Sea of Stars é o tipo de jogo que não precisa provar mais nada. Com uma base sólida, narrativa envolvente e gameplay inspirado nos clássicos, já conquistou seu espaço. Agora, com a DLC gratuita Throes of the Watchmaker, a Sabotage Studio entrega uma expansão que amplia o universo do jogo com mais conteúdo, novos personagens e uma ambientação que foge totalmente do esperado. O que começa como uma missão simples rapidamente se transforma em uma aventura dentro de um mundo mecânico, onde cada detalhe foi cuidadosamente pensado para desafiar e surpreender.
Neste review, analiso todos os aspectos da DLC: sua história, as mecânicas inéditas, o ritmo da exploração e como ela se encaixa dentro do que Sea of Stars já havia estabelecido.
A jornada de Keenathan
A narrativa da DLC começa quando a carismática capitã Klee’sa e sua tripulação de piratas pedem auxílio aos Guerreiros do Solstício. O foco recai sobre Keenathan, um personagem que, por uma razão curiosa, ainda não possui oficialmente um nome. A missão gira em torno da busca por uma forma de legitimar seu nome — e, para isso, o grupo precisa da ajuda da Joalheira.
Mas, como nada é simples nesse universo, o encontro com a Joalheira traz algo já esperado pelos hérois. Ela revela que só aceitará ajudar se os heróis entrarem em um mundo mecânico em miniatura, chamado Horloge, e derrotarem uma versão maligna de si mesma. Essa contraparte foi criada por um antigo parceiro que amaldiçoou uma engrenagem, extraindo dela toda a sua essência negativa e dando origem a uma entidade perigosa. O grupo precisa enfrentar esse desafio e limpar a corrupção de Horloge para alcançar seu objetivo final: garantir que Keenathan enfim tenha direito ao seu próprio nome.
A proposta narrativa é simples, mas eficaz. Dentro do universo de Sea of Stars, essa premissa inusitada e estranha eu diria, funciona perfeitamente, pois se apoia no carisma dos personagens e na maneira como o enredo é conduzido com leveza e personalidade.
Uma ambientação criativa e bem executada
O que mais chama atenção em Throes of the Watchmaker é o novo mundo de Horloge. Trata-se de um cenário completamente diferente do que o jogo base apresentou até agora. Aqui, tudo é movido por engrenagens, vapor, mecanismos automáticos e um senso estético que flerta diretamente com o steampunk — uma escolha que gera um contraste interessante com a ambientação tradicional de Sea of Stars.
É nesse mundo mecânico que a DLC se desenrola quase que por completo. A ideia de encolher para caber dentro de estruturas minúsculas é aplicada de forma inteligente e se conecta com a essência da DLC, que trata de elementos “pequenos” — como um nome — que possuem grande significado. O design visual mantém o padrão de qualidade do jogo base, mas abraça de vez essa nova identidade: repleta de rodas dentadas, trilhos, metais e engrenagens vivas. É um cenário que, apesar de visualmente atraente, pode parecer um pouco repetitivo em fases mais longas, especialmente nas áreas internas e mais escuras.
Ainda assim, Horloge tem seu charme. O mapa é bem estruturado, e os ambientes apresentam variedade suficiente para manter o interesse, com áreas temáticas que vão desde salões tomados por vapor até corredores controlados por mecanismos e armadilhas. É uma ambientação arrojada, que foge do convencional dentro do universo do jogo, acertando mais do que errando.
Mecânicas novas com foco em mobilidade e estratégia
Entre os pontos altos da DLC está a introdução de duas novas classes para os protagonistas. Zale assume o papel de Malabarista, enquanto Valere se torna uma Acrobata. Essas mudanças não são meramente estéticas: elas trazem novas habilidades e combos inéditos, o que transforma a dinâmica do combate e adiciona diferentes estratégias para o jogador explorar.
