidade no controle dos movimentos, mas talvez isso seja uma limitação proposital para manter a simplicidade de comandos que a franquia sempre teve.
O que ficou depois do medo
Secrets of the Mimic foi, para mim, mais do que um susto bem dado. Foi um ponto de virada. Me fez olhar para a franquia Five Nights at Freddy’s com outros olhos. Descobri que por trás dos jumpscares e do apelo popular, existe um universo profundo, misterioso, e muitas vezes, melancólico. O jogo não é perfeito. Falha em ritmo, repete ideias e perde o impacto quando deveria estar no auge. Mas também entrega uma experiência honesta, imersiva e, em alguns momentos, genuinamente assustadora.
O Mimic não é só um inimigo. É uma representação do ciclo de criação e abandono. É o eco de decisões erradas, de obsessões mal canalizadas. E talvez por isso, mesmo depois de desligar o console, eu continuei pensando nele.
Secrets of the Mimic é uma carta perdida dentro de uma caixa de arquivos antigos. E foi justamente por ser imperfeito, triste e estranho que ele me marcou tanto.