Capcom Fighting Collection 2 me fez pensar em quanta história dos jogos de luta ainda me escapava. Conhecia de nome vários dos títulos incluídos aqui e outros foram minha primeira experiência, claro, mas jogar mesmo — sentir o impacto de cada golpe, entender os sistemas, decorar comandos — era outra história. E foi justamente esse processo de descoberta que me fisgou: cada jogo parecia um fliperama esquecido, resgatado de algum porão de locadora com cheiro de nostalgia e poeira digital.

Diferente da primeira coletânea, focada no universo gótico de Darkstalkers, esta segunda leva é mais caótica — e isso é um elogio. São oito jogos que vão do 2D tradicional ao caos festivo dos party fighters 3D, todos vindos daquela fase experimental (e por vezes esquecida) da Capcom nos anos 2000. Um acervo estranho, mas fascinante.

Capcom Fighting Collection 2

Do fliperama direto pro meu PC

A coletânea traz os seguintes títulos:

  • Capcom vs. SNK: Millennium Fight 2000 Pro

  • Capcom vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001

  • Capcom Fighting Evolution

  • Street Fighter Alpha 3 Upper

  • Project Justice

  • Plasma Sword: Nightmare of Bilstein

  • Power Stone

  • Power Stone 2

Todos os jogos estão disponíveis nas versões inglesa e japonesa, o que é um ponto positivo enorme. Algumas versões trazem diferenças importantes, seja na apresentação, no balanceamento ou até em personagens disponíveis. Para os fãs mais dedicados, isso adiciona um valor real à coletânea.

Confesso: vários desses jogos eu só conhecia de screenshots e vídeos antigos. Foi minha estreia com Plasma Sword, Project Justice e o curioso Capcom Fighting Evolution. Mesmo os dois Power Stone, cultuados entre fãs do Dreamcast, eram territórios inexplorados por mim.

Talvez por isso o impacto tenha sido tão intenso. Joguei como quem encontra uma caixa de VHS gravados da TV: nem tudo está em boa qualidade, mas cada fita guarda uma história que você não sabia que queria ouvir.

Meu favorito? O mais direto ao ponto

Entre tantos títulos cheios de sistemas elaborados e visuais estilizados, foi o primeiro Capcom vs. SNK que mais me pegou. Simples, seco, sem firulas.

O ritmo é acelerado, os combates são duros, e o sistema de Ratio traz uma camada de estratégia interessante: você monta seu time com até quatro personagens, mas precisa distribuir pontos de força entre eles — um personagem Ratio 4 é um chefão solitário; quatro Ratio 1s são uma gangue de peso leve. É um sistema direto, mas eficaz, e que encaixa perfeitamente no espírito de fliperama: entra, escolhe, luta. E isso, hoje em dia, é quase libertador.

Já a sequência, Capcom vs. SNK 2, é mais robusta: traz múltiplos estilos de combate, os chamados Grooves, cada um com seu próprio sistema de barra, movimento e especial. É um prato cheio para quem gosta de cavar fundo no gameplay, mas exige tempo e dedicação. Ainda assim, é um dos jogos de luta mais completos da Capcom — e um dos mais celebrados.

Capcom Fighting Collection 2

Um resgate honesto, mas sem firulas

Capcom Fighting Collection 2 entrega o essencial com capricho: filtros visuais, modo treino com hitboxes, saves rápidos, galeria recheada e trilhas clássicas. A interface é funcional, sem exageros ou animações desnecessárias — e isso não incomoda.

A galeria, aliás, é um dos pontos altos. São centenas de ilustrações, sprites, artes promocionais e músicas. Não tem material inédito, mas ver tudo isso reunido e bem organizado é um prazer para quem aprecia a história dos games.

O que senti falta foi de um pouco mais de curadoria editorial. Não há entrevistas, textos explicativos ou contexto para situar o jogador em relação aos títulos. Em coletâneas como a do Street Fighter 30th Anniversary, tínhamos uma linha do tempo, informações de bastidores, contextualização histórica. Aqui, se você não conhece Project Justice, por exemplo, vai passar bons minutos tentando entender quem são os personagens antes mesmo de se divertir com o jogo em si.

Nem todo jogo aguenta o tempo da mesma forma…

Essa viagem ao passado também escancara como certos jogos envelhecem mal. Capcom Fighting Evolution, por exemplo, é o elo mais fraco da seleção. Recicla sprites, tem sistemas desbalanceados e transmite uma sensação de “protótipo lançado às pressas”. Vale pela curiosidade, mas é difícil voltar depois da primeira hora.

Power Stone 2 é caos divertido: voadora, item maluco, cenários desmoronando. Ótimo para partidas rápidas, mas cansativo em sessões longas. E Plasma Sword… bem, é estranho. Tem seu charme retrô, mas sofre com controles travados e colisões confusas. Dá pra se divertir, mas não espere profundidade.

Mesmo assim, todos os jogos têm algo a oferecer — nem que seja só pela coragem de terem existido.

Capcom Fighting Collection 2

Desempenho sólido, com tropeço estranho no controle

Joguei no PC com um controle DualSense via cabo. Tudo rodou deforma tranquila: os jogos são leves, carregam rápido, os menus são funcionais, e o netcode com rollback funcionou surpreendentemente bem nas partidas online que consegui jogar — embora o matchmaking esteja longe de ser movimentado.

Mas um detalhe incomodou: os botões vieram invertidos. O controle foi reconhecido, mas comandos como A/B estavam trocados em vários títulos. Dá pra reconfigurar manualmente, mas isso não deveria ser necessário.

Vale a pena?

Depende do que você busca. Se jogou esses títulos na juventude, esta coletânea é praticamente uma cápsula do tempo. Mas se, como eu, está descobrindo a maioria deles agora, a experiência é mais arqueológica: garimpar relíquias, entender contextos, aprender com os erros e acertos do passado.

Capcom Fighting Collection 2 não é uma porta de entrada moderna para o gênero. É um museu interativo, às vezes bruto, outras vezes brilhante. Exige paciência, curiosidade e, acima de tudo, vontade de explorar uma era esquecida dos jogos de luta.

Um caderno rabiscado que ainda ensina

Jogar Capcom Fighting Collection 2 foi como folhear um velho caderno escolar que não era meu. Rabiscos confusos, notas incompletas, ideias abandonadas… mas também descobertas sinceras, traços de genialidade, fragmentos de uma época que moldou o que viria depois.

Nem tudo aqui é memorável, nem tudo funciona. Mas há algo de valioso nessa bagunça: ela mostra que a Capcom ousava, experimentava, errava — e mesmo assim criava coisas únicas.

Não é uma coletânea perfeita. Mas é necessária. Para quem quer entender o passado não só dos jogos de luta, mas da própria Capcom. E para quem ainda acredita que revisitar o passado pode ser tão divertido quanto mirar no futuro.

Nota
Geral
8
capcom-fighting-collection-2-review-pcCapcom Fighting Collection 2 é menos sobre perfeição e mais sobre preservação. Uma coletânea curiosa, imperfeita e essencial, que resgata um pedaço esquecido da história dos jogos de luta — e merece ser explorada com olhos e mente abertos.