Quando me deparei com Into the Dead: Our Darkest Days, não sabia bem o que esperar, talvez eu teria a mesma sensação de This War of Mine e foi basicamente isso. A ideia de um jogo de apocalipse zumbi não é exatamente algo novo no mercado, mas logo percebi que este título tinha algo de especial. Não é um jogo que tenta agradar. Pelo contrário, ele te joga de cara em um cenário devastador, sem explicações, e exige que você lide com as consequências de suas escolhas de uma forma implacável. E foi isso que me fez continuar — a crueza da experiência e a constante sensação de que estou apenas tentando sobreviver, sem nenhum glamour, sem nenhuma vitória fácil.

Uma História Simples, Mas Impiedosa

A premissa de Into the Dead: Our Darkest Days não é nada inovadora: um apocalipse zumbi, um mundo devastado e um grupo de sobreviventes tentando, como podem, manter-se vivos. Contudo, o que diferencia o jogo de tantos outros do gênero é o fato de que você não é o herói. Você é mais um, uma peça comum nesse quebra-cabeça de sobrevivência. E isso muda tudo.

O cenário é Walton City, uma cidade que parece ter sido esquecida ontem, mas ao mesmo tempo parece que o mundo já acabou faz muito tempo. A cidade está devastada, as ruas são perigosas e o que resta são restos de uma civilização que não teve tempo para ser lamentada. Aqui, não há épicos discursos ou missões grandiosas. Há apenas o silêncio, os sons distantes de portas rangendo, passos na escuridão e a constante sensação de que o pior está prestes a acontecer a qualquer momento. E esse clima de incerteza é o que mantém a tensão sempre alta.

Into the Dead: Our Darkest Days

A Mecânica de Jogo: Tensa, Sufocante e Realista

Logo no início, a jogabilidade me causou uma sensação de estranhamento. As movimentações parecem um pouco travadas, mas logo percebi que isso não era um erro. Into the Dead: Our Darkest Days não quer que você se sinta confortável ou no controle. O jogo te força a sentir-se vulnerável, cercado o tempo todo por uma ameaça constante que você não pode controlar por completo. Cada decisão é crucial, mas as escolhas que você faz não são fáceis.

A mecânica de gerenciamento de recursos e sobrevivência é o cerne do jogo. Você precisa gerenciar um grupo de sobreviventes, decidir quem vai sair em busca de mantimentos, quem vai ficar para proteger o abrigo e até quem pode carregar ou usar determinadas armas. A dinâmica do grupo é onde o jogo se destaca. Cada personagem tem suas próprias características, forças e fraquezas, o que adiciona uma camada extra de complexidade às suas escolhas.

O mais interessante é que o jogo não te trata como um herói. Não importa o quanto você faça de certo ou errado — você não é invencível. Cada personagem tem suas próprias limitações, e suas ações têm um impacto direto no grupo. E, no final das contas, você acaba descobrindo que fazer o “certo” muitas vezes não é uma opção. Into the Dead não tem medo de te punir por ser humano.

Personagens e Dinâmica de Grupo

O jogo faz um trabalho impressionante ao criar personagens que são mais do que simples números dentro de uma mecânica de sobrevivência. Cada um deles tem uma personalidade única, e essas características impactam diretamente o andamento do jogo. Abaixo, estão os personagens que eu mais gostei de conhecer e como eles se encaixam no cenário do jogo, e claro, existem mais personagens.

  • Hector: Um veterano endurecido pela vida, Hector tem um senso de liderança natural, mas seus traumas do passado o tornam uma figura controversa. Sua habilidade de manter a calma sob pressão é essencial, mas ele também pode ser frio e distante, dificultando suas relações com outros membros do grupo. Quando o grupo precisa tomar decisões difíceis, Hector é o tipo de pessoa que vai priorizar a sobrevivência, mesmo que isso signifique sacrificar outros. Sua falta de empatia pode ser tanto uma virtude quanto uma falha.