As habilidades são bem elaboradas e contribuem para manter o ritmo do jogo. O combate, que já era envolvente no título base, segue com o mesmo foco em timing e execução precisa, agora enriquecido com novas possibilidades. Em especial, o personagem inédito Arty, o Artífice, se destaca por introduzir uma mecânica própria de upgrades e ataques baseados em lasers (e meu favorito, tiros de canhão com trampolin, que temos que deixar a bola de canhão cair na cama elastica para voltar no inimigo). Ele é um robô engenheiro, e sua presença no grupo acrescenta variedade tanto na narrativa quanto na jogabilidade.
A experiência de combate continua divertida. A diversidade de habilidades, os comandos sincronizados e a chance de executar combos entre os personagens tornam cada encontro gratificante. Agora, com o novo modo cooperativo local para até 3 jogadores, o jogo ganha um tom mais social. Embora não conte com multiplayer online, o cooperativo local funciona bem e adiciona uma camada estratégica especialmente nas batalhas mais complexas.
Puzzles, minigames e ritmo de jogo
Uma das surpresas mais agradáveis da DLC está nos puzzles. Apesar de não serem excessivamente difíceis, eles exigem atenção e raciocínio ágil. Algumas áreas apresentam desafios criativos, especialmente relacionados às engrenagens e mecanismos que controlam partes do cenário. O ritmo é muito bem equilibrado: os quebra-cabeças surgem na medida certa, intercalando momentos de combate e exploração.
Também há novos minigames que aparecem durante a campanha, incluindo desafios mecânicos e interações com o cenário que demandam precisão e timing. O único ponto que poderia ter sido melhor é a variedade visual em algumas áreas do mapa, que podem parecer muito semelhantes depois de certo tempo de exploração.
Trilha sonora e desempenho
A trilha sonora continua sendo um dos grandes destaques do jogo. Composta por Eric W. Brown, a música mantém o tom épico e melódico que marcou o título base. A participação especial de Yasunori Mitsuda — conhecido por Chrono Trigger — em algumas faixas adiciona uma carga emocional que eleva ainda mais a atmosfera da aventura. As composições de Horloge têm uma pegada mais mecânica, com batidas repetitivas e arranjos metálicos que combinam perfeitamente com o ambiente.
No quesito desempenho técnico, joguei a DLC em um Ryzen 5 3600, com RTX 4060 e 16 GB de RAM em dual channel. O jogo rodou com extrema estabilidade, mantendo 177 FPS constantes em 1080p. Como esperado, Sea of Stars é leve, bem otimizado e roda tranquilamente mesmo em sistemas mais modestas. Durante toda a experiência, não encontrei bugs ou problemas técnicos.
Conteúdo adicional e duração
A DLC oferece mais de 8 horas de conteúdo inédito (alguns podem demorar muito mais conforme o ritimo dos Puzzles), o que é excelente considerando que ela é gratuita. Isso inclui novas áreas, inimigos, chefes, puzzles e até minigames exclusivos. É um conteúdo robusto, que se sustenta por conta própria e respeita o tempo do jogador.
Tudo tem propósito: não há momentos de enrolação ou “encheção de linguiça”. A narrativa avança em ritmo constante, os desafios são distribuídos de forma inteligente e o jogo sabe exatamente quando apresentar algo novo para manter o interesse. Mesmo sem ser uma expansão extensa, ela cumpre com precisão o que propõe: entregar algo novo e de qualidade dentro de um universo já estabelecido.
A engrenagem certa para continuar a jornada
Throes of the Watchmaker não tenta reinventar o que já funciona — ela refina. A nova ambientação traz frescor visual e mecânico, o combate permanece criativo e dinâmico, e os desafios equilibram bem exploração, puzzle e estratégia. Os elementos inéditos, como as transformações dos protagonistas e o personagem extra, se integram com naturalidade ao sistema do jogo, enquanto o mundo de Horloge surge como um capítulo consistente e relevante dentro da experiência maior.
Para quem já finalizou Sea of Stars e buscava um motivo sólido para revisitar esse universo, essa DLC entrega exatamente isso: conteúdo de qualidade, narrado com cuidado, tecnicamente estável e com personalidade própria.