  • Kayla: Kayla é o oposto de Hector. Ela é empática, mas sua bondade acaba sendo um fardo em muitas situações. Ela tem dificuldade em tomar decisões impiedosas, o que pode prejudicar o grupo, mas também tem uma habilidade única de acalmar os outros, fazendo dela uma importante fonte de moralidade dentro do grupo. Sua presença serve como uma âncora emocional, mas suas falhas como líder são evidentes. Em momentos cruciais, como quando ela quase causou a morte de um dos membros do grupo, fica claro que nem sempre sua abordagem humana é a melhor.

  • Darrel: Um dos sobreviventes mais práticos e pragmáticos do grupo, Darrel é eficaz nas tarefas de construção e defesa, mas sua tendência a ser impulsivo pode colocar o grupo em risco. Sua resistência mental e física o torna um dos membros mais valiosos, mas sua falta de paciência com as falhas dos outros pode gerar tensões dentro do grupo. Ele não tem medo de tomar decisões difíceis, o que o torna uma figura crucial em momentos de crise.

  • Leo: Leo é a mistura entre resistência física e habilidade de combate, mas sua impulsividade o torna imprevisível. Em uma missão, Leo pode ser o herói, mas em outra, sua falta de autocontrole pode ser a causa de um grande erro. Ele é valioso no combate corpo a corpo, mas sua capacidade de se manter focado em longo prazo é limitada. No jogo, Leo é um reflexo do caos presente no apocalipse zumbi: em um minuto, ele pode ser um aliado confiável, e no próximo, uma ameaça para o grupo.

  • Daphne e Penny: Ambas são especialistas em tarefas essenciais para a sobrevivência do grupo. Daphne é uma excelente cuidadora, capaz de manter o abrigo e os sobreviventes em boas condições, enquanto Penny é mais voltada para a coleta de recursos. Juntas, elas formam uma dupla equilibrada que contribui para a sustentabilidade do grupo, mas, assim como os outros, elas também têm suas fraquezas. Daphne tende a ser excessivamente protetora, enquanto Penny pode ser excessivamente otimista, levando o grupo a fazer escolhas arriscadas.

Into the Dead: Our Darkest Days

O Sistema de Combate e Recursos: Cada Decisão Conta

Em Into the Dead: Our Darkest Days, não há espaço para heroísmo estilizado ou combates gloriosos. A sobrevivência aqui é dura e as batalhas são desordenadas. O que você tem são armas que quebram com facilidade, munição que se esgota rapidamente e, claro, a constante ameaça de hordas de zumbis. Cada bala que você dispara tem um custo, e cada golpe que você desferir será acompanhado pela angústia de saber que você pode estar desperdiçando preciosos recursos.

A mecânica de combate não é sobre limpar uma área de inimigos de forma rápida e eficiente. Em vez disso, trata-se de administrar sua saúde, recursos e armas de maneira eficaz. Um tiro mal calculado pode significar que você ficará sem munição quando mais precisar. Além disso, as armas são limitadas, e as que você encontra podem ser rápidas aliadas, mas logo se tornam ineficazes. Isso obriga você a tomar decisões rápidas e eficazes, sem tempo para hesitação.

O gerenciamento de bases é outra parte crucial do jogo. Cada vez que você encontra um novo abrigo, é possível melhorar a infraestrutura, mas os recursos são limitados. Você pode construir camas para os sobreviventes ou criar uma cozinha melhor para fazer comida para o grupo, mas essas escolhas têm consequências a longo prazo. Se você gastar os recursos da maneira errada, seu abrigo pode ser vulnerável a ataques de zumbis, que sempre estão na nossa porta tentando entrar, ou os sobreviventes podem não ter o descanso necessário para continuar as missões.

O Visual e a Trilha Sonora: Imersão no Caos

A estética do jogo é dominada por uma paleta sombria e opressiva. O design visual é sujo, e as sombras parecem engolir os cenários, criando uma sensação de claustrofobia constante. Cada ambiente tem uma história — há vestígios de uma civilização que já se foi, e cada detalhe contribui para a atmosfera de desolação. Não há espaço para beleza: tudo é quebrado, sujo e angustiante.

A trilha sonora é minimalista, quase ausente, mas isso funciona de forma brilhante. O silêncio é quase um personagem por si só, dando espaço para o som ambiente. O ranger de portas, o estalar de madeira, os gemidos ao longe — todos esses sons servem para aumentar a tensão. É um jogo que te faz sentir a ansiedade do silêncio, o medo do desconhecido.

Into the Dead: Our Darkest Days

Desempenho e Problemas Técnicos

Para testar o desempenho de Into the Dead: Our Darkest Days, utilizei um computador com as seguintes configurações: processador Ryzen 5 3600, uma RTX 4060, e 16GB de RAM, rodando a 1080p com tudo no máximo. Durante a maior parte da experiência, o jogo manteve uma média sólida de cerca de 103 FPS, o que é bastante positivo, especialmente considerando que a máquina utilizada não é de última geração, mas ainda assim oferece desempenho suficiente para títulos exigentes, o que sinceramente é bem esperado.

No entanto, o jogo não foi completamente isento de problemas de desempenho. Em algumas áreas mais fechadas, como interiores de casas ou durante combates intensos, houve quedas bruscas de FPS que afetaram a fluidez da jogabilidade. Esse tipo de queda não comprometeu totalmente a experiência, mas, em um título onde o timing e a precisão são cruciais, as oscilações de FPS podem ser especialmente incômodas. Em alguns momentos, o jogo parecia “engasgar” justamente quando a tensão estava mais alta, o que compromete a sensação de imersão.

Essas quedas não ocorreram de forma contínua, mas em momentos mais críticos, o que me fez notar que, apesar da boa performance geral, o jogo não está completamente otimizado para lidar com cenas de maior complexidade gráfica.

Sobreviver não é vencer. É continuar, mesmo em pedaços.

Into the Dead: Our Darkest Days me deixou esgotado. Não pelas mecânicas em si, mas pela somatória de pequenas pressões — o barulho de um móvel caindo em um cômodo vizinho, a quebra de uma arma no meio de uma missão, um olhar desconfiado de um companheiro que não dorme há dias. Cada decisão técnica tem um peso humano. Escolher quem leva um item ou quem vai ficar de guarda à noite não é estratégia: é instinto, é culpa. E isso muda tudo.

Tecnicamente, o jogo é mais robusto do que parece, mas ele tropeça justamente nos momentos em que deveria ser mais preciso. As quedas de FPS ocorrem onde não deveriam, e num jogo onde o tempo de reação significa vida ou morte, qualquer engasgo é quase uma sentença. E não é só uma questão de desempenho — é uma fratura na imersão. A tensão vem da atmosfera, mas precisa do ritmo certo pra funcionar. Quando isso falha, o impacto emocional também vacila.

Ainda assim, o que mais me marcou não foi o combate, nem os sustos. Foi o silêncio. O jogo entende que o horror não vem só do que está à sua frente, mas do que você deixa para trás. De quem você não conseguiu salvar. Da decisão que parecia correta e virou desastre. Sobreviver, aqui, é carregar peso — e ele não some quando a missão termina.

Se existe beleza no fim do mundo, Into the Dead a encontra no detalhe: no cansaço estampado em rostos que não pediram pra ser heróis, na hesitação antes de abrir uma porta, na esperança que insiste em sobreviver, mesmo quando já não deveria.

E se isso não te fizer parar por uns minutos depois de sair do jogo… talvez você não tenha jogado direito.

Nota
Geral
9
into-the-dead-our-darkest-days-review-pcInto the Dead: Our Darkest Days aposta em uma abordagem imersiva e crua da sobrevivência, com ênfase na gestão emocional e estrutural do grupo, combate punitivo com armas frágeis, furtividade constante e sistemas de construção que evoluem conforme a exploração. Não é polido em todos os aspectos técnicos, mas entrega uma experiência sólida e angustiante, que recompensa planejamento e castiga impulsividade. Para quem busca profundidade mecânica num apocalipse zumbi, é uma proposta instigante e desafiadora